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O Brasil se tornou o mais promissor entre as grandes nações, muito em razão da importância agrícola e pecuária. O setor agropecuário brasileiro entendeu sua importância e se movimentou para estar na vanguarda. Parte desse sucesso deve-se ao modelo adotado que alia tecnologia ao campo. Esse novo movimento colocou o agronegócio como exemplo de modernidade.

O desenvolvimento do setor agrícola se deu a partir da década de 90, com o aumento de tecnologias, renda, produção, exportação e abertura de empresas. Foi aí que o Brasil assumiu a sua grande importância agrícola, líder em produção e exportação de alguns produtos. E só  conquistou essa posição devido aos investimentos em tecnologia, que aumentam a produtividade das fazendas e a rentabilidade do produtor rural. O agro brasileiro, no que se trata da produção, mostrou grande evolução.

Foi graças a modernidade implementada pelo setor, que chegamos a intensificação tecnológica que possivelmente irá alimentar o mundo. O resultado:  a participação da agropecuária no Produto Interno Bruto (PIB) calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA ), alcançou recordes sucessivos em 2020 e em 2021, com esse biênio se caracterizando como um dos melhores da história do agronegócio nacional. O PIB agregado do agronegócio em 2021 aponta que o setor alcançou participação de 27,4% – a maior desde 2004 (quando foi de 27,53%). 

Os números são volumosos e seguem uma crescente. Esse fator cria um ambiente favorável ao setor junto a classe política, pois se permite uma retroalimentação: a agropecuária ajuda a economia e o governo tende a investir mais no setor, criando um ciclo. E esse movimento, entre tecnologia, modernidade e produção agropecuária, mudou a ‘geografia da política nacional”.

Em um artigo publicado na Folha de São Paulo, o Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, ensina relações internacionais na UFABC, Mathias Alencastro, apontou que o “advento da China como principal parceiro comercial da América Latina foi o fenômeno mais estruturante do Brasil nos últimos dez anos. Enquanto os estados do Sudeste se arrastavam no marasmo da desindustrialização, a região Centro-Oeste passou pela fase mais transformadora da sua história.”

O pesquisador faz a correlação de como a economia mundial encontrou campo fértil no modelo de modernidade implementado pelo agronegócio. “Os bancos voltaram a atender o setor rural e celebram em suas campanhas o homem do campo. A Faria Lima ostenta seus empreendedores, mas quem faz rodar a máquina são os traders de commodities. A região (Centro-oeste) já manifestava a intenção de ir além da defesa de interesses setoriais e estender seu controle sobre a política nacional pelo menos desde 2016, alimentando as redes sociais e organizando o movimento evangélico”, argumentou Mathias Alencastro. 

O setor deu sinais de que havia entendido o jogo democrático e buscou se inserir – com legitimidade – no sistema político brasileiro. O agronegócio se alinhou com a política de centro-direita. Basta observar que partir de 2006, o Centro-Oeste e o Sul, regiões em que o agronegócio é muito forte, houve inclinação para centro-direita, com o PSDB, e depois mais fortemente para a direita, com Bolsonaro.

O setor se organizou para trabalhar suas pautas de forma legitima nas Casas de Leis. Escolheu a dedo seus representantes em entidades e financiaram seus candidatos para os representarem. Para se ter uma ideia, no comparativo com as últimas eleições gerais do Brasil, realizadas em 2018, o pleito deste ano marca o crescimento de 10% na quantidade de candidatos que declararam ter como ocupação atividades vinculadas à agropecuária. Segundo os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 696 profissionais ligados ao agro pediram registro de candidaturas neste ano. Há quatro anos, o número foi de 633.

O que ocorre é que parte do agronegócio –  frisa-se que não se aplica a todo o setor – se mostra a frente do seu tempo quanto o tema é produção e negociação, mas ainda guarda características arcaicas, que infelizmente tem se aplicado no tema política. Não assimilaram o jogo democrático, e ainda acreditam que em um sistema político como do Brasil ainda é possível ganhar no grito – ou com buzinas e vuvuzelas.

Fatos recentes dão clareza a essa observação. O primeiro está relacionado com a eleição presidencial. Desde o resultado das eleições, em 30 de outubro, manifestantes começaram um movimento de base antidemocrática –além de contestar o resultado das urnas, eles pedem intervenção militar. Esses protestos estão diretamente ligados a lideranças da agropecuária, conforme apontam os relatórios enviados por polícias de diversas esferas e pelo Ministério Público – com base nessas informações que ministro do Superior Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou o bloqueio de contas bancárias de 43 pessoas físicas e jurídicas acusadas de incitarem, apoiarem, participarem e financiarem os atos antidemocráticos. Parte dos empresários do setor aderiram a um discurso de que se Lula – o presidente eleito – assumir a presidência, o agro vai parar. 

O ato mais recente encabeçado por parte de empresários do agronegócio foi a invasão do plenário da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego). Uma ação que desprestigia  o setor que é base da economia local. Empurrões, confrontos corpo a corpo, depredação e ameaças interromperam a votação do projeto que prevê uma contribuição de até 1,65% paga pelo setor do agronegócio em Goiás. Prevendo que seriam derrotados e não sabendo jogar o jogo democrático, apelaram, mais uma vez, para o grito. 

O agro já compreendeu sua importância na economia nacional e fez por onde para se estabelecer. Sua postura é modelo para outros países. Mas alguns de seus líderes ainda não entenderam que ao plantar confusão e baderna, só se colhe retrocesso. Tentar impor descrédito do sistema eleitoral ou a posição política de representantes legitimamente eleitos é  o mesmo que colocar em xeque a própria ideia de democracia.