Pesquisa mostra que brasileiros “trocaram” o jornalismo impresso pelo jornalismo digital

21 junho 2025 às 21h01

COMPARTILHAR
No Portal dos Jornalistas, leio um interessante texto de Luciana Gurgel, sob o título de “Só um em dez ainda lê jornal impresso no Brasil e confiança nas notícias no país é maior que a média global, diz relatório do Instituto Reuters”.
O Reuters Institute, da Universidade de Oxford, divulgou na terça-feira, 17, o Digital News Report 2025. A respeito do jornalismo no país de Clarice Lispector e Yêda Schmaltz, o relatório conclui, de acordo com Luciana Gurgel, que “apenas um em cada dez entrevistados brasileiros ainda se informa por veículos impressos” (vale ler o que escrevi abaixo).
A crise dos impressos — se a palavra apropriada é crise — não é brasileira. É universal. Há cada vez menos jornais impressos em todo o mundo. “Nos Estados Unidos, apenas 7% consomem notícias no papel.” Mas lá, diferentemente de no Brasil, ainda é possível encontrar impressos em todas as cidades ou só nas grandes capitais?
A terra de Machado de Assis e Graciliano Ramos é uma das mais conectadas globalmente. O DataReportal aponta 86% de conectados. O tempo médio de uso das redes sociais é de 3h37 diariamente. Trata-se do “terceiro maior do mundo”.
Ao menos 35% dos brasileiros admitem que se informam por mídias digitais. “Taxa superior à de vários outros países com igual ou maior acesso à internet entre a população”, sublinha Luciana Gurgel.

Os brasileiros confiam mais na imprensa — 42% — do que os franceses (29%) e os americanos (30%). A média global de confiabilidade é de 40%.
Entrevistados sugeriram que eventualmente evitam ler notícias, “por razões emocionais ou por excesso de conteúdo”. Há leitores fugindo da overdose de notícias.
A pesquisa mostra que 65% dos entrevistados usam informações divulgadas por influenciadores digitais e plataformas como YouTube e TikTok. É uma tendência mundial.
“O TikTok foi apontado como principal rede social emergente para consumo de notícias”, assinala Luciana Gurgel. Porém, TikTok e Facebook também são vistas como redes sociais que divulgam desinformação. São rainhas dos fake news.
A pesquisa conclui que o público tem dificuldade “em distinguir notícias verdadeiras de falsas — um desafio agravado pelo uso de mídias sociais e ferramentas baseada em IA”.
Bancas de jornais se tornaram dinossauros urbanos
As bancas de revistas e de jornais — cada vez menos de jornais — estão se tornando dinossauros da paisagem das cidades. Aqui e ali, com observação atenta, pode-se encontrar uma e outra. Algumas vendem muitas coisas, como mel, cigarro, chicletes, balas, brinquedos e, sim, até revistas e, por vezes, algum jornal.
Em Goiânia, as bancas são cada vez mais raras. Nas bancas de Eunice Castro, na Praça da Nova Suíça, na Banca Capital, na Praça Tamandaré, na banca de Eduardo Domingos Salviano, na Avenida Goiás, e na Banca Paulista, do Zé, nas proximidades do Parque Vaca Brava, é possível encontrar, eventualmente, os jornais “Folha de S. Paulo” e “O Estado de S. Paulo” e as revistas “Veja”, “Exame” e “Piauí”. A revista de cultura “451” às vezes pode ser adquirida na banca de Eunice. Aparece num mês e some no seguinte.
Pergunto se os jornais impressos ainda vendem? Sim, vendem. Mas não muito. Até porque chegam muito poucos.
Os revisteiros-jornaleiros dizem que, como são poucos jornais — e a entrega nem sempre é certa —, os clientes foram desaparecendo. Ainda há leitores para os impressos, afiançam. O que não há, frisam, é veículos de comunicação impressos regulares nas bancas. Há procura por dois jornais, “O Globo” e “Valor Econômico”, mas nenhum circula mais, fisicamente, em Goiânia.
Pergunto aos jornaleiros qual é a idade média dos compradores de jornais impressos. Dizem que, “por incrível que pareça”, não são apenas pessoas velhas que compram impressos, como a “Folha”, “Estadão”, “Piauí” e “Veja”. Há jovens adquirindo impressos. São, no geral, estudantes.
De acordo com um jornaleiro, os velhos não sumiram das bancas, mas são vistos com menos frequência, nos últimos cinco anos. A média de idade dos compradores de impressos, como jornais e revistas, é de 40 anos. Mas há leitores mais jovem comprando impressos.
Eduardo Salviano tem clientes que encomendam a “Piauí”. Todos os exemplares de sua banca, assim como na banca de Eunice Castro, são vendidos. Nenhum é devolvido.
A “Veja” não vende como outrora, mas ainda há compradores. Há leitores que chegam, folheiam e acabam não comprando.
Então, a questão chave não é exatamente que as pessoas abandonaram os jornais e revistas impressos. Na verdade, os leitores foram, por assim dizer, abandonados pelas empresas que publicam impressos. “O Globo” e o “Valor Econômico” podem ser adquiridos, impressos, em São Paulo e Rio de Janeiro. Mas não nos demais Estados.
O que prevalecem são as edições online. Sou assinante da versão digital dos jornais “Folha”, do “Estadão” e de “O Globo” e das revistas “451” e “Veja” impressos. Porém, como o exemplar da “Veja” chega na minha casa apenas no domingo de manhã, leio a versão digital já na sexta-feira ou no sábado.
A “Veja”, na plataforma digital, tem a vantagem de conter reportagens atualizadas. Ainda assim, leio matérias maiores no domingo, com a caneta na mão direita, grifando trechos mais relevantes. É um hábito antigo, que mantenho. A “451” é mensal. Quando atrasa, leio a versão online.
Dos jornais do exterior, leio, com a ajuda de um sistema que abre as páginas, “The Guardian” e “New York Times” e sou assinante do “Abc”, da Espanha, por causa de seus excelentes textos sobre história (os espanhóis “La Vanguardia” e “El País” são jornais de qualidade).
Da América do Sul, leio, no ambiente digital, os jornais “Clarín” e “La Nación”, ambos da Argentina. Quando quero verificar o jornalismo mais de esquerda, dou uma zapeada pelo portenho “Página 12”, que é anti-presidente Javier Milei e pró-peronista.