Lula chama de “adversidades” os escândalos que ele e o PT vêm protagonizando há anos, como o mensalão e os investigados nas Operações Lava Jato e Zelotes

Lula da Silva em vídeo para militantes e sem citar escândalos: “Erramos e temos de pagar pelos nossos erros”
Lula da Silva em vídeo para militantes e sem citar escândalos: “Erramos e temos de pagar pelos nossos erros”

Na manhã de sexta-feira, 13, o colunista abordou algumas pessoas com a seguinte pergunta: “você acha que a corrupção é o maior ou um dos maiores problemas do Brasil hoje?” Se a resposta fosse positiva, a segunda pergunta era “qual o partido a que você mais associa esse problema?”

Foram 16 pessoas abordadas, com 10 respostas que fecharam o placar (seis preferiram não opinar): sete associam corrupção ao PT, duas ao PMDB e uma ao PSDB — cu­ri­osamente, o PP, o que mais tem filiados investigados nos últimos casos de corrupção, não foi citado. Claro e evidente que a enquete nada tem de científica, tanto pela formulação quanto pela baixíssima amostragem.

Mas certamente serve para ilustrar em maior ou menor grau uma percepção que a população majoritariamente tem: o PT é o partido mais associado à corrupção, que nos últimos anos tem sido escancarada à exaustão pela imprensa.

Escândalos políticos velhos e novos desdobramentos são revelados praticamente todos os dias e tornaram-se rotineiros a partir do mensalão, que estourou em 2005, e da operação Lava Jato, a maior investigação sobre corrupção conduzida até hoje no Brasil. Em ambas, petistas graúdos estiveram e/ou estão envolvidos, alguns deles foram condenados e estão na cadeia.

E é esse partido que completou 36 anos de fundação no dia 10 passado. Diferentemente de outros aniversários, a cúpula petista sentiu que não há muito o que comemorar. No site oficial do partido, por exemplo, durante a semana o que ficou em destaque na maior parte do tempo foi a foto de um cineasta alinhado com as ideias petistas, com a chamada “Jorge Furtado: perseguição política a Lula é tentativa de enfraquecê-lo para 2018”.

De fato, nos 36 anos do PT o grande evento, se se pode chamar assim, foi um vídeo de menos de 4 minutos de duração, divulgado na internet, da maior e mais emblemática figura do partido, o ex-presidente Lula da Silva. Um Lula visivelmente abatido reconhece que o partido cometeu erros (“É certo que cometemos erros e quem comete erros paga pelos erros que cometeu”) e fala que o PT é o partido “mais importante da política brasileira”.

No mea culpa fajuto de Lula, ele não explica que “erros” que o partido cometeu. Ou seja, a mensagem do ex-presidente passa ao largo do problema que minou a credibilidade do partido, a corrupção desenfreada que tomou conta da política, patrocinada pelo PT e os aliados PMDB e PP, principalmente.

É esse problema que Lula não menciona, a corrupção, que desiludiu e decepcionou os brasileiros honestos, aqueles que não têm ligação com partidos e com política, e que querem apenas um governo minimamente ético e minimamente eficiente, o que o PT não conseguiu entregar nestes 13 anos de poder.

Daí se percebe que o vídeo de Lula foi endereçado aos convertidos, aos militantes petistas.

Em sua mensagem aos partidários, Lula insiste em jogar fumaça, em tentar mascarar a percepção cada vez mais nítida que a sociedade brasileira tem de um partido umbilicalmente ligado à corrupção.

Em vez de admitir de forma clara esses problemas, se defender e defender o partido das gravíssimas suspeitas que as investigações vão confirmando, Lula tergiversa dizendo que a inclusão da chamada classe trabalhadora na política incomoda setores mais conservadores da sociedade. “Isso incomoda porque a parte mais pobre da população, a parte mais humilde da população, ocupando um papel de protagonismo que não existia antes, afinal de contas, nós só existíamos para bater palmas, nunca para sermos aplaudidos.”

Na mensagem, o ex-presidente afirma que o PT foi o partido que “mais inovou” na política brasileira quando criou, nos anos 80, o chamado orçamento participativo. “Foi uma revolução”, disse.
Pois é, o tal orçamento participativo, que foi uma “revolução” no dizer de Lula (na verdade, uma forma de anular o papel dos legislativos, fortalecendo instâncias dominadas pelo PT)), nem é mais utilizado pelas administrações petistas. Em Goiânia, por exemplo, cuja prefeitura é comandada pelo petista Paulo Garcia, esse instrumento não é usado.

Lula disse também que o PT foi o partido que mais “fez política social na história” do país e que por isso “vive enfrentando os adversários conservadores que não aceitam o jeito petista de governar”.

Adversários conservadores?

Quem seriam? Os banqueiros do Itaú e do Bradesco, que nunca lucraram tanto? Os empreiteiros, eternos sócios do poder e como tais se tornaram sócios do lulopetismo, como os donos da Andrade Gutierrez, da OAS, da Odebrecht e outras, que presenteiam Lula com apartamento tríplex e sítio e fazem reformas milionárias nesses imóveis registrados em nomes de laranjas? Esses empresários que dão fortunas aos filhos do ex-presidente em troca de… de quê, mesmo?

No vídeo Lula não fala nada sobre as investigações das quais ele é alvo, que colocam sob suspeita a propriedade do tríplex no Guarujá (SP) e do sítio em Atibaia (SP). E por que não fala? Não fala porque não tem como explicar. Lula não fala porque o time de advogados a seu serviço ainda não conseguiu organizar uma linha de defesa minimamente crível.

Os escândalos protagonizados pelo partido e por ele mesmo, como o mensalão, a Operação Lava Jato e a Operação Zelotes, só são referidos de forma oblíqua por Lula, que os chama de “adversidades”. “Esse é o PT criado por você, criado por mim, criado pelo povo brasileiro, que se Deus quiser, apesar de toda a adversidade momentânea, ainda vai continuar sendo o grande partido da história desse país.”

Petrobrás é 2º maior escândalo do mundo

Procurador-geral Rodrigo Janot em manifestação ao STF: “Trama criminosa passou a ter sentido lógico e coerente” | Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil
Procurador-geral Rodrigo Janot em manifestação ao STF: “Trama criminosa passou a ter sentido lógico e coerente” | Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil

No dia do aniversário de 36 anos do PT, a imprensa trouxe uma notícia que deve ter causado um mínimo de alívio aos militantes e simpatizantes do partido. A notícia é que o es­cân­dalo da Petrobrás foi eleito o segundo maior caso de corrupção no mundo.

O alívio aos petistas se deu porque muitos tinham o gigantesco esquema de assalto aos cofres da petroleira nacional como o MAIOR do mundo. Como é “apenas” o segundo maior, eles podem pensar que ninguém percebe que uma autêntica estatal CorruPTbrás foi instalada na petroleira.

Na nota da Agência Globo está que o escândalo da Petrobrás foi eleito o segundo maior caso de corrupção no planeta em votação popular da ONG Transparência Internacio­nal. Com 11.900 votos, a petroleira só ficou atrás do ex-presidente ucraniano Viktor Yanukovych, que recebeu 13.210 votos pelo suposto desvio milionário de recursos para sua conta privada.

A ONG, com sede na Alemanha, faz relatórios anuais com índices de percepção de corrupção. No último, o Brasil apareceu na 76ª posição entre 168 países. A lista faz parte da campanha “Desmascare os Corrup­tos”, da Transparência Internacional.

A campanha começou em outubro e teve a participação de mais de 4,5 milhões de pessoas que indicaram casos de corrupção ao redor do mundo. O escândalo na estatal brasileira supera outros sete casos de grande repercussão. Entre eles, o da Fifa (1.844 votos), com 81 casos de lavagem de dinheiro comprovados, e o do ex-presidente do Panamá Ricardo Martinelli (10.166), que teria desviado US$ 100 milhões do dinheiro público.

Representante da Transparência Internacional, Alejandro Salas disse que uma nova fase da campanha começou no dia anterior e vai cobrar sanções sociais e políticas contra os envolvidos nos casos mais votados.

A ONG já está pedindo informações em oito países da América Latina, nos quais as empreiteiras investigadas na Lava Jato também têm contratos. Salas afirmou que o propósito é evitar que escândalos como o da Petrobrás se repitam.

A Transparência Internacional assinou uma carta de apoio às 10 medidas de combate à corrupção, apresentadas pelos procuradores do Ministério Público Federal no Brasil. A proposta precisa de menos de 200 mil assinaturas para alcançar a meta de 1,5 milhão e ser avaliada no Congresso.

Apoio por propina

Nos últimos anos, as coalizões políticas passaram a ser definidas a partir do pagamento de propina desviada da Petrobrás e não mais por afinidade partidária. Isso é o que as investigações da Lava Jato demonstram e é o teor de manifestação enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF), pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

As considerações de Janot foram apresentadas num parecer defendendo a rejeição de um recurso da defesa do ex-ministro petista Antonio Palocci pedindo que fossem anuladas as colaborações premiadas do doleiro Alberto Youssef e do lobista Fernando Soares, o baiano, apontado como operador do PMDB nos desvios na Petrobrás.

Janot registra que o recurso de Palocci tenta afastar a validade das delações “uma vez que os seus conteúdos estão sendo averiguados e, com base também neles, a trama criminosa perpetrada passou a ter sentido lógico e coerente, sendo elementos cabais de culpabilidade de diversos agentes mencionados por esses investigados colaboradores”.

Na defesa das delações, Rodrigo Janot aponta que o instrumento não tem “o condão de embasar, por si só uma condenação”, mas é uma ferramenta importante para o desfecho do crime investigado. “[A delação] possibilita o atingimento não só dos delinquentes de baixa colocação na estrutura organizacional mas, especialmente, daqueles que têm maior participação, verdadeiros chefes das associações.

Delação premiada

O procurador ainda faz uma ampla defesa dos acordos de delação premiada, que permitiram ao Minis­té­rio Público Federal e à Polícia Fe­deral avançarem nas investigações do esquema de corrupção da estatal. “Os fatos e delitos já apurados demonstram que a sociedade brasileira tem diante de si uma grave afronta à ordem constitucional e republicana. Pelo que até aqui foi apurado, o uso de apoio político deixou de ser empenhado em razão de propostas ou programas de partido”, afirmou.

Segundo Janot, “as coalizões deixaram de ocorrer em razão de afinidades políticas e passaram a ser decididas em razão do pagamento de somas desviadas da sociedade, utilizando-se, para tanto de pessoa jurídica [Petrobrás] que, até o início da operação policial, gozava de sólida reputação no mercado financeiro mundial”. Ele reforçou que a Lava Ja­to busca “desvelar a prática de crimes sem precedentes na história do país”.

O procurador-geral não explicita a qual coalizão política se refere, mas as investigações da Lava Jato envolvem principalmente os governos petistas do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff. Repor­tagem da “Folha de S.Paulo” lembra que no Supremo, 24 deputados e 14 senadores são investigados, incluindo os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), com seis inquéritos, e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com dois inquéritos e um pedido de afastamento do cargo.

O Partido Progressista (PP) é o que tem o maior número de políticos investigados: 32. O PMDB, principal partido de apoio ao governo Dilma e que apoiou a maior parte do governo Lula, tem 12 investigados. Do PT, são 10. Há ainda investigações de integrantes do PSB e PTB, que são da base governista.

Da oposição, há acusação de de­latores envolvendo membros do So­li­dariedade e do PSDB, como o presidente da legenda, senador Aécio Ne­ves (MG). Todos os políticos ne­gam ligação com desvios na estatal e participação em esquema de corrupção.

Planalto e PT esperam que Lula se defenda 

A situação de Lula da Silva vai se complicando a cada dia com o aprofundamento das investigações sobre tráfico de influência e enriquecimento inexplicável sobre ele e familiares. Também politicamente o torniquete vai apertando.

Na sexta-feira, 13, a imprensa no­ticiou que o PT e o Palácio do Pla­nal­to aguardam uma resposta de Lu­la sobre o sítio que ele usava em Ati­baia, no interior paulista, alvo de in­quérito da Operação Lava Jato, para traçarem uma estratégia de defesa do petista.

Para não esquecer: são pelo menos quatro investigações sobre o ex-presidente: Lava Jato (sítio em Atibaia), Triplex em Guarujá (pelo ministério Público de São Paulo), Zelotes (venda de medidas provisórias) e tráficos de influência em favor da Odebrecht.

Foi para isso que o conselho do Instituto Lula, formado por 36 integrantes, se reuniu na sexta-feira em São Paulo. O objetivo da reunião, marcada desde o ano passado, era decidir o planejamento para 2016, mas a expectativa era de que Lula finalmente falasse sobre o assunto.

A Lava Jato investiga se empreiteiras que participaram do esquema de desvios de verbas da Petrobras bancaram a reforma do imóvel em Atibaia.

Lula andou reclamando maior empenho da presidente Dilma Rousseff para defendê-lo. De acordo com integrantes do governo, ela tem dito que está disposta a ajudar, mas alega que não poderia fazer muita coisa além de manifestar solidariedade ao seu antecessor enquanto ele próprio não apresentar uma explicação definitiva para o caso. Dilma não tem expertise política, mas não é boba para embarcar numa defesa cega do seu criador quando nem ele consegue se defender.

Segundo reportagem do “Esta­dão”, na direção do PT há consenso de que proteger Lula é proteger o PT. O presidente da sigla, Rui Falcão, gravou vídeo e publicou texto em defesa do ex-metalúrgico, um ato de solidariedade foi marcado para a comemoração de 36 anos da legenda, dia 26, no Rio, e dirigentes têm tomado iniciativas pessoais em favor de Lula. Mas até agora Lula não deu uma posição ao partido sobre as suspeitas.

O PT abriu espaço ao ex-presidente no programa nacional de TV que vai ao ar no dia 23, mas até agora a direção não recebeu orientação sobre o que dizer em defesa do maior líder do partido, que está sob suspeitas de várias irregularidades.

A não defesa de Lula tem inquietado petistas. Alguns deles passaram a lembrar que o próprio Lula não defendeu de forma explícita companheiros condenados no caso do mensalão e que o sítio Santa Bárbara, em Atibaia, é uma questão pessoal, não partidária. As avaliações é de que Lula e seu entorno subestimaram as suspeitas.

Advogados com trânsito na cúpula petista reclamam que a defesa do ex-presidente Lula está sendo muito “reativa”, “amadora”, “emocional”, e que as respostas demoram, o que acaba desgastando a legenda. Será que tem peso nessa questão o fato de que o principal advogado de Lu­la, seu compadre Roberto Teixei­ra, também esteja envolvido na compra e na reforma do Sítio Santa Bárbara?

Setores do PT defendem a entrada de advogados renomados que tenham prestígio para “constranger” os setores do judiciário que estariam promovendo uma “gincana” por evidências com potencial de prejudicar Lula. Ou seja, por causa desse clima belicoso que os advogados de Lula instauraram, os investigadores estariam se empenhando ainda mais para achar provas contra Lula.

Nesse capítulo de defesa, outro complicador para o ex-presidente parece ter sido a contratação do advogado Nilo Batista, feita por pressão do PT. O criminalista adotou a estratégia oposta à esperada por advogados ligados a sigla: deu declarações “desastrosas” e acabou ampliando o desgaste político do petista.