Pedra no caminho da CNN Brasil são audiência, faturamento e Globo; não é Renata Afonso

22 novembro 2022 às 11h54

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As demissões nas grandes empresas, e não apenas nas jornalísticas, funciona mais ou menos assim. Primeiro, a cúpula esvazia o profissional — o executivo —, deixando de atender algumas de suas reivindicações pessoais ou coletivas. Segundo, pressiona para que saia. Terceiro, às vezes oferece para pagar o restante do contrato desde que os motivos do afastamento não sejam divulgados pública e amplamente.
Oficialmente, a jornalista Renata Afonso “pediu” demissão do cargo de CEO da CNN Brasil. Na sua carta de despedida, a profissional escreveu: “Escrevo hoje para comunicar que estou encerrando meu ciclo na CNN Brasil. Este foi um período intenso de realizações significativas que tenho a honra de compartilhar com todos vocês […] Estou convencida de que a CNN Brasil está preparada para esta próxima fase. Agradeço a cada um de vocês, pela dedicação e pelo convívio. Vocês são profissionais admiráveis. Encerro essa etapa realizada pela oportunidade de ter vivido tudo que vivemos e pelo que conquistamos até aqui”.
A CNN divulgou uma nota: “Comunicamos o encerramento do ciclo de liderança da CEO Renata Afonso. A CNN Brasil passa, neste momento, por um período de transição, em que o Executive Chairman João Camargo despachará diretamente com os executivos da casa. Em breve, será apresentada uma nova estrutura de liderança”.
O que realmente aconteceu, nos bastidores? Não se sabe. Mas a CNN Brasil, apesar de fazer jornalismo de qualidade, enfrenta dois tipos de problema. Primeiro, sua audiência continua aquém da GloboNews e da TV Globo. Segundo, em comparação com as concorrentes, seu faturamento decerto não é satisfatório.

Se os problemas forem audiência e faturamento — que não serão resolvidos de imediato —, a CNN se tornará uma máquina de moer seus executivos e editores. O problema não são, evidentemente, Douglas Tavolaro, o diretor anterior (que vendeu sua parte para Rubens Menin), e Renata Afonso. Resulta de um projeto que, se tende a pegar a longo prazo, ainda não pegou. A CNN faz jornalismo de primeira linha, com excelentes profissionais — na reportagem, na apresentação e na edição —, mas a empresa não consegue se aproximar das rivais, notadamente da Globo.
Há outra pedra no caminho: a concorrência por audiência não é apenas com a TV Globo, Band, Record e SBT. Há centenas de outros canais — a maioria de entretenimento — que açambarcam a audiência dos canais que divulgam notícias. E, no período da Copa do Mundo de Futebol, os telespectadores querem ver os jogos ou saber apenas dos resultados? A CNN Brasil, pelo que se sabe, não transmite os jogos da Copa.