Saiba quem foi o editor que assistiu simulação de fuzilamento de Caetano Veloso e Gilberto Gil
06 dezembro 2025 às 21h00

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O editor de livros Ênio Silveira nasceu em 1925 — há 100 anos — e morreu em 1996, de um edema pulmonar, aos 70 anos. Sua fama se deve à Editora Civilização Brasileira e à militância no Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Quando estudante na Escola de Sociologia da Universidade de São Paulo, Ênio Silveira, apresentado foi por Leonor Aguiar ao escritor e editor Monteiro Lobato, que o encaminhou para um estágio na Companhia Editora Nacional, de seu amigo e ex-sócio Octalles Marcondes Ferreira. Corria o ano de 1944, o penúltimo da Segunda Guerra Mundial.

Na Companhia Editora Nacional travou conhecimento com o sociólogo Fernando Azevedo e o educador Anísio Teixeira.
Na Universidade Columbia, nos Estados Unidos, Ênio Silveira estudou editoração e estagiou na prestigiosa Editora Alfred Knopf.
De volta ao Brasil, a pedido de Octalles Marcondes, assumiu a direção da Editora Civilização Brasileira no Rio de Janeiro. A editora cresceu e se tornou uma das melhores do país. Publicou livros de sociologia, economia, psicologia, história e política.
Na ditadura civil-militar, instaurada em 1964, Ênio Silveira, com sua imensa coragem e talento, continuou publicando livros críticos. A “Revista Civilização Brasileira”, a respeito de vários assuntos, publicou ensaios que eram verdadeiros petardos contra o regime discricionário.

Ênio Silveira foi mais perseguido e preso do que políticos de proa das oposições à ditadura. Ele foi preso sete vezes e seus direitos políticos foram cassados.
Na insanidade típica dos regimes autoritários, o governo militar apreendeu e destruiu milhares de livros da Civilização Brasileira.
O “fuzilamento” de Ênio, Caetano e Gil
Há um bom livro sobre o editor, “Ênio Silveira — Arquiteto De Liberdades” (Bertrand, 474 páginas), organizado pelo poeta Moacyr Félix. Agora está chegando uma biografia às livrarias: “Ênio Silveira — O Editor Que Peitou a Ditadura” (Alameda), do editor Sérgio França, doutor em História Polícia e Bens Culturais pelo CPDOC-Fundação Getúlio Vargas.

Na sinopse do livro (figura no site da Editora Alameda), o escritor, crítico e membro da Academia Brasileira de Letras Godofredo de Oliveira Neto assinala: “A análise da ideologia da época, através do exame do pensamento de Ênio Silveira e suas denúncias como editor da Civilização Brasileira, aponta a resistência e a vitória, anos mais tarde, da democracia e da cultura brasileiras”.
“O Brasil recebeu um editor de primeira grandeza e forte engajamento político, que vai definir a política progressista do país brandindo como arma a cultura e a arte impressas nos livros da Civilização Brasileira”, diz Godofredo de Oliveira Neto.
O membro da ABL acrescenta: “Ênio buscou guardar um lugar para si na história brasileira. Conseguiu”.
A Alameda frisa que se trata “de um homem que jamais se curvou”.

A repórter da “Folha de S. Paulo” Isadora Laviola publicou um breve comentário na Folha de S. Paulo” na quinta-feira, 4, sob o título de “Em biografia, Ênio Silveira lembra falso fuzilamento ao lado de Caetano e Gil”.
“Fui levado para a polícia do Exército, e esse foi o pior momento. Nunca sofri tortura pessoal, mas dois dias depois de minha chegada, acordei com um frio na nuca, era um cano de fuzil. Fui levado de madrugada, às três horas, de cueca, para o pátio da polícia do Exército, encostaram-me na parede, perguntaram-me se eu queria venda ou não, e simularam o meu fuzilamento”, relata Ênio Silveira.
Na sequência, “‘fuzilaram’, na minha frente, Caetano Veloso e Gilberto Gil, que também estavam presos porque tinham feito uma paródia do hino à bandeira, ou qualquer coisa assim”.
Ao perceber a encenação, Ênio Silveira alertou Caetano Veloso e Gilberto Gil: “Isso é uma brincadeira, uma farsa, não se incomodem”.
