Rir do relatório da Defesa é o melhor ataque aos golpistas, mas um erro: devem ser levados a sério e punidos seriamente

10 novembro 2022 às 10h29

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Nilson Gomes
As aguardadas 65 páginas do relatório do Ministério da Defesa serviram apenas para os golpistas queimarem o rosto ao sol e o lavarem na chuva em frente a quartéis por todo o País. A vontade é rir de quem supunha que as Forças Armadas encontrariam falhas na tecnologia brasileira mais elogiada no mundo, a das urnas eletrônicas.
Nada disso.
É um perigo levar na brincadeira essa gente e sua determinação de fazer tudo seguindo o manual de fake news dos aplicativos.
Os três patetas, o Chaves, os Trapalhões, o Porta dos Fundos nem qualquer outro grupo de humor é ou foi capaz de ser mais engraçado que os golpistas ornamentados de verde-amarelo. Montam-se como drag queen, memorizam mantras de igreja de ponta de rua, postam nas redes que estão indo fazer sua parte na luta pela liberdade de ser abestalhados e seguem para frente de unidades militares. Poderia ser ridículo. Não é. É uma bomba a ser desligada com rapidez pelos comandantes militares.
As autoridades responsáveis estão levando com a cintura a exibição dos espetáculos pantomímicos. Gelada. Cometem seguidos crimes pela omissão.
Os golpistas começaram prometendo parar o Brasil com caminhões trancando rodovias. A ação foi um fracasso que custou R$ 2 bilhões por dia ao comércio, impediu transplante de órgãos, esvaziou os estoques de medicamentos. Faltou até oxigênio em hospital, ou seja, ar no pulmão de pacientes.
Os marginais, que são os líderes não assumidos do esquema criminoso, deixaram as rodovias e foram para a vizinhança das Forças Armadas. Protagonizam cenas que provocam de gargalhada a pânico.
Quantos bandidos autores desses delitos estão presos? Nenhum.
Os marginais, que são os líderes não assumidos do esquema criminoso, deixaram as rodovias e foram para a vizinhança das Forças Armadas. Protagonizam cenas que provocam de gargalhada a pânico.
É o motorista obrigado a tirar adesivo de candidato que não seja o mitômano da patuleia.
É a atriz da novela de horário nobre ajoelhada no asfalto rogando a Deus que reverta o resultado das urnas.
É o grupo de brucutus entrando em ônibus para ferir estudantes.

São valentões ameaçando quem não faz o gesto nazista ao cantar o positivista Hino Brasileiro.
É a Bandeira Nacional servindo para tudo, de forro na encosta para não sujar o jeans a ícone encimando slogan fascista.
É o líder religioso invocando um deus vingativo para proteger a família sabe-se lá de quem, a pátria que supõe resumida a seus convertidos e a liberdade de mostrar sua idiotice na Globolixo, na imprensa suprema, na mídia canhota, porque jornalistas de verdade são o Augusto Nunes, o Rodrigo Constantino, a Ana Paula do Vôlei e os demais da revista Oeste.
É o patriota peitando uma carreta na vã tentativa de virar mártir, projeto inconcluso pela firmeza do limpador de para-brisas.
É o CAC mirando viaturas da Polícia Rodoviária Federal num lugar chamado Novo Progresso que devia ser rebaixado de Velho Atraso.
É a democracia aos cacos nas mãos de pessoas que no dia a dia eram normais até 2018, mas de uma hora para outra tombaram seduzidas por ideologia que nem sabem se existe.
Os golpistas da sessão da tarde garantem diversão em horas e horas de vídeos no YouTube, nas redes sociais e grupos de WhatsApp e Telegram.
Fria.
Pare de rir. Reflita.
O que pedem com o “SOS Forças Armadas” é nova noite de décadas do Brasil mergulhado no arbítrio.
Pastores e padres indignos desses postos oram com as multidões: “Exército, salve o Brasil”. A última vez que o EB caiu nesse conto grávidas foram torturadas em frente aos filhos para confessar o que não sabiam.
Protestam contra o resultado de eleição presidencial que não se repetiria se fosse realizado seu desejo de as Forças Armadas assumirem o Palácio do Planalto.
Xingam de todos os absurdos possíveis os mais sábios e corajosos militantes do Direito no Brasil, felizmente alçados a tribunais superiores, inclusive à suprema corte.
Esquete improvisado, com roteiro escrito pelo Carlixo para a Globoluxo: aparece um militar de pijama desfazendo da decisão de um ministro, os golpistas de zap-zap começam o vídeo com tarja de urgente, pedindo para ativar sininho, passar pix, enviar para amigos e assistir até o fim porque o TSE e o STF vão tirar do ar. Vc assiste. E o que tem de conteúdo? O mesmo tanto de neurônio na cabeça de quem postou.
As autoridades, inclusive as sitiadas nos quartéis pelos bajuladores com a camiseta da CBF, precisam agir.
Desocupar as ruas como as rodovias.
Abrir processo contra o máximo de golpistas, sem esquecer nem os papagaios de piratas das selfies. Afinal, em maior ou menor dolo, todos batalharam com vigor por um golpe militar, apelidado de intervenção federal ou militar etc.
Essas pessoas precisam da resposta do Estado acerca do alcance do que pretenderam.
Elas cercaram órgãos públicos exigindo a quebra da ordem institucional, a sujeição da vontade expressa nas urnas pela pressão de buzinas, acelerar de caminhões e postagem de miríades de fake news.
Nada de hehehehe na ditadura do trocadilho infame. Bolsonaristas queriam provocar um golpe. Até agora, só provocaram risos. Caem em todas as pegadinhas, mas não caem na realidade. Iludem-se com estelionatários argentinos e nomes originais de celebridades como se enganaram com os cursos de Olavo Opasso Oenxugo. Até aí, tudo bem kkkkkkk. Mas o oba! vira epa! quando se constata que, na política, as piores piadas acabam eleitas, não em festivais de stand up, mas para cargos no Executivo e no Legislativo.
Que o próximo relatório do Ministério da Defesa sejam aguardadas 650 páginas contando as sugestões que os golpistas lhes passaram após o segundo turno das eleições de 2022.
Nilson Gomes é advogado e jornalista.