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O prefeito de Goiânia, Sandro Mabel (UB), se reuniu com vereadores da base na tarde da última quarta-feira, 2, para apresentar projetos que serão enviados à Câmara Municipal, mas também para tratar de política. Durante toda a semana, os vereadores criticaram membros da Prefeitura, e Mabel usou a reunião para apaziguar ânimos e reafirmar apoio ao secretariado. 

Na véspera da reunião, o presidente da Câmara, Romário Policarpo (PRD), criticou o secretário de Engenharia de Trânsito, Tarcísio Abreu, por conta da instalação de radares não sinalizados na cidade. Já o líder do Executivo na Casa, vereador Igor Franco (MDB), cobrou respostas de uma diretora da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), que não estaria atendendo aos parlamentares. 

No início de junho, a secretária de Educação, Gisele Faria, já havia sido convocada para prestar explicações; este contencioso foi estabilizado com a condição de que a secretária passe a “atender” mais os parlamentares. O titular da Secretaria Municipal de Administração (Semad), Celso Dellalibera, foi “fritado” por vereadores que denunciaram suposta hostilidade de Dellalibera aos servidores. 

Indo além do valor de face dos argumentos — “trato difícil” e “disponibilidade” — há cargos e emendas, as razões de sempre.

Nos bastidores, se comenta que o ex-secretário-executivo de Mobilidade de Goiânia, Ciro Meireles, teve um conflito com Tarcísio de Abreu, e a solução preferida por alguns vereadores é o retorno de Marcelo Torrubia, atual assessor especial na Secretaria de Habitação e Regularização Fundiária. Aqui, trocando em miúdos, a disputa é pela indicação do cargo.

Em geral, quando os vereadores reclamam de não atendimento por secretários, querem esclarecimentos sobre encaminhamento e andamento de emendas parlamentares. Reportagem do Jornal Opção revelou que, até o final de junho, a Prefeitura de Goiânia havia repassado pouco mais de R$ 7 milhões em emendas; o total é de R$ 176 milhões previstos para o exercício de 2025. Os repasses realizados até agora correspondem a 3,9% do total previsto para o ano. Ao todo, 18 das 703 emendas aprovadas pelo Parlamento em dezembro de 2024 já foram encaminhadas. As áreas de Saúde e Educação são as principais beneficiárias das emendas, conforme exigência da lei. 

Em entrevista coletiva concedida após a reunião, Sandro Mabel afirmou que tenta pacificar a questão: “Neste tema de emendas, estabeleci horários para os secretários atenderem os vereadores, a forma que os vereadores devem vir ou não vir. Você não pode, com 30 vereadores na base, atender todo mundo que chega. Se os 30 resolverem vir no mesmo dia, não se faz nada; cada um tem prazo de três dias para pedir uma audiência. Se for uma coisa urgente, o secretário sai da reunião que tiver, atende rapidamente o vereador e encaminha. Essa parte de emendas, centralizamos tudo em um lugar só para que não fique todo mundo andando em tudo quanto é secretaria e vire uma confusão danada, então está tudo centralizado na secretaria que cuida das emendas.”

O prefeito declarou apoio a seu secretariado, ao dizer que os representantes das pastas passaram no ‘teste dos seis meses’, e que não há razão para exonerações por enquanto. Entretanto,  Sandro Mabel apresentou plano de metas e, que aqueles que não cumprirem as cobranças, serão cortados nos próximos seis meses. “Em dezembro, eu tenho certeza de que alguém vai dançar, é quase garantido”, disse o prefeito. 

Se em entrevista coletiva o prefeito reafirma apoio aos secretários, é certo que nos bastidores haverá puxão de orelha. Foi o que ocorreu com a secretária de Educação, Gisele Faria — do dia 5 de junho para o dia 10 de junho, a relação com vereadores passou a ser descrita na Câmara como “amena” e “positiva”. O que mudou foi a realização de reuniões, organização de horários e aquisição de celular com número exclusivo para atendimento aos vereadores.

Agora, o mesmo pode ocorrer com o secretário de Saúde, Luiz Pellizzer, e com o líder do Executivo na Câmara, Igor Franco. Mabel descreveu o conflito entre ambos: “O líder criticou o secretário de Saúde, ele tem um problema pessoal com o secretário de Saúde, porque o secretário dispensou uma pessoa dele, então ele ficou contrariado com isso e vem batendo há algum tempo. Eu vou conversar com ele sobre esse assunto, mas isso é natural. Eu não posso tirar a razão do secretário em algumas questões, mas também não posso tirar a dos vereadores.”

Os vereadores têm perspectiva diferente: nos bastidores, afirmam que Sandro Mabel deveria dar o exemplo ao secretariado. Acreditam que os secretários sentem-se empoderados pela postura ávida do Prefeito. “O Executivo precisa ter mais tato para atender pedidos simples dos vereadores: uma lâmpada que não coloca na porta do eleitor, uma vaga de UTI. Está faltando humildade”, afirmou um vereador em off

O conflito estava fadado a acontecer. De 2021 a 2024, a relação entre Paço e Câmara foi “desigual” (para usar um eufemismo). O fraco governo de Rogério Cruz (SD) foi ocupado por indicações de vereadores, e o ex-prefeito se manteve no poder concedendo aos parlamentares recursos sem critério. Mudar o balanço de força entre os Poderes significa crise inevitável.