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O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), começou a divulgar os nomes dos seus escolhidos para compor seu governo no formato conta-gotas. A impressão que causou é que o presidente estava colocando em campo o que melhor saber fazer no campo da política: negociar. O que todos os analistas e líderes políticos esperavam era ver no governo petista o reflexo da campanha, ou seja, uma gestão montada com diálogo e disposição de encontrar moderação na escolha de nomes que representam a frente ampla, sem a qual, Lula não seria vencedor nas eleições.

Embora as escolhas de ministros viessem sendo divulgada pouco a pouco, com a impressão de que fazia parte de uma estratégia para satisfazer o desejo do mercado e do Congresso – caso de Fernando Haddad para Economia, Flávio Dino para Justiça e Rui Costa para Casa Civil – no último dia 22, Lula apresentou mais uma leva de auxiliares. 13 no total. Destes, cinco são petistas, que por ora, é a legenda com maior número de pastas.

As escolhas de Lula para os 21 ministérios já definidos parecem desconectas da campanha eleitoral e da importância política e para formação de sua base que essas decisões envolvem. Lula derrotou Jair Bolsonaro (PL) montando uma coligação com nove partidos – A maior que ele já conseguiu montar em todas suas cinco disputas a presidência. Após a vitória nas urnas, o petista conquistou novas alianças, e hoje conta com apoio de 14 siglas.

Ainda faltam 16 ministérios para que Lula possa escolha seus titulares – será um total de 37. Faltando uma semana para que o presidente tome posse, já se esperava que ele tivesse finalizados as negociações e acomodações que precisam para formar um governo de coalizão. Mas o que se percebe é que o petista não tem essa intensão.

16 ministérios ainda vagos parece um número elevado para, mas insuficiente para acomodar a quantidade de candidatos dos partidos aliados. Nas últimas semanas partidos como MDB, PSD e União Brasil intensificaram a pressão para terem espaço na formatação do governo. 

Não dar prioridade para formar um governo de coalizão pode representar problemas de curto prazo para o governo de Lula. Veja que a base que se dispõe a assegurar a governabilidade dos primeiros meses de seu terceiro mandato pode ser dividida em três grupos: a federação PT/PCdoB/PV; os sete partidos progressistas que se uniram para caminhar com Lula no primeiro turno (PSB, Solidariedade, Pros, Avante, Agir e federação PSol/Rede) mais o PDT, que aderiu após o naufrágio da candidatura de Ciro Gomes à presidência; e os partidos de centro e centro-direita (MDB, PSD e União Brasil) que se integraram à frente ampla a partir da vitória da chapa Lula-Alckmin.

Lula precisa fazer uma ginástica para acomodar tantas forças que divergem entre si e, também, internamente. Talvez, seu maior desafio esteja dentro do PT, que  tem muita dificuldade para ceder espaços de poder. Mas o presidente eleito precisa romper essas barreiras para dar ao seu governo a mesma visão de frente ampla que sua campanha teve, e foi vencedora.