Times Brasil demite jornalistas por causa de “renovação” ou faturamento baixo?
27 dezembro 2025 às 21h00

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A comunicação está sob ataque. Não um ataque a base de mísseis. Mas um ataque concorrencial.
Diz-se que a audiência da Globo, da Record, da Band e do SBT caíram. De fato, caiu e, é provável, deve cair mais, até permanecer numa faixa de estabilidade.
A audiência caiu devido à perda de qualidade da programação dos canais? Na verdade, não. A qualidade média da televisão brasileira é alta — tanto no jornalismo quanto no entretenimento (séries, novelas).
A queda de audiência tem a ver com o “excesso”, por assim dizer, tanto de informação quanto de entretenimento. Até pouco tempo, o mundo — notícias, divertimentos — chegava à casa dos telespectadores por meio da Globo, da Record, da Band e do SBT (além, é claro, dos jornais, como “Folha de S. Paulo”, “Estadão”, “O Globo”, Jornal Opção, “O Popular”). A partir do Brasil, ou seja, pela programação dos intermediários citados.
Não é mais assim. Agora, o mundo chega à casa e celulares das pessoas diretamente do mundo. Além da internet em si, há os canais de entretenimento de vários países, notadamente dos Estados Unidos. Alguém ainda assiste filmes na Globo? É provável, mas muito pouco. O indivíduo recorre diretamente ao streaming, como Netflix, Amazon Prime, Paramount, entre outros. Notícias podem ser buscadas em quaisquer lugares do planeta. Nem há mais a barreira das línguas. Porque as traduções são facilitadas.
Se há oferta em excesso, por preços não muito elevados, é evidente que a audiência das redes de televisão tradicionais continuará em baixa. Isto não significa decadência. Mas as empresas tiveram de se adaptar à nova realidade, enxugando os custos quase no osso.

Audiência baixa na GloboNews, na CNN Brasil
Costuma-se ressaltar que a audiência da GloboNews é baixa. Do ponto de vista dos números frios, é. Porém, se tiver um público qualificado, mesmo que não seja grande, é o relevante.
A programação jornalística da GloboNews é de qualidade. Seu jornalismo é, no geral, de primeira linha. Seus profissionais — repórteres e comentaristas — estão entre os melhores do mercado.
Então, por que a audiência não sobe? Porque não subirá mais. Para todos. É melhor aceitar uma audiência média, com um público qualificado, do que apostar em sensacionalismo para elevá-la. Porque não dará certo. Afinal, quem quer jornalismo “excessivo” — sensacionalista e raramente checado — não irá procurá-lo numa emissora séria.
O SBT News está no ar. O modelo, claro, é tanto a GloboNews quanto a CNN Brasil. Por enquanto, a qualidade é mediana. Mas, com profissionais gabaritados, tende a melhorá-la.
A CNN Brasil contrata e demite, com relativa frequência, em busca de um modelo que dê certo para o Brasil. A emissora é ruim? Não. É boa. Talvez o proprietário tenha acreditado que, dada a marca CNN, a emissora conquistaria o mercado de maneira ampla. O que não aconteceu. Aos poucos, rendeu-se à política da TV Globo, que passou a pagar salários menores e trabalhar com equipes não tão grandes quanto antes.
Como está o caixa da Times Brasil?
O empresário e jornalista Douglas Tavolaro apostou alto na Times Brasil. A marca Times é tão importante quanto a marca CNN. Com um ano no ar, a emissora pegou? Aparentemente não.
De acordo com o site Na Telinha, a Times Brasil, dirigida por Douglas Tavolaro (que montou a CNN Brasil), já demitiu 30 profissionais. Estaria desmontando a equipe? Não se sabe. Mas, para uma equipe que não é tão grande, pode-se falar em passaralho. Entre os demitidos estão o âncora Fábio Turci e a apresentadora Paula Monteiro, egressos da TV Globo.
O que está acontecendo com a Times Brasil? O caixa de Douglas Tavolaro estaria se esvaziando? O mais provável é que o faturamento da emissora não é satisfatório, o que pode comprometer, a médio prazo, o capital de giro da empresa. Daí o enxugamento de custos.
É muito difícil empresas de comunicação admitirem que não estão faturando bem e, por isso, a dificuldade de manter uma equipe de alto nível — que custa caro.
A respeito das demissões, a Times Brasil informou que os cortes são “uma evolução natural após o primeiro ano de operação da emissora”.
Num comunicado, a Times Brasil posicionou-se: “A Times Brasil/CNBC anunciou uma reformulação de sua grade de programação para 2026, reforçando o foco no noticiário diário do universo de negócios. A iniciativa representa uma evolução natural após o primeiro ano de operação da emissora, período marcado pelo amadurecimento do projeto editorial em alinhamento com a marca CNBC no mundo e pela leitura das expectativas do mercado brasileiro”.
É uma explicação, não de todo convincente, para as demissões em massa, se confirmadas que foram trinta.

