Tom Cardoso lança biografia da cantora Cássia Eller

18 outubro 2025 às 21h00

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Há artistas que são meros cantores e há artistas que são cantores-intérpretes. Os primeiros, mesmo quando muito bons, tendem a repetir a música assim como foi criada — portanto, sem reinventá-la. Os segundos, ao cantá-la, modificam-na — dando-lhe nova identidade. Coloração, digamos assim. Infunde uma nova alma, uma marca diferenciada.
Os grandes intérpretes se tornam, por assim dizer, “coautores” das músicas que cantam. Cássia Eller e Elza Soares se apropriavam das músicas que interpretavam.
Só não se pode dizer que Marisa Monte é a maior cantora viva do Brasil porque Maria Bethânia, com sua voz excepcional, anda por aí — arteira, faceira e vivíssima (Tom Cardoso deveria biografá-la).

Porém, quando se trata da música “E. C. T.”, Marisa Monte (https://tinyurl.com/mr2tff3a) perde de longe para Cássia Eller (https://tinyurl.com/bducsfz). Por quê?
Não que Marisa Monte a cante mal. Porque não canta. Canta muito bem. Mas, na voz de Cássia Eller, há uma bossa — uma força poética, um romantismo sem melodrama — que não aparece na canção cantada pela “rival”.
A canção, por sinal, é de Nando Reis, Carlinhos Brown e Marisa Monte. É poesia pura.
A música “Vá morar com o Diabo” ou “Sete Peles” (https://tinyurl.com/3x5hpt5u) ganha uma interpretação notável na voz de Cássia Eller — cuja força vocal contém a potência das vozes feminina e masculina, num mix extraordinário. A cantora reinventa a canção de Riachão (https://tinyurl.com/yc5rat5c). É uma nova música e com mais balanço.
O intérprete é assim: ao cantar uma música, dando-lhe uma nova identidade, torna a música dupla, ou seja, outra música. É o caso de “E.C.T.” (significa Empresa de Correios e Telégrafos) e “Sete Peles”.
Então, Cássia Eller era uma cantora e intérprete extraordinária. Pena que tenha falecido aos 39 anos — no auge de uma carreira musical bem-sucedida. Era cantora, compositora e (leio na Wikipédia) multi-instrumentista.

Nascida em 1962, a carioca morreu em 2001 — há quase 24 anos. Se fosse viva, teria 62 anos.
A morte, como mero pedacinho a vida, não encerra a história de um artista, ainda mais do porte de Cássia Eler. Cada época terá, portanto, sua Cássia Eler.
Mas chegou a hora de contar a sua história. O jornalista e escritor Tom Cardoso (autor de livros sobre Tarso de Castro, Nara Leão, Caetano Veloso e Chico Buarque) decidiu enfrentar a fera. O resultado é o livro “Eu Queria Ser Cássia Eller — Uma Biografia” (Harper Collins, 312 páginas).

Os que conhecem o brincalhão Tom Cardoso do Facebook, com suas crônicas divertidas, próximas do nonsense, não sabem que se trata de um pesquisador rigoroso.
A biografia de Tarso de Castro é excelente e põe os pingos nos is a respeito da criação de “O Pasquim”. A história deu muitos pais ao jornal debochado e inteligente. Mas o pesquisador mostra que o jornalista gaúcho é seu grande criador… com a ajuda de Jaguar e Sérgio Cabral. Outros chegaram depois e, ainda assim, se tornaram “donos” da história.
Cássia Eller era uma pessoa errante? Talvez — como todos nós. Como artista tinha, possivelmente, um norte — ou nortes. É mesmo a hora de contar sua história (histórias, no plural). De cara, confesso, estou louco para conhecê-la. Para entender sua complexidade como pessoa, mulher, artista.
“‘Eu Queria Ser Cássia Eller’ apresenta ao leitor a Deusa que encarnou nessa terra entre os anos de 1962 e 2001. Um abalo sísmico na vida de todos que conviveram e que se encantaram por ela. A menina tímida, a filha, a ovelha negra da família, a lésbica, a amante, a mãe, a cantora, a amiga, tudo junto e misturado”, escreve Maria Eugênia Vieira Martins, no prefácio.

Sinopse da Editora Harper Collins
“Conhecida como intérprete de sucessos como “O segundo Sol”, “Relicário” e “Por enquanto”, entre tantos outros, Cássia Eller se tornou uma das maiores vozes da música brasileira, cultuada até hoje.
“Em ‘Eu Queria Ser Cássia Eller’, o premiado jornalista Tom Cardoso traça a trajetória de Cássia, desde a infância no Rio e em Belo Horizonte até o estrelato nacional. Conhecemos sua família, como o pai, militar indisciplinado e mulherengo, que tentou ‘consertar’ Cássia; a mãe, cantora na juventude e uma das influências musicais da filha; Eugênia, o amor de sua vida, mãe de seu filho e sua companheira por 14 anos; Tavinho Fialho, o pai de Chicão, músico que faleceu antes do nascimento do garoto.
“Somos também levados às grandes apresentações de Cássia e às confusões em que se meteu durante elas, como a abertura do show dos Rolling Stones no Brasil — com direito a expulsão do palco.
“Com depoimentos de familiares, amigos e parceiros de trabalho, ‘Eu Queria Ser Cássia Eller’ é mais do que uma biografia, é um tributo emocionante a esta mulher que, com sua voz poderosa e seu jeito verdadeiro, ainda ecoa em nossos corações.”