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O engenheiro e economista Rajendra Pachauri, de 74 anos, como presidente do Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão da ONU, ganhou o Prêmio Nobel da Paz por sua batalha contra o aquecimento global, em 2007. Na semana passada, denunciado por assédio sexual, renunciou ao cargo. Ele é diretor-geral da Teri, instituto da Índia especializado em pesquisas de climatologia.

Como Pachauri é respeitado internacionalmente, as denúncias de assédio sexual resultaram em repercussão global. Casado e pai de três meninas, o economista foi denunciado por uma ex-funcionária da Teri. Ela tem 29 anos. Em seguida, mais duas mulheres decidiram denunciá-lo. Segundo texto publicado pela revista “Veja”, as mulheres relataram que Pachauri cometia os abusos havia “pelo menos dez anos, com preferência por jovens com” escassa “experiência profissional”.

E-mails trocados entre Pachauri e duas mulheres sugerem que o economista abusava de seu poder como diretor da Teri para se aproximar, fisicamente, das mulheres. Num dos e-mails, o economista escreveu: “O que me assombra são as suas palavras da última vez que ‘apalpei’ seu ‘corpo’. Isso seria aplicável a alguém que te molestaria. Eu te amei em alma”. Ele admite que apalpou a mulher. No geral, o texto é vago, mas sugere, nas entrelinhas, que a mulher não aprovou a apalpadela. Advogados alegam que o e-mail de Pachauri foi raqueado, o que chega a ser uma defesa de má qualidade, tanto do ponto de vista técnico quanto moral. Só falta, no próximo passo, sustentarem que está “senil”.

Uma das vítimas, que trabalhou com Pachauri em 2005, disse: “Ele me atacou, fez isso com outras. Suas investidas físicas e atitudes, normalmente simplificadas [tipificadas] como ‘comportamento inapropriado’, eram de conhecimento comum e se transformaram em fofoca de corredor”. Outra denunciante conta que o economista costumava “levantar as mulheres como se fossem crianças; algumas saíam correndo ao ver que ele se aproximava”. Quando se interessava por uma mulher, sempre jovem, Pachauri despachava-a para o 5º do edifício no qual funciona a Teri. As mulheres que eram enviadas para lá, mesmo sem saber por quê, passavam a ser chamadas de “as meninas do 5º andar”. Pachauri enviava e-mails para todas e convidava-as para tomar vinho e jantar. Testemunhas sustentam que ele abraçava, apalpava, agarrava e beijava as mulheres à força.

O trabalho de Pachauri como cientista, devido ao assédio, pode ser posto em questão? A “Veja” diz que não, mas aponta problemas também na questão científica. “Não há, evidentemente, relação direta entre a postura pessoal de Pachauri e suas atividades profissionais, mas também nesse campo ele atraíra dúvidas. Logo depois da premiação com o Nobel, em 2007, foram apontados erros crassos em dados apresentados no relatório divulgado pelo IPCC a cada seis anos sobre a situação climática do planeta. Dois anos depois, vazaram e-mails de cientistas do IPCC que indicavam a participação do secretário-geral em um esquema de manipulação de informações. Suspeita-se que Pachauri tenha forçado a barra para que o já catastrófico cenário de aquecimento global, provocado pelo ser humano, ficasse com contornos ainda mais apocalípticos”.

O climatologista brasileiro Jean Ometto, do IPCC, deu uma opinião precisa: “O escândalo sexual é problemático, mas não pode comprometer a solidez e a relevância de nosso trabalho científico”. “Veja” complementa, com correção: “Pachauri deve ser” penalizado “se for comprovada a culpa. Mas a atitude estúpida do até então renomado climatologista não deve, de forma alguma, prejudicar as pesquisas que procuram evitar ou ao menos mitigar os efeitos catastróficos das inegáveis mudanças climáticas que afetam a Terra”.