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Nãos

 D. H. Lawrence

Lute, menino, sua luta de nada,

vá à luta e seja homem.

Não seja um bom menino, um bom moço,

sendo tão bom quanto você pode ser

e concordando com todas as matreiras, manhosas

verdades que os fingidos encenam

para se protegerem e à sua

ávida, glutona, gulosa

covardia de escolados grosseiros.

 

Não corresponda à queridinha que acaba

por custar sua macheza e te fazendo pagar.

Nem à velha mamãezona que orgulhosamente se gaba

de que você vai ser um dos que vão chegar.

 

Não conquiste opiniões valiosas, abalizadas

opiniões valendo obrigações do Tesouro,

de homens de todo tipo; não fique devendo nada

ao rebanho engordado para o matadouro.

 

Não queira ter meninos bons, bonitinhos,

os quais você terá de educar

para ganhar a vida; nem meninas gostosas, uns docinhos,

que vão achar muito difícil trepar.

 

Também não queira uma casinha, com os custos

que você terá de aguentar

ganhando a vida enquanto a vida se perde, e o susto

da morte um dia vem te agarrar.

 

Não se deixe sugar pelo sup-superior,

não engula a isca da cultura a chamar,

não beba, não vire um cervejado senhor,

aprenda, isto sim, a discriminar.

 

Mantenha-se inteiro e lute atento,

empurrando daqui ou empurrando de lá,

e tendo à noite o consolador sentimento

de que um pouco de ar você fez entrar.

 

No chiqueiro do dinheiro esse ar renovado

você pôs pelo buraco que na prisão pôde abrir,

fazendo o pouco que podia, empenhado

em que o Cristo ressuscite como forma de agir.

 

[Do livro “Poemas de D. H. Lawrence”, tradução de Leonardo Fróes. O poema é de 1929]