Sites que apoiam Lula dizem que a Folha de S. Paulo apoia Tarcísio. Imparcialidade é mito do jornalismo

20 setembro 2025 às 21h00

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Jornais têm o direito, se quiserem, de apoiarem Tarcísio de Freitas, Lula da Silva, Ratinho Júnior, Ronaldo Caiado e Romeu Zema para presidente da República. Não há nenhum impedimento legal e nem é ilegítimo.
Jornais americanos apoiam candidatos a presidente, com opinião destacada explicitando o apoio. Na última eleição, o “Washington Post” recuou e decidiu não apoiar a candidata do Partido Democrata a presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris. Optou por uma espécie de neutralidade que foi interpretada como um apoio indireto ao candidato do Partido Republicano, Donald Trump.
O proprietário do “Washington Post”, Jeff Bezos, sugeriu, no início, que não iria interferir na linha editorial. Apesar de seu entusiasmo — por sinal, recente — por Donald Trump. Mas mudou de ideia, ao menos em parte.
Agora, no setor de editoriais e artigos, o “Post” não vai abrir espaço para textos que contrariam a política de mercado defendida por Jeff Bezos. O empresário afirma que há espaço demasiado, em outros jornais e sites, para artigos que criticam a livre iniciativa. Por isso, decidiu restringir o espaço em seu jornal àqueles que não defendem o capitalismo.

Frise-se que, no setor de reportagens, Jeff Bezos não impôs restrições. O jornal permanece livre para investigar governos, políticos e empresários. Claro que é positivo o reforço de que as matérias precisam ser bem apuradas, e com nuances, quer dizer, com espaço adequado para o denunciado se manifestar.
Objetividade é mais crucial do que fingir imparcialidade
A “Folha de S. Paulo”, “O Globo” e o “Estadão”, os três jornais mais conhecidos do país, definiram apoios para 2026?
Editorialmente, ainda não, quer dizer, parece que não. A “Folha” e o “Estadão” são mais críticos em relação ao governo de Lula da Silva. Por isso, fica-se com a impressão de que vão apoiar um candidato da direita — Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado, Ratinho Júnior ou Romeu Zema.
Os jornas paulistas parecem mais entusiasmos com Tarcísio de Freitas porque é o governador de São Paulo. Há algum aspecto ideológico? É possível. O “Estadão” sempre cobriu a direita com mais interesse e nunca deixou de fazer uma crítica cerrada aos governos do PT do presidente Lula da Silva.
A crítica de “O Estado de S. Paulo” é equivocada? Talvez seja mais estridente do que equivocada. É um direito do jornal dirigido por Eurípedes Alcântara se posicionar de maneira frontalmente crítica à gestão de Lula da Silva, sobretudo porque explica suas discordâncias, por exemplo, a respeito do descontrole do déficit público.

Ao mesmo tempo, o “Estadão” critica, sem meias palavras, o golpismo do bolsonarismo. Os que apoiam o tarifaço também são criticados pelo jornal centenário. Usa-se, até, uma palavra ríspida para defini-los — “canalhas”.
A “Folha” é dirigida pelo empresário e banqueiro Luiz Frias, que, além do jornal, é dono do Universo Online (UOL) e do PagBank (a Forbes avalia sua fortuna em 1,3 bilhão de reais). É sócio de Fernanda Diamant, a dona (com cinco sócios) da Livraria Megafauna, e da irmã Cristina Frias ( em processo de litígio, porque não teria sido colocada como sócia do PagBank, que teria sido criado com recursos do UOL, que também é dela).
O diretor de redação da “Folha” é Sérgio Dávila. Dizem que é de esquerda, mas, no jornal, serve à linha decidida por Luiz Frias. Que é a de manter “instâncias críticas” ante os poderes.
Sites acusam a “Folha” de ter feito opção por Tarcísio de Freitas para presidente da República. Procede? Não li nenhum editorial do jornal apoiando Tarcísio de Freitas e há críticas à sua gestão. Claro que não há uma “oposição” cerrada e há críticas duras ao governo de Lula da Silva.
Os sites (como o Brasil 247) que criticam a “Folha” são compostos de jornalistas de esquerda e fazem a defesa do presidente Lula da Silva. Por isso, rejeitam as críticas publicadas pelo jornal.
Mas fica a pergunta: se os sites apoiam o governo de Lula da Silva, por que a “Folha” não pode apoiar o governo de Tarcísio de Freitas? É uma questão de lógica.

Não há jornalismo imparcial e independente. Quando se trata de jornais, revistas e sites, as duas palavras perderam — ou nunca tiveram — conteúdo, até sentido. Porque não há jornalismo independente, imparcial.
Então, deixemos que os jornais, revistas e sites façam suas escolhas político-eleitorais e mantenham, como quiserem, suas instâncias críticas.
Mas os leitores precisam ficar atentos, ou seja, precisam ler os editoriais e as reportagens com atenção. O que devem cobrar? Não imparcialidade, e sim objetividade. A melhor forma de ser menos parcial é apresentar os fatos de maneira ampla, contemplando as versões contraditórias. E, se quiserem, os jornais devem apresentar suas próprias interpretações dos fatos, esclarecendo ao leitor se um lado tem razão, ou mais razão, do que o outro. O denominador comum é o interesse público.
Há, por fim, algo a dizer sobre Tarcísio de Freitas. O governador tem dito que irá disputar a reeleição. Então, a “Folha” não terá como apoiá-lo para presidente. Exceto, claro, se o recuo do governador for tático, ao estilo, por assim dizer, de Jânio Quadros e outros.
Um recuo para ser “buscado” como “o” candidato das direitas, e não apenas da direita bolsonarista.
Será interessante verificar as pesquisas, daqui para frente, com a possível retirada do nome do Republicanos.