Acorda, Carolina! As atividades culturais do Instituto Bernardo Élis

19 janeiro 2023 às 09h55

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Nilson Jaime
Carolina tinha os olhos fundos de tanta dor. Por causa disso não via a beleza evidente do mundo, expressa na bela canção “Carolina” (terceiro lugar no II Festival Internacional da Canção Popular – FIC, em outubro de 1967) do cancioneiro do então jovem “Velho Francisco”, o Chico Buarque:
“Lá fora, amor/ Uma rosa nasceu/ Todo mundo sambou/ Uma estrela caiu”.
Reporto-me à modinha de Chico a propósito de pessoas que apelam para o gratuito e manjadíssimo “esse grupo perdeu o foco, não aborda cultura”, toda vez que suas ideias, ou não são acatadas, ou até contestadas pelos pares no grupo de WhatsApp do Icebe. Atitude recorrente, diversas vezes, e por diversos autores.
Não obstante as indesejáveis fake News, as discussões inócuas, as provocações desnecessárias e os rudimentos próprios de grupos de WhatsApp (participo de 46 grupos, a maioria assim), o grupo cumpre o seu propósito de agregar e facilitar a comunicação entre os membros. É preciso ligar o desconsiderômetro se se quer conviver (e sobreviver) em redes sociais. Ademais, é necessário separar o joio, a cevada e o trigo.
O Instituto Cultural Bernardo Élis Para os Povos do Cerrado (Icebe), em seus brevíssimos três anos de criação, mantém intensa atividade cultural no contexto da cultura goiana, levada a cabo pelo ex-presidente Bento Fleury, por mim, como atual presidente, e pela diretoria e grande parte dos membros da instituição.
Durante a pandemia de Covid 19, quando todas as instituições culturais goianas cerraram suas portas, inclusive o Icebe, esta instituição realizou 30 colóquios virtuais mensais, abertos ao público, envolvendo quase uma centena de intelectuais como palestrantes, e com temática multidiversa.
“O tempo passou na janela/ só Carolina não viu”.
Foi realizada uma exposição sobre a “Vida e obra de Bernardo Élis”, no Centro Cultural Octo Marques, durante três meses, oportunidade para a higienização, troca de molduras e bases de quadros de grande parte das obras da Pinacoteca do Icebe, que contém Confaloni, DJ Oliveira, Iza Costa, Amaury Menezes, Luiz Jardim, Gomes de Souza, e dezenas de outros artistas.
Também foram realizados dois concertos pela Orquestra Sinfônica de Goiânia – OSGO (90 músicos): uma no Teatro Goiânia, e outra no Centro Cultural Oscar Niemeyer, esta segunda pelo Projeto Goiás +300.
“Eu bem que mostrei sorrindo/ Pela janela, Oi que lindo/ Mas Carolina não viu”.
Durante as três edições da “Quinzena Bernardo Élis” (15 a 30 de novembro de cada ano) foram lançados dois números da “Revista Sapiência” (em parceria com a UEG), publicações digitais com 49 artigos, sobre a obra de Bernardo Élis. O editor Ricardo Assis Gonçalves, professor da Universidade Estadual de Goiás e atual vice-presidente do Icebe, está preparando esses textos para a publicação de um livro, a ser apresentado a um dos programas de fomento em vigor.
Foi concedido o “Troféu Cariama” (“Cariama cristata”, a popular seriema) a três personalidades das Letras: Bariani Ortencio (2020), Horieste Gomes (2021) e Eurico Barbosa (2022).
Goiás +300
Enquanto Carolina se deprime, amarga e alheia ao mundo, o Icebe conquistou o direito de protagonizar, com o Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG) e com a Sociedade Goiana de História da Agricultura (SGHA), o inovador Projeto “Goiás +300, Reflexão e Ressignificação”.
Trata-se de um ambicioso projeto editorial que visa publicar 18 livros em três anos, envolvendo cerca de 400 autores e trinta instituições culturais.
Nos primeiros três livros já publicados, trinta dos 86 autores; os seis organizadores; os dois coordenadores do projeto; e o editor-geral, são membros do Icebe. Ademais, o box 1 da Coleção Goiás +300 homenageou Bernardo Élis, com dedicatória nos três livros: “A Bernardo Élis – nobre linhagem do Cacique Tibiriçá e Bartira – cuja literatura libertária denunciou injustiças e tributou os humildes vaqueiros, lavradores, ribeirinhos, homens, mulheres e meninos sertanejos: negros, indígenas, mamelucos, cafuzos, e todos os Povos do Cerrado, não olvidando as pessoas com deficiência, reconhecendo-lhes as necessidades e a razão”.
Tudo isso, ombreando com o IHGG – instituição nonagenária – um projeto dessa envergadura, evidencia a importância do Icebe na Cultura goiana da atualidade.
Há livros a se escrever, pesquisas por se fazer, a Casa-Museu Bernardo Élis a se visitar e cursos de formação de leitores a se ministrar para milhares de crianças. Todos, todas e todxs podem ser sujeitos ativos dessas ações. Ou, como Carolina, perder a rosa que floresce, a estrela cadente, e o samba passante na janela.