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Salatiel Soares Correia*
Especial para o Jornal Opção

A professora Jô Sampaio integra o primeiro time dos intelectuais que compreendem a literatura em profundidade. Em seu mais recente artigo para o jornal Opção, ela mergulhou na obra de um autor que vem ganhando destaque com livros de sólida repercussão tanto nos meios literários goianos quanto além de nossas fronteiras.

Sob o olhar atento e arguto de Jô Sampaio, o escritor Edival Lourenço — a meu juízo, o mais importante autor goiano desde Bernardo Élis — tem sua obra analisada com rara sensibilidade crítica. O texto da talentosa Jô é revelador: mais do que uma resenha, é uma verdadeira chave de leitura para o universo literário de nosso maior escritor vivo.

Jô ilumina um aspecto essencial de sua literatura, apontado também pelo sociólogo Gilberto Freyre, ao falar do chamado “tempo tríbio”, no qual passado, presente e futuro se entrelaçam e se confundem. No entanto, na prosa de Edival Lourenço, o tempo adquire uma outra densidade: não se trata apenas de uma fusão temporal, mas de uma experiência existencial, onde o tempo é matéria poética, simbólica e visceral.

A análise de Jô Sampaio nos leva a compreender que, em Edival Lourenço, a literatura é mais do que arte: é um instrumento de escavação do ser goiano — um espelho que reflete a alma coletiva de um povo e o tempo profundo que habita em cada um de nós.

Com seu talento inato e raro faro intelectual, Jô Sampaio percebe nos escritos de Edival Lourenço um verdadeiro caleidoscópio de imagens, símbolos e camadas narrativas. Longe de uma leitura apressada ou superficial, sua análise revela a presença de um autor que trabalha a palavra como quem esculpe o tempo com as mãos.

Para Jô, Edival não é apenas um contador de histórias: é um arquiteto da linguagem, um construtor de mundos literários que desafiam o desgaste das décadas. Sua obra não se curva às erosões da moda ou ao imediatismo do mercado. Pelo contrário: é alicerçada em fundações tão sólidas que nem mesmo as areias do tempo serão capazes de apagar seus contornos.

A crítica de Jô Sampaio reconhece, nos textos de Edival, uma inquietação que ultrapassa o regionalismo simplório e mergulha no essencial humano — num tempo que pulsa sob a crosta das palavras. Sua literatura é de resistência e permanência. É a linguagem se fazendo memória, e a memória, por sua vez, voltando a ser carne, chão, sertão e sonho.

Nesse diálogo entre crítica e criação, entre a leitura iluminada de Jô e a escrita visceral de Edival, somos nós, leitores, os grandes beneficiados. A crítica encontra o autor que merece, e o autor encontra, enfim, a leitura que o revela em toda a sua grandeza.