Pós-impeachment, Fernando Collor teria ficado depressivo e Rosane temeu que pudesse se matar

15 novembro 2014 às 13h16

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O governo de Fernando Collor (1990-1992), a se aceitar o que diz Rosane Collor, no livro “Tudo o Que Vi e Vivi” (Leya, 222 páginas), tinha um presidente, o hoje senador por Alagoas, e um “primeiro-ministro dos negócios”, Paulo César Farias.
Rosane Malta afirma que os tentáculos de PC Farias estavam espraiados em vários setores do governo, como a Petrobrás. Quando ele tentou envolver-se nas licitações da Legião Brasileira de Assistência (LBA), a então primeira-dama reagiu e o pôs para fora. “O presidente é Fernando e você é o homem de confiança dele, mas eu quero deixar uma coisa bem clara: na LBA eu não permito que haja irregularidades.”
O jornal “Tribuna de Alagoas” foi criado por PC Farias para defender Fernando Collor no Estado. “Fernando apoiava a iniciativa. Mas Fernando estava, sim, envolvido no negócio. Tanto é que discutiu com Pedro [Collor] diversas vezes por causa disso.” Rosane não fornece nenhuma informação sobre a história de que, assentados em Alagoas, PC Farias e Fernando Collor pretendiam estender sua influência no setor de comunicação do país, possivelmente com a aquisição de uma rede nacional de televisão — o que teria desagradado Roberto Marinho e seus filhos.
Pedro Collor mostrou ao País que Fernando Collor tinha uma ligação umbilical com PC Farias. Rosane Malta corrobora: “Fernando e PC tinham, sim, uma relação muito próxima. Tanto é que ele tomava café da manhã toda semana na Casa da Dinda para tratar de negócios dos dois. (…) Fernando e PC se viam o tempo todo! O ex-tesoureiro tinha até uma casa perto da Dinda!”. Mas a ex-primeira-dama acredita que PC tinha voo solo e fazia negociatas nas costas do ex-presidente. Fernando Collor “é um homem muito inteligente” e, por isso, “não faria certas besteiras. Não deixaria tanto rastro”.
Mesmo não tendo a experiência política de Fernando Collor, Rosane Malta detecta, com precisão, uma de suas falhas. “Um dos grandes erros de Fernando durante seu governo foi não construir uma base sólida que o apoiasse. Ele não fortaleceu o seu partido [o inexpressivo PRN], não firmou alianças com os outros e acabou sendo apunhalado pela oposição sem que houvesse um escudo para protegê-lo. (…) Ao mesmo em que ele ama estar entre o povo, odeia contato com político.”
Quando começou a operação para o impeachment, Fernando Collor estava confiante e tentou aproximar-se da elite política nacional e simulou até ter se afastado de PC Farias. Aos poucos, “começou esmorecer. Ficou abatido e muito magro”. Na votação do impeachment, com o caso perdido, o ex-presidente chorou. Fernando Collor e Rosane saíram do Palácio do Planalto, de cabeça erguida e nariz empinado, pela porta da frente. Ele acatou orientação da mulher.
Porém, na Casa da Dinda, Fernando Collor desmoronou e Rosane Malta acreditou que pudesse se matar. “Tínhamos algumas armas em casa e fiz que elas sumissem. Durante todo o tempo em que estivemos casados, ele me dizia que, se eu o largasse, ele se mataria. (…) Dormíamos à base de remédio. Emagrecemos muito. Ele perdeu aquele porte atlético e ficou miudinho. Estava claramente deprimido, muito mais do que em qualquer outro período de sua vida. Sim, porque as crises de depressão de Fernando eram frequentes. Assim como as de euforia.” Quando presidente e quando moravam em Miami, tomava antidepressivos, segundo a ex-mulher.
Quando Rosane Malta estava depressiva, Fernando Collor saiu de casa e não mais voltou. Abandonou-a, sozinha, sem amparo. Pelo menos é o que se diz no livro. Logo depois apareceu com outra mulher, uma arquiteta, com quem se casou e tem duas filhas gêmeas. Rosane Malta engravidou-se de Fernando Collor, mas sofreu um aborto. Eles seriam pais de duas meninas. O médico que cuidou da gravidez da ex-primeira-dama é o hoje presidiário Roger Abdelmassih.
Não deixa de ser curioso que o livro tenha sido lançado apenas depois das eleições, na qual Fernando Collor foi reeleito para o Senado. Fica-se com a impressão, terminada a leitura, de que, apesar de tudo — de não ter sido apoiada quando teve depressão e de que o ex-marido a deixou quase na miséria, ficando até com suas joias —, Rosane Malta ainda gosta dele, tanto que diz que nunca conseguiu substitui-lo e o trata, o tempo todo, de “meu marido” e de “Fernando”, para denotar intimidade, nunca usando “ex-marido” e “Fernando Collor”. Apesar de ressaltar algumas grosserias, afirma que ele era um marido gentil e, quando queria, agradável. Presenteava-a com frequência e viajavam e gastavam muito.