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Não se trata da defesa de um governo que começou a pouco mais de um mês e ainda precisa mostrar empenho na execução de promessas. Trata-se da percepção de que as políticas públicas verdadeiras e necessárias ao País voltaram ganhar espaço no debate e na imprensa – fruto de uma agenda encabeçada pelo governo. 

Vamos nos amparar em uma pesquisa que sinaliza que a maioria dos brasileiros já vê com bons olhos essa nova agenda política. O primeiro levantamento da IPEC neste ano, 55% dos brasileiros têm a expectativa de que o quinto governo petista – terceiro de Lula – será bom ou ótimo. Apenas 21% – obviamente, o bolsonarismo radical – acredita que a gestão será ruim ou péssima. Outros 18% preveem o governo como regular. O levantamento mostra o aumento do otimismo com o PT de volta ao Palácio do Planalto – se compararmos com a anterior. No dia 5 de dezembro, o otimismo era cinco porcento menor. Na ocasião, 50% dos brasileiros tinham boas perspectivas com o governo Lula 3. Já os pessimistas chegavam a 25%.

A mais recente pesquisa Genial/Quaest divulgada na última semana mostra que Lula tem, nas suas primeiras semanas de governo, 65% de aprovação e 40% de avaliação ótima ou boa. Já 24% dos participantes consideram o governo Lula como regular, e 20%, como negativo. A pesquisa mostra que 65% dos brasileiros aprovam como Lula se comporta desde que assumiu a presidência da República.

Essas boas perspectivas ainda se apoiam nas promessas e projetos que deram o tom durante a campanha eleitoral. Mas podemos relacionar que o crescimento entre os que acreditam no governo Lula 3 encontra razão por notarem que as verdadeiras políticas se tornaram pautas. 

O marxista italiano Antonio Gramsci separa a “grande política” da “pequena política”, que seria aquela do dia a dia, da intriga, das disputas parlamentares, dos corredores e dos bastidores; enquanto a grande política estaria ligada à fundação e à conservação do Estado, à manutenção de determinadas estruturas econômico-sociais ou sua destruição. Percebemos, agora, que há na sociedade a valorização pela grande política. 

Um breve comparativo: nos primeiro mês de governo de Bolsonaro a pauta acabou sendo o relatório do Coaf com as movimentações financeiras na ordem de R$ 96 mil na conta bancária de um dos seus filhos, o Flávio Bolsonaro e a polêmica participação do presidente no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça – Bolsonaro falseou dados sobre meio ambiente e ainda cancelou uma coletiva a imprensa porque uma operação conjunta do Ministério Público e da Polícia Civil prendeu milicianos suspeitos da morte de Marielle Franco, em que um dos suspeitos teve parentes empregados pelo gabinete de Flávio Bolsonaro.

Há quatro anos, os brasileiros buscavam amparo para nutrir uma boa perceptiva de governo, mas esbarrava em denúncias, crise ética e um “bate-cabeça” – Bolsonaro chegou a falar do sobre o aumento do IOF, mas foi desmentido horas depois. As políticas públicas necessárias e aguardadas para aquele momento  – principalmente de viés econômico – foram deixadas em segundo plano. A disputa entre a ala militar e a ala olavista já tinha seus contornos, ocupando tempo e espaço dentro do governo. 

Por quatro as manchetes produzidas pelo presidente, suas equipe e familiares, eram mais para chocar, desviar os olhares das denúncias (as famosas cortinas de fumaça) ou ataques aos poderes e a democracia. 

Os primeiros dias – ou até antes  – do governo petista está em contraste ao cenário construído pela gestão Bolsonaro. Lula soube usar o ataque dos golpistas aos prédios dos Três Poderes para trazer para seu lado o judiciário, Congresso e até os governadores. Fez viagens para Argentina, Uruguai e Estados Unidos, todas com foco em restabelecer as relações internacionais, trazendo essa demanda para o centro das discussões – de forma positiva e retomando o que foi desconstruído nos últimos quatro anos.

Vale destacar que a política externa do novo mandato de Lula é bem recebida pela comunidade internacional. Ao que indica, as ações nesse setor serão altiva e ativa atualizada – para nos fixarmos ao termo cunhado pelo ex-chanceler Celso Amorim. O novo governo mostra para sociedade pautas relevantes em discussão com outras nações e nos faz crer que suas medidas partem da adoção de diretrizes pautadas no quarteto soberania-desenvolvimento-democracia-meio ambiente.

A agenda interna do governo também causa impacto positivo na sociedade. A classe trabalhadora vê ressurgir espaços que ocuparam antes do governo de Temer e Bolsonaro. Lula recebeu no Palácio do Planalto mais de 650 representantes de trabalhadores das mais variadas centrais e categorias. Ao lado do ministro do Trabalho Luiz Marinho, o presidente Lula anunciou a criação de uma Mesa Nacional para debater questões trabalhistas. Ainda que esteja no campo de “propostas”, esse é um tema que coloca em destaque um assunto que importa verdadeiramente para população. Trata-se de uma colocar na mesa de debate a verdadeira política.

Da mesma forma que recebeu os representantes de sindicatos e classe trabalhadora, o Lula abriu espaço para a educação. Depois de quatro anos sendo acuados, reitores de universidades voltaram ao Palácio do Planalto e receberam indicativos da retomada de investimentos na educação e ciência. Um indicativo positivo e, novamente, em contrate com o governo de Bolsonaro, que em 4 anos teve cinco ministros: Ricardo Vélez Rodríguez, Abraham Weintraub,  Milton Ribeiro e Victor Godoy Veiga (podemos ainda lembrar de Carlos Decotelli, que nem chegou a tomar posse devido às polêmicas envolvendo o seu currículo).

A política ambiental e indígena, que infelizmente chegou a agenda política do país em razão da crise humanitária vivida pelos yanomami, provoca uma enxurrada de debates sobre políticas públicas necessárias ao setor. Uma discussão tardia, que ficou paralisada por anos, mas que precisa ser feita. 

Falar de juros e tensão entre governo e Banco Central é chato, mas é infinitamente melhor do que manchetes que citam um presidente “imbrochável”, que ataca o judiciário e que transforma o velório de uma rainha em palanque eleitoral. 

Antes de completar dois meses do atual governo, uma coisa podemos comemorar: a volta da racionalidade do debate político no Brasil.