Repórter denuncia trabalho análogo à escravidão e é demitido por jornal

03 março 2023 às 20h38

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Primeiro país a chegar atrasado à modernidade — nação que mantém escravos não pode ser qualificada de moderna, e sim de retardatária —, o Brasil parece que está assumindo, de vez, a vanguarda de atraso. As denúncias de trabalho análogo à escravidão — novo eufemismo para escravização —, e não apenas no Sul, provam, entre outras coisas, que empresários, homens do mercado, estão em ação para reinventar o arcaísmo e a barbárie.
Aqueles que se opõem à barbárie, como o jornalista Leandro Schmitz, são atropelados pelo arcaísmo do mercado. Ele perdeu o emprego no jornal “Folha Metropolitana”, de Joinville, porque decidiu cumprir sua missão de repórter denunciando que, numa unidade da prefeitura do município, havia trabalho análogo à escravidão.
A Prefeitura de Joinville contratou os serviços da empresa Celso Kudla Empreiteiro Eireli para reestruturar a unidade de Bem-Estar e Proteção Animal da cidade. Ocorre que, de acordo com a reportagem, 13 trabalhadores eram transportados no baú de um caminhão e eram obrigados a fazer as refeições “em canis e outros locais insalubres” (trecho retirado de reportagem do Portal Imprensa).
Ao perceber o quadro, o Sindicato dos Servidores Públicos de Joinville denunciou o fato ao Ministério Público do Trabalho, que decidiu investigá-lo.
Não há notícia de que alguém da empresa tenha sido preso. Mas o repórter Leandro Schmitz perdeu o emprego, assim que publicou a denúncia, no dia 28 de fevereiro.
“Não gostaria de me manifestar muito, porque os fatos falam por si sós. Eu digo sempre para todo mundo que me procura que não quero prejudicar ninguém, apenas fazer o meu trabalho. Acatei uma denúncia do Sindicato (Sinsej), ouvi todos os envolvidos, fiz o que qualquer jornalista profissional faria. O veículo para o qual eu trabalhava emitiu uma nota dizendo que minha saída se deu por motivos financeiros e ajustes internos”, afirma Leandro Schmitz.
A “Folha Metropolitana” alegou, para demitir o profissional, contenção de despesas e que, por também trabalhar na prefeitura, Leandro Schmitz não tinha como se dedicar ao jornal.
Porém, tudo indica que os fatos são outros, segundo o Sinsej: “A demissão claramente é fruto de pressão da Prefeitura de Joinville, que, como contratante, deveria fiscalizar os trabalhos de sua terceirizada na obra. É importante frisar que a matéria cumpre todos os preceitos básicos do jornalismo. O jornalista deu voz a todos os envolvidos e apresentou vídeos e fotos como provas do que havia apurado. A prefeitura, inclusive, foi uma das ouvidas e tem sua resposta citada no texto”.
Leandro Schmitz só quer, frisa, voltar ao mercado de trabalho. Não está pedindo muito. Na verdade, merece o Troféu Dignidade.