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O “campeonato” de pior político, para a democracia, do século 20 foi “disputado” por Adolf Hitler (Alemanha), Benito Mussolini (Itália), Fidel Castro (Cuba), Francisco Franco (Espanha), Ióssif Stálin (União Soviética), Mao Tsé-tung (China), Nicolae Ceaușescu (Romênia) e Pol Pot (Camboja).

Dos oito listados, à esquerda e à direita, qual leva o título de pior? Difícil responder. Talvez seja preciso cravar um empate triplo entre Hitler, Mao Tsé-tung e Stálin. O primeiro de direita e os outros dois de esquerda. O terceto fascista e comunista matou, junto e separadamente, mais de 100 milhões de pessoas.

Mais do que autoritários, eram ditadores totalitários. O objetivo deles não era apenas ter o poder, mas também excluir, prendendo ou matando, todo aquele que fizesse a mínima crítica ao sistema. Não havia meio centímetro de espaço para vozes das oposições. A rigor, não existia oposição, pois não era permitido.

Como situar o ex-presidente Jair Bolsonaro, do PL, entre os oito homens mais letais da história, ao lado de Gengis Khan?

Bolsonaro apoiou a ditadura militar e, tudo indica, quis governar o Brasil como ditador, daí o plano para derrubar Lula da Silva. Não apenas queria retirar o petista-chefe do poder.

Os aliados de Bolsonaro planejaram matar Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. E, certamente, qualquer um que se opusesse.

Por que Bolsonaro não conseguiu aplicar o golpe que planejou, inclusive com o apoio de oficiais, como coronéis e generais? Porque o Exército, sob a batuta do general Freire Gomes, então seu comandante, não aceitou o golpe e sugeriu que poderia prendê-lo. O então comandante da Aeronáutica, Baptista Júnior, também se posicionou contra a derrocada da democracia.

Jair Bolsonaro e foto de livro de Brilhante ustra
Jair Bolsonaro mostra livro de torturador e se revela protótipo de ditador | Foto: Reprodução

Então, só não houve golpe porque o Exército e a Aeronáutica não quiseram compor com o golpismo articulado pelo bolsonarismo.

Ainda assim, no dia 8 de janeiro de 2023, poucos dias depois da posse de Lula da Silva (PT) na Presidência da República, golpistas, possivelmente articulados pelo bolsonarismo, invadiram o Planalto do Planalto, o Supremo Tribunal Federal e o Congresso. Ao golpe só faltou liderança decidida e armada. Porque o poder os bolsonaristas praticamente tomaram, por algumas horas.

Com receio de ser preso pelo Exército, Bolsonaro não assumiu o comando do anarquismo de direita, deixando seus “liderados” à mercê da polícia.

Se o golpe foi contido, se Bolsonaro não assumiu o poder, não é possível chamá-lo de ditador (talvez seja um protótipo). Não se deve, claro, tratá-lo como democrata, mas também não se tornou um Emilio Garrastazu Médici — por sinal, ao lado do coronel Brilhante Ustra (torturador contumaz), um de seus ídolos. Claro, é uma figura execrável, isto do ponto de vista de quem tem apreço pela democracia.

Por ter vocação de ditador, por ter articulado para ser ditador, o que não se tornou, Bolsonaro deve ser chamado de “Bozo” por uma apresentadora de televisão?

Na vida privada, no contato com amigos, colegas e parentes, Elisa Veeck tem o direito de criticar qualquer pessoa e chamá-la como quiser — inclusive de “Bozo”.

No ar, num programa que estava apresentando — na CNN Brasil —, ao chamar Bolsonaro de “Bozo” — como parte da esquerda o nomina —, Elisa Veeck, de 37 anos, desrespeitou o ex-presidente e, ao mesmo tempo, o telespectador.

Elisa Veeck pode até ser aplaudida pela “coragem” — notadamente pela esquerda —, mas, ao chamar Bolsonaro de “Bozo”, mostrou mais militância política do que profissionalismo (e, ressalte-se, é uma profissional do primeiro time). “Jogou” para a plateia de esquerda, mas não para todos os telespectadores.

Ao criticá-lo, nem precisava nominá-lo de “Bozo”. Bastava dizer o que ele realmente é: golpista, autoritário, tosco, grosseiro, antipatriota, acólito de Donald Trump. Há “adjetivos” que, de tão verdadeiros, soam como substantivos (que, com os verbos, são os músculos da língua).

A jornalista é namorada do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo — indicado pelo presidente Lula da Silva.