O Brasil tem seus “Beatles”: Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Milton Nascimento compõem o quarteto de ouro de uma geração inesquecível que mudou a história da música brasileira. Difícil dizer quem foi maior entre os quatro. A poesia de Chico? A melodia de Caetano? O ritmo de Gil? A voz de Milton? Tudo muito grandioso, tão grande que, estando de perto, no tempo, perdemos a dimensão.

Dos quatro, apenas Chico Buarque tem menos de 80 anos – ele nasceu em junho de 1944. Do trio octogenário, o mineiro nascido no Rio, Milton Nascimento, fez neste novembro sua despedida da vida artística com um apoteótico show em Belo Horizonte, no domingo, 13. Nele, homenageou Gal Costa, que havia morrido quatro dias antes – na mesma quarta-feira em que o Brasil perdeu o também cantor e compositor Rolando Boldrin, um arquivo humano da música caipira. Na terça-feira, 22, outro grande se foi: Erasmo Carlos, um dos expoentes da Jovem Guarda, tinha 81 anos e ainda estava na ativa.

Em menos de um mês, um por aposentadoria e três por morte, grandíssimos desfalques para os palcos em todo o País, para os mais variados estilos musicais que cada um representava. Apesar das diferenças artísticas, há pontos de intersecção entre todos. Erasmo, por exemplo, compôs “Meu Nome é Gal” para a baiana, que ainda assinava Maria das Graças, e consolidou a marca que a eternizaria a partir de então.

A primeira pergunta que pessoalmente cada um se fez, em algum momento após cada uma das notícias tristes, senão chocantes: eu cheguei a estar em algum de seus shows? A resposta particular deste colunista: só um deles, Milton Nascimento, na edição de dezembro de 2013 do projeto Música no Câmpus, da Universidade Federal de Goiás (UFG). Não foi uma apresentação memorável: ele parecia cansado e o show foi curto. Mas poder dizer que esteve em um show de Milton é reconfortante diante do que ele é como artista. Uma vaidade do bem.

Percebo isso quando me dou conta de que nunca vi nem Gal, nem Erasmo, nem Rolando Boldrin ao vivo. Vieram várias vezes a Goiânia, minha cidade, assim como eu poderia ter fuçado a agenda em alguma viagem a trabalho ou em férias para saber se teria, por acaso, uma apresentação deles durante a estadia. Mas há sempre aquela traiçoeira armadilha da protelação: “no próximo eu vou”.

Já que falamos de quartetos lendários, a morte de Gal incompleta os Doces Bárbaros, o “Fab Four” da Bahia, que ela formava com Caetano, Gil e Maria Bethânia. Os três, assim como Chico e tantos artistas talentosos, ainda estão vivos e na ativa. Se tiver a chance, não é bom esperar uma próxima vez. Aliás, nem mesmo se o cantor ou cantora ou banda for jovem: foi em uma dessas que eu, mesmo muito fã dos Mamonas Assassinas – sim, sou bem “universal” no gosto musical – deixei para vê-los “no próximo show”.