Quando os cursinhos travaram sua primeira guerra — e o Jornal Opção era o campo de batalha
18 novembro 2025 às 18h16

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Nascido em dezembro de 1975, em plena ditadura civil-militar, o Jornal Opção chegou às bancas com uma proposta ousada: ser um veículo analítico, crítico e comprometido com a modernização de Goiás. Seu fundador, Herbert de Moraes Ribeiro, havia buscado inspiração nos grandes jornais do Rio de Janeiro e, sobretudo, no modelo do periódico Opinião, de Fernando Gasparian. Assim nascia um jornal de opinião — moderno, combativo e disposto a ocupar o espaço das frestas possíveis mesmo sob censura.
Mal o semanário completou seu primeiro mês de circulação e já serviria de palco para um embate que marcaria época. Em 1976, enquanto Goiânia vivia uma explosão de demanda por ensino pré-universitário, o Jornal Opção transformou-se no principal terreno de disputa entre os cursinhos que brigavam pelos corações e mentes dos estudantes goianos.
Na edição nº 5, de 18 de janeiro de 1976, o Colégio Carlos Chagas estampou uma página inteira com o anúncio “Os goianos venceram”, produzido pela Stylus Propaganda. O texto celebrava seus aprovados — e, não por acaso, lançava uma indireta elegante ao recém-chegado concorrente: o Colégio Objetivo SP-G, importado de São Paulo e já chamando atenção com seu modelo agressivo e tecnológico de ensino.
Veja abaixo.

O colégio paulistano não deixou barato. Duas semanas depois, na edição nº 7 (01/02/1976), publicou um anúncio de impacto com a fotografia de Edson Lemes Sardinha, aluno do 3º ano do Objetivo. Sardinha havia conquistado o 1º lugar geral no vestibular da UFG de 1976 e o 1º lugar em Medicina — um feito que funcionava como resposta direta à celebração dos “goianos vencedores” do Carlos Chagas.
Assim, antes mesmo de completar dois meses de vida, o Jornal Opção já protagonizava a disputa simbólica entre as principais escolas pré-vestibulares de Goiás.

Um jornal que nunca fugiu da discussão pública
Desde o início, o Opção se consolidou como espaço de debate dos grandes temas, com análises que ecoavam nas redações dos outros veículos da época — como ocorre até hoje. Herbert acreditava que, mesmo sob censura, era possível fazer jornalismo crítico e contribuir para a redemocratização. O jornal defendeu, por exemplo, a Anistia aos cassados pela ditadura.
Ao longo das décadas, o veículo manteve seu compromisso com reflexão, independência e profundidade. Euler de França Belém resumiu bem esse espírito em 2015, no aniversário de 40 anos do jornal: “O Jornal Opção é uma ideia que germina o tempo inteiro e, por isso, permanece ativo e crítico, sempre incomodando até aqueles que o veem como aliado.”
Da edição impressa ao mundo digital
O jornal nasceu semanal em 1975, tornou-se diário por um período e voltou ao formato semanal. Hoje, continua impresso aos domingos — com edições analíticas e gratuitas — e diariamente conectado através do site e das redes sociais.
Visionário, o Opção foi um dos primeiros veículos goianos a migrar para o digital, ainda em 1999, quando criou seu portal on-line. Em 2018, lançou o Opção Play, com sua primeira entrevista em vídeo no YouTube, abraçando de vez o audiovisual. Em 2024, realizou debates eleitorais ao vivo com candidatos de Goiânia, Anápolis e Aparecida — um marco de inovação no jornalismo local.
Continuidade e renovação
Herbert de Moraes Ribeiro faleceu em 2016, mas seu legado permanece vivo. Ainda em 2002, prevendo a necessidade de renovação, transferiu a direção para sua filha, Patrícia Moraes Machado, que até hoje comanda o jornal e o molda para o século XXI com firmeza e sensibilidade.
Com 50 anos de história, o Jornal Opção é hoje um arquivo indispensável para pesquisadores. Suas páginas trazem entrevistas históricas com Jorge Amado, Iris Rezende, Pedro Ludovico, José Sarney, Mauro Borges, FHC, José Dirceu, Siron Franco, Gilberto Mendonça Teles e tantos outros nomes fundamentais da cultura e da política brasileira.
De 1976 a 2025: a essência permanece
Cinco décadas depois, o que se viu em 1976 — quando o Jornal Opção se tornou arena pública estratégica para a disputa entre os cursinhos pré-universitários — continua sendo a marca do jornal. O Opção nunca foi apenas um veículo: é um espaço de debate, confronto de ideias, disputa narrativa e construção de memória.
O Jornal Opção é, sobretudo, um agente político.
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