Programa de leitura para 2023 inclui Giorgio Parisi, Michael Lind, Simone Weil, García Márquez

23 janeiro 2023 às 11h40

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Gosto de imaginar como o bom Homero, quem quer que ele fosse, teria ficado surpreso ao ver suas epopeias na prateleira de um ser tão inimaginável para ele como eu, no meio de um continente do qual não se tinha notícia”. — Marilynne Robinson
Marcelo Franco
Especial para o Jornal Opção
O editor-chefe do Jornal Opção pediu-me uma lista de leituras para 2023. Havia uma data final para a entrega e eu a perdi; outro prazo foi fixado e novamente ele passou em branco — não pensem em descaso, porém: tenho lido apenas nos intervalos dos achaques da meia-idade e quando escapo da obrigação de organizar os livros que deveria estar lendo e não apenas catalogando. Portanto, se esta lista tiver sido publicada, é porque o coração do amigo Euler venceu os deveres do editor Euler de França Belém. Largo na corrida em vantagem, é certo: posso escrever tendo lido as listas já publicadas; na verdade, minha tentação é furtar a lista do próprio Euler, misturá-la com pitadas dos planos de leitura dos amigos Carlos Willian, Irapuan Costa Junior e Nilson Jaime, e publicar o plágio como ideia inédita. Ou antes: talvez isso não seria um plágio, tão tentadoras são as dicas dadas; se são sugestões, podemos as mencionar como nossas, não? Ocorre que jornais têm leitores que os escrutinam com lupa e depois escrevem textos em que destroem cada vírgula fora do lugar e todo pensamento buscado em mentes alheias, o que me transformaria em alvo preferencial da turma senhor-editor-escrevo-para-mostrar-que. Fazer o quê? Tentar ser original, ou seja, plagiar a mim mesmo.

Mãos à obra, não sem antes recordar que, numa lista antiga, escrevi algo que aqui repito: com os livros ganhamos problemas inesperados. “Admiro muito quem lê assim”, ouvi certa vez. Sei, sei: essa admiração só pode vir de quem não tenha de lidar com a falta de espaço para os volumes, os problemas respiratórios causados pela poeira das estantes e o perigo da falência rondando o comprador obsessivo, triste padecente de síndrome de Diógenes literária. É uma engrenagem que funciona em moto-contínuo: sempre se pode começar mais uma pilha com livros novos — quem não está interessado nas futricas do príncipe Harry ou no voo dos estorninhos? (Eis o primeiro livro da lista: Giorgio Parisi, vencedor do Nobel de Física, escreveu um livro em que há um ensaio sobre os estorninhos e que ganhou tradução para o português no ano passado, “A Maravilha dos Sistemas Complexos: Uma Jornada Pelas Descobertas da Física Contemporânea”.) E, antes de irmos às leituras que programei e que provavelmente serão substituídas por outras, também insisto, como já o fiz anteriormente, que a lista ideal deve ser uma mistura de livros antigos, lançamentos recentes e livros citados somente para que se possa simular erudição.

Construamos a nova pilha, então. Opa, não, ainda não, prossigo com este nariz de cera. Analisando uma matéria do jornal espanhol “El Mundo”, Euler, aqui mesmo no Jornal Opção, comentou os “dez melhores ensaios de 2022” (publicados na Espanha, evidentemente), e entre eles está um livro da jornalista de moda Marta D. Riezu, “Água y Jabón: Apuntes Sobre Elegancia Involuntaria”. Riezu é uma grande prosadora e quase filósofa ao descrever afinidades e gostos seus, assim como aquela outra mulher excepcional, M.F.K. Fischer, filosofava quando escrevia acerca de cozidos, guisados, ervas e vinhos. Contudo, o meu ponto aqui é outro, é o perfil da espanhola no Instagram. Num dos seus posts, sobre a morte da rainha Elizabeth II, ela escreveu: “Propósito uno: intentar no convertirme — ni aunque la edad empuje a ello — en uno de estos cínicos que no respeta la tristeza ajena. ‘Qué hacéis llorando una señora que…’. Esa burla le hace sentir más listo, más sofisticado. (…) Propósito dos: no reducir a las personas a una sola dimensión. (…) Propósito tres: leer la realidad más allá de la política. (…) Próposito cuatro: no dejarme vencer por la melancolía mientras mueren personas a las que respeto, cierran para siempre lugares donde fui feliz, cambian irreversiblemente los paisajes. (…) Propósito cinco: gratitud (…)”. E qual o motivo da longa citação? Ora, Riezu nos dá um bom farol para iluminar nossas mentes em relação à morte alheia e uma ótima regra de vida que, se adaptada, também nos serve como manual de leitura. Listas de leitura são importantes apenas se sabemos por que lemos, ainda que seja por vício ou simples entretenimento. Gratitud y leer la realidad mas allá de la política, portanto. Assim, aqui vai o segundo livro da lista: preciso fazer uma releitura, agora com olhos de ver, de “Água y Jabón”.

Adiante. Sou um obsessivo acostumado a ler os votos dos ministros do Supremo Tribunal e até da Suprema Corte dos Estados Unidos (sim, meu terapeuta já foi avisado); por isso, começo com livros jurídicos, dados os tempos em que vivemos: “Crimes Contra o Estado Democrático de Direito”, de Rogério Sanches Cunha e Ricardo Silvares, e “Terrorismo e Direito Penal do Inimigo”, de Eduardo de Lima Veiga. À moda de Gertrude Stein, se uma rosa é uma rosa é uma rosa, todo jurista se questiona quando um crime é um crime é um crime.
Mas não só de pão e Direito, em tempos bicudos, vive o homem. Também na lista, Michael Lind, em “The New Class War: Saving Democracy from the Metropolitan Elite”, parece ver os movimentos populistas de direita e de esquerda como respostas à transferência do poder representativo para uma elite tecno-gerencial (ah, sim, se menciono livros em outras línguas não é, digamos, por soberba: tive a sorte de ser o último de quatro irmãos e nascer numa época de cursos de línguas que cabiam nos bolsos dos pais, além de ganhar na loteria do amplo acesso à internet). A leitura de Lind me levará, com certeza, à releitura de James Burnham, que já previra, num livro de 1941, “The Managerial Revolution”, a ascensão de uma elite gerencial, e a Thomas Sowell (“Os Ungidos: As Fantasias das Políticas Sociais Progressistas”). Para completar a sensação geral de desmoronamento, talvez o clássico de Simone Weil, “O Enraizamento”, na bela edição de 2022 da Âyiné; para começarmos a reconstruir caminhos, “Sobre a Liberdade: Quatro Canções Sobre Cuidado e Repressão”, ensaio no qual Maggie Nelson, segundo uma resenha da “Folha”, contrapõe a liberdade a ideias prontas, inclusive aquelas que demandam uma arte “respeitadora”.

Adquiri um novo vício, logo eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil (sim, eu cito — ou furto — sem usar aspas). O vício? Cartagena de Índias, assim mesmo, sem artigo definido, como escrevem em espanhol. Consegui, nos becos sórdidos frequentados por bibliófilos desesperados, pôr as mãos nos quatro volumes de “Historia General de Cartagena”, de Eduardo Lemaitre, cujo busto adorna a cidade colombiana. Não sei se os leio ou se os enquadro, tão perfeita é a edição. Como consequência da recente compulsão, retornei a Gabriel García Márquez, estendi o vício à Colômbia toda, depois ao Caribe e, por fim, ao Império Espanhol na América (sim, meu psiquiatra também está ciente). Daí a minha pretensão de reler algum García Márquez em 2023 e, sobre o escritor colombiano, haverei (haverei!) de ler a biografia escrita por Gerald Martin, “Gabriel García Márquez: A Life”. Não sei se existem edições anteriores em português, mas em 2022 tivemos a publicação de uma conversa, de 1967, entre García Márquez e Vargas Llosa, “Duas Solidões: Um Diálogo Sobre o Romance na América Latina”, e ganhamos uma narrativa, que dizem ser tocante, dos últimos dias do escritor colombiano, no livro “Gabo & Mercedes: Uma Despedida”, de Rodrigo García, filho do casal. Tudo já na lista e para ontem: quem precisa de oito horas de sono?

Se ganhei novos vícios, os antigos não se foram: lerei o que puder sobre a Segunda Guerra Mundial e temas afins. “Hitler’s Horses”, de Arthur Brand, é outra leitura planejada. Brand é um pesquisador de arte que busca obras perdidas ou saqueadas; o livro trata das estátuas de cavalos que adornavam o edifício da Chancelaria do Reich e que muitos acreditavam destruídas, o que se mostrou falso. Publicado no ano passado, entra ainda na lista “A Revolução Cultural Nazista”, de Johann Chapoutot. Também adquiri em 2022, finalmente, um livro há muito tempo desejado, “Atlas Histórico da Segunda Guerra Mundial”, de Martin Gilbert, um dos mais prestigiados historiadores da Segunda Guerra — o “Atlas” entrou no programa deste ano com tapete vermelho e bumbos. Quem precisa de seis horas de sono?

Gosto de ensaios, que são uma forma de fazer listas sobre tudo, por assim dizer. Fran Lebowitz, ótima ensaísta (ou humorista?), (re)ganhou fama com a série documental “Faz de Conta que Nova York é uma Cidade”, ou algo assim, de Martin Scorsese. Pois vi a tal série. Boa. Quase muito boa, mas só quase. Ou talvez pareça boa apenas porque o padrão comparativo não seja lá essas coisas — ainda não me decidi. Lebowitz continua sendo, como dizem os americanos, sharp — ou blunt? (Sim, garotada, a turma da mantinha no joelho e dos óculos na ponta do nariz já a conhecia de eras antigas; vocês não foram os gênios que descobriram “alguém sobre quem ninguém fala” e tampouco os perspicazes que constataram que existe algo como “bom mau humor urbano” — a propósito, se chegarem a descobrir que existiu uma senhora de nome Dorothy Parker, lembrem-se de que o degas aqui os alertou primeiro). Para usar o clichê, ela é mais afiada nos seus livros.

E o grande porém da série é o próprio diretor Martin Scorsese — diretor e… e o que mesmo? Uma sombra? Uma gárgula? Santo Deus, como o homem ri. Lebowitz fala uma gracinha qualquer, Scorsese se dobra de gargalhar; Lebowitz diz alguma trivialidade, Scorsese se estrebucha na poltrona. Gargalha, puxa palmas e gargalha novamente. Há momentos em que ele ri antes da punch line. Uma risada franca, solta, com os seus 172 dentes italianos à mostra. Franca, mas não menos irritante. E alta, alta como os prédios de NY que Lebowitz simultaneamente critica e elogia. Não se enganem, os créditos da série estão trocados: deveriam ser algo como “Fran Lebowitz dirige Martin Scorsese e seus dentes à mostra”. Um crítico escreveu que assistimos a uma viagem pela mente de Lebowitz. Bobagem. A viagem é pelas amígdalas de Scorsese. Meu dentista deu nota 7 ao conjunto da obra, valorizando, digamos, a Corega. Pelos livros dela, tasco um 8, e ganhamos, em 2022, “O Almanaque de Fran Lebowitz”, que vai para a ilha deserta onde lerei tudo o que pretendo.

Desviei-me. Continuo, mas permaneço no pit stop para recauchutar o cérebro com ensaios (ou jornalismo literário, tanto faz). Como Joan Didion morreu em 2022 (ou no finalzinho de 2021?), não custa tentar revisitar sua obra de não ficção (por que tiraram o hífen de “não-ficção”?), principalmente “O Álbum Branco” e “Rastejando até Belém”, dois dos seus livros mais emblemáticos. Didion, se não sabem, escreveu o obituário dos anos 60, num ensaio que está no mencionado “O Álbum Branco” e tem o mesmo nome: “Muita gente de Los Angeles acredita que os anos 1960 acabaram de forma abrupta em 9 de agosto de 1969, no exato instante em que a notícia dos assassinatos em Cielo Drive percorreu a comunidade de uma ponta à outra como um incêndio florestal, e, em certo sentido, isso é verdade. A tensão se rompeu naquele dia. A paranoia estava cumprida”. Joan Didion, então, entra na lista de 2023, assim como já entrara nas listas de outros anos.
Ainda no pit stop “ensaios”, mas na subcategoria “livros sobre livros”, prometeram a publicação de “Como Organizar uma Biblioteca”, do italiano Roberto Calasso, que já foi chamado de “uma instituição literária de um homem só” (um contraponto a um livro que pretendo escrever, “Como Desorganizar sua Biblioteca, sua Casa, suas Finanças e Ainda Destruir seus Pulmões”). Calasso se foi em 2021 e talvez também seja a hora de reler “A Marca do Editor”, uma pequena obra-prima para bibliófilos, cheia de ideias interessantíssimas, como a de que o catálogo de um grande editor seria uma espécie de autobiografia sua. Sim, é hora de reler Calasso: o homem, afinal, trabalhou na editora Adelphi, acabou se tornando o seu principal proprietário e nos legou, como escritor e editor, livros magníficos.

Outro livro imperdível de 2022 é “Bibliomaniac: An Obsessive’s Tour of the Bookshops of Britain”, do comediante Robin Ince — com uma temporada dos seus shows suspensa pela epidemia do coronavírus, Ince, um fanático por livros, resolveu se apresentar para plateias muito pequenas e em cerca de cem livrarias; o resultado é um livro no mínimo curioso, eu imagino, e desde já eu posso citar que Ince, no início do seu livro, mostra o destino trágico dos bibliófilos numa única sentença: “I want to know about everything, so I know about nothing”. Outro livro que chega como top hit nas paradas Marcelo Franco de sucessos é “O Infinito em um Junco: A Invenção dos Livros no Mundo Antigo”, de Irene Vallejo. Uma das citações que Vallejo usa como epígrafe é da escritora americana Marilynne Robinson: “Gosto de imaginar como o bom Homero, quem quer que ele fosse, teria ficado surpreso ao ver suas epopeias na prateleira de um ser tão inimaginável para ele como eu, no meio de um continente do qual não se tinha notícia”. Promete, não?

Penitencio-me constantemente por ter diminuído a minha cota de ficção e poesia. Não chegou ainda ao Brasil qualquer livro de Eugene Vodolazkin, o autor russo contemporâneo mais lembrado nas listas de “melhores”, mas encontrei “Laurus”, que dizem ser sua obra-prima, em inglês. Será que os russos continuam escrevendo magnífica e tragicamente? A ver. Saiu em português, porém, o primeiro romance de Leonardo Padura, “Febre de Cavalos”. E todo mundo está elogiando “O Túnel”, do israelense A.B. Yehoshua, outro que morreu em 2022 — por que não dar uma bispada? Poesia: aguardo a chegada de “Dupla Noite”, uma antologia do cubano José Lezama Lima. Lezama Lima é o autor de “Paradiso”, um dos grandes romances do século passado; como a ditadura cubana afirmou que “Paradiso” seria uma obra “hermética, morbosa, indescifrable y pornográfica”, o romancista e poeta não precisa se esforçar muito para entrar no meu panteão de autores preferidos.

O que mais? Biografias e livros de história e política, sem dúvida. Acaba de sair nos Estados Unidos a biografia do grande diplomata George F. Kennan, “Kennan: A Life between Worlds”, de Frank Costigliola. Imagino que não será traduzida aqui no Florão da América, então terei de apelar, mais uma vez e com o perdão do escritor espanhol Jorge Carrión (ao Google, meus amigos), àquele grande supermercado de livros. Talvez a melhor biografia publicada em 2022, presença obrigatória em qualquer lista de leitura, seja a de Fernando Pessoa: “Pessoa: Uma Biografia”, de Richard Zenith. Passou um tanto despercebido o lançamento de “Tarcísio Pereira: Todos os Livros do Mundo”, de Homero Fonseca; Tarcísio foi o proprietário da Livro 7, no Recife, livraria que chegou a ser a maior do Brasil. Outro livro pouco notado no ano passado foi “A História Íntima de Gilberto Freyre”, de Mario Helio Gomes. Uma curiosidade: os livros sobre Freyre e Tarcísio Pereira saíram pela Cepe (Companhia Editora de Pernambuco), que tem um catálogo excepcional. Também são recentes “Não São Loucos: Os Bastidores da Transição Presidencial FHC-Lula”, de João Borges, e “Domínio: o Cristianismo e a Criação da Mentalidade Ocidental”, de Tom Holland. Mais? Mais! Entre tantos livros lançados para comemorar a Independência de 1822 e a Semana de Arte de 1922, coloco dois nesta interminável lista: “As Guerras da Independência do Brasil”, de Leonencio Nossa, e “Modernismos: 1922-2022”, organizado por Gênese Andrade. Sim, a lista parece grande, mas ninguém precisa dormir cinco horas por noite.

Por falar em biografias, dois dos grandes biógrafos do Brasil publicaram livros sobre, digamos, a arte de biografar: “A Vida por Escrito: Ciência e Arte da Biografia”, de Ruy Castro, e “A Arte da Biografia: Como Escrever Histórias de Vida”, de Lira Neto. Falando sobre escrever, Caetano W. Galindo, tradutor de James Joyce e T.S. Eliot, deu-nos “Latim em Pó: Um Passeio Pela Formação do Nosso Português”. Conhecer a história da língua que falamos é um grande instrumento para exercitar os neurônios de quem escreve, claro: na lista, portanto.
Algo sobre música e músicos? Como naquele programa do Silvio Santos em que um moleque era perguntado se gostaria de trocar a bicicleta que ganhara por um palito de dentes, isso sem poder ouvir toda a proposta, respondo “siiiiiiiiim!”. Primeiro, um calhamaço sobre os Beatles, em dois volumes (parece que haverá outros): “Tunel In: Todos Esses Anos”, de Mark Levisohn. Mais: assim como todos vocês, também assisti, no ano passado, àquele filme sobre Elvis Presley, no qual Tom Hanks interpreta um canastrão e fabuloso Colonel Parker (fabuloso porque canastrão), o que me fez adiantar em alguns anos a ideia de ler a biografia de Elvis escrita por Peter Guralnick, também em dois volumes: “Last Train to Memphis: The Rise of Elvis Presley” e “Careless Love: The Unmaking of Elvis Presley”. E um livraço sobre filosofia e ciência, “A Navalha de Ockham: O Princípio Filosófico que Libertou a Ciência e Ajudou a Explicar o Universo”, de Johnjoe McFadden, sobre como Guilherme de Ockham nos salvou de veredas tortuosas ao explicar que soluções simples são sempre preferíveis e quase sempre verdadeiras. Atualizando o próprio Ockham, aliás, quem realmente precisa de três horas de sono?

Adiante? Bem, a lista já está enorme e o editor tem tesouras, mas como não acrescentar aos meus planos um ou dois livros sobre a pandemia de Covid? Estamos começando a entender melhor o que passamos, mas já temos ótimos livros que destrincham a pandemia sob vários aspectos. Um, fiquemos com apenas um nesta lista: “Portas Fechadas: Como a Covid Abalou a Economia Mundial”, de Adam Tooze.
Fujo um pouco do que me pediram: e as séries, a cada ano mais interessantes? Estou assistindo a “Ozark” e “The White Lotus”. Ressalvadas as muitas diferenças, as duas lidam com um dos temas de “Breaking Bad”: qual o nosso limite moral quando as circunstâncias exteriores mudam? Vejam, vejam — e depois revejam. Tempo? Ora, não há razão científica para dormirmos duas horas por noite.

Por fim, um artigo de fé que sempre repito nas minhas listas: declaro solenemente que não lerei todos aqueles autores que os cadernos de cultura proclamam como renovadores da língua portuguesa. Dos estrangeiros, nada de romances que mostrem “o American way of life tornado pesadelo”; já em matéria de heterodoxias, só acompanharei o pós-pós-modernismo de livros revolucionários que sigam a estranha ordem “início-meio-fim”.
Para a felicidade geral da nação, encerro. Cumprirei a lista? Eu e vocês duvidamos — nenhum problema, contudo: a graça da literatura consiste em ela ser uma rota que seguimos sem bússola, régua ou compasso. E não se esqueça: cartas de reclamações sobre este texto devem ser enviadas ao editor-amigo Euler de França Belém, na sede do Jornal Opção. Aos livros!