Salman Rushdie, cego de um olho e com uma mão paralisada, concede entrevista à “New Yorker”

11 fevereiro 2023 às 15h40

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Só resta esta cidade de palavras. As palavras são as únicas vitoriosas. Do romance ‘Victory City’, de Salman Rushdie

Há seis meses, em agosto de 2022, o escritor Salman Rushdie foi brutalmente esfaqueado por Hadi Matar (em português, um nome sintomático), nos Estados Unidos. Ficou internado por seis semanas e perdeu a visão do olho direito e ficou com a mão direita quase paralisada (está recuperando os movimentos aos poucos), o que dificulta a digitação O jornalista David Remnick, da revista “New Yorker”, publicou um perfil-entrevista do autor indiano, com 20 páginas.
Salman Rushdie lançou, este mês, o romance “Victory City”, sem tradução para o português (há tradução espanhola). O livro foi escrito antes da tentativa de assassinato.
O escritor está se tratando de “transtorno de estresse pós-traumático”. “Tenho muitas dificuldades para escrever. Sento para escrever e nada acontece. Escrevo, mas é uma combinação de vazio e detritos, coisas que escrevo e apago no dia seguinte” (uso neste texto traduções feitas pelo “Estadão” e por “O Globo”; por sinal, nada fluentes, por isso readapto os textos, ligeiramente).

Apesar da dificuldade para escrever — seu trabalho e prazer —, Salman Rushdie afirma que não aceita ser tratado como “vítima”. Ele conta que está se tratando com um terapeuta. “Tenho pesadelos, que tendem a diminuir. Estou bem, consigo me levantar e andar. Quando digo que estou bem, quero dizer que há partes de meu corpo que precisam de monitoramento constante. Foi um ataque colossal”. De fato, foram 10 (ou 12) facadas dadas por um homem forte e jovem.

Salman Rushdie estava escrevendo um romance inspirado no tcheco Franz Kafka e no alemão Thomas Mann, mas, devido ao atentado, deixou o projeto na gaveta. Ele afirma que planeja escrever sobre o ataque que sofreu, num texto no qual usará a primeira pessoa, e deve se mudar para Nova York. Será uma continuidade das memórias “Joseph Anton” (publicadas no Brasil pela Companhia das Letras).
Depois da longa internação, e da recuperação em sua casa, Salman Rushdie perdeu 20 quilos.

Por ter sobrevivido, Salman Rushdie, de 75 anos, afirma que é grato àqueles que salvaram sua vida, tanto no dia do atentado quanto no hospital. Ele vai fazer um agradecimento pessoal aos que o protegeram. “Durante todos esses anos [desde a fatwa do aiatolá Khomeini), eu tentei evitar a recriminação e a amargura. Acho que não são boas. Uma das maneiras como eu lido com essas coisas é olhando adiante, e não para trás. O que vai acontecer amanhã é mais importante do que o que aconteceu ontem.”