Publicações usam fotos de 2018 para fingir que mais pessoas estavam em frente ao Capitólio na quarta
10 janeiro 2021 às 00h00

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Registros da Marcha Pelas Nossas Vidas, de 2018, foram publicados no Facebook para dar dimensão muito maior do que o número real de apoiadores de Trump que marcharam até o Congresso

Em seguida à invasão ao Capitólio, em Washington (DC), nos Estados Unidos, no final da tarde quarta-feira, 6, imagens começaram a surgir no Facebook com uma multidão que teria tomado a Avenida Pensilvânia, na capital federal norte-americana, e ocupado os arredores do Congresso do país. A imagem acima, fotografada por Cheriss May para o Getty Images, é um registro daquele momento em que extremistas da supremacia branca, com bandeiras pró-Trump, nazismo, conspiracionismo e outras ideologias racistas, quebraram vidraças e impediram violentamente por horas a sessão que confirmou a vitória eleitoral de Joe Biden em 2020.
Nas redes sociais, as fotos utilizadas em algumas publicações eram outras, retiradas da Marcha Pelas Nossas Vidas (March For Our Lives), contra a livre compra de armas de fogos por civis nos Estados Unidos, no final de março de 2018. A quantidade de pessoas nas ruas naquele momento era muito maior, como mostra a checagem de fatos da Agência Lupa e da Aos Fatos.
“Fotos de uma multidão reunida nos arredores do Capitólio dos Estados Unidos, em Washington DC, não são da manifestação a favor do presidente Donald Trump desta quarta-feira (6), conforme afirmam postagens nas redes sociais (veja aqui). Os registros foram feitos em março de 2018, durante a Marcha pelas Nossas Vidas (March for Our Lives) — um protesto liderado por estudantes que reivindicavam mais rigidez na venda e na concessão do porte de armas”, escreveu Marco Faustino no Aos Fatos na tarde de quinta-feira, 7.
Checagem e matérias

Na Lupa, Nathália Afonso explica que “o evento tinha como objetivo exigir restrições no comércio de armas de fogo e homenagear vítimas de tiroteios em escolas”. “As fotografias que circulam pelo Facebook podem ser encontradas em jornais como CNN, The Washington Post, CBS News, The Atlantic.” Diversas publicações, inclusive de agências de fotos, comprovam que a multidão utilizada nas postagens no Facebook são de quase dois anos atrás.
As manifestações por mais controle na venda de armas de foto em 2018 estão registradas na CNN, The Washington Post, CBS e The Atlantic. Veículos de comunicação podem, inclusive, comprar imagens do banco de dados, por exemplo, do Getty Images. E são as mesmas fotos usadas na semana passada como se fossem de quarta-feira.
Em dezembro de 2020, tentaram usar as mesmas fotos para tentar dar uma dimensão muito maior a marchas pró-Trump depois da derrota eleitoral para Joe Biden. Tanto a Aos Fatos como a Agência Lupa mostraram o uso de fotos verdadeiras, mas de quase dois anos atrás, para fingir que seriam registros recentes. O NPR é outra fonte confiável que mostra a Marcha Pelas Nossas Vidas, de onde foram tiradas as fotos utilizadas de forma equivocada no Facebook depois do dia 6 de janeiro.
Tiroteio em escola
A conta de locais para confirmar que as fotos não são de apoiadores de Trump na quarta-feira é longa. A lista inclui matérias do USA Today e Vox. Matérias de sites do Brasil, como o G1, mostram o tiroteio em uma escola de Parkland, na Flórida, que motivou as marchas de março de 2018 em Washington.
Então, mais uma vez, a dica é não compartilhar algo antes de verificar de onde surgiu aquela imagem ou informação. Ainda mais se não for de uma fonte confiável. E como fonte confiável não incluímos seu amigo ou parente no Facebook, páginas de apoiadores de políticos eleitos ou não e grupos de família no WhatsApp ou Telegram.

