O conservador Estadão escreve editorial duríssimo contra Trump e Bolsonaro

10 julho 2025 às 19h19

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O “Estadão” é reaça e, ao mesmo tempo, um dos melhores jornais do Brasil. Na quarta-feira, 9, publicou um editorial duro — e muito bom — a respeito das taxações de 50% dos produtos do país pelo governo dos Estados Unidos.
O venerável “O Estado de S. Paulo”, fortalecido e reinventado pelos Mesquita, com Júlio e Ruy, é um jornal posicionado. Nunca em cima do muro. Apoiou a ditadura. Depois, renegou-a. Porque o que havia prometido fazer, consertar os supostos desmandos do governo de João Goulart, não o fez.
O editorial começa forte a partir do título, “Coisa de mafiosos”. E bate duro no subtítulo: “Que o Brasil não se vergue diante dos arreganhos de Trump. E que aqueles que são verdadeiramente brasileiros não se permitam ser sabujos de um presidente americano que envergonha a democracia”. O brilhante José Roberto Guzzo — mais reaça que o “Estadão” — deve ter chorado ao ler isto.
O editorial mostra inclusive o caráter desconexo da carta do presidente dos Estados Unidos, Donald John Trump, de 79 anos: “Da confusão de exclamações, frases desconexas, e argumentos esquizofrênicos na mensagem, depreende-se que Trump decidiu castigar o Brasil em razão dos processos movidos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro pela tentativa de golpe de Estrado e também por causa de ações do Supremo Tribunal Federal contra empresas americanas que administram redes sociais tidas pelo STF como abrigos de golpistas”.

O “Estadão” critica: “Trata-se de coisa de mafiosos. Trump usa a ameaça de impor tarifas comerciais ao Brasil para obrigar o país a se render a suas absurdas exigências”.
O jornal paulista desmente, de cara, o mito das trocas comerciais entre Brasil e Estados Unidos. “Os EUA têm um robusto superávit comercial com o Brasil. Ou seja, Trump mentiu descaradamente na carta para justificar a medida drástica. Trump pretende interferir diretamente nas decisões do Judiciário brasileiro, sobre o qual o governo federal, destinatário das ameaças, não tem nenhum poder.” (O Nobel de Economia de 2008, o americano Paul Krugman, escreveu a mesma sobre o as relações comerciais… chegou a pedir o impeachment de Trump.)
O jornal enfatiza: “Ao exigir que o governo brasileiro atue para interromper as ações contra Jair Bolsonaro, Trump imiscui-se de forma ultrajante em assuntos internos do Brasil. (…) Passou dos limites”.
Estadão defende fala de Lula da Silva
O que parecia impensável aconteceu, o “Estadão” postula: “A reação inicial de Lula foi correta. O presidente lembrou que o Brasil é um país soberano, que os poderes são independentes e que os processos contra os golpistas são de inteira responsabilidade do Judiciário”.
“E, também corretamente, informou que qualquer elevação de tarifa por parte dos EUA será seguida de elevação de tarifa brasileira, conforme o princípio da reciprocidade”, acrescenta o jornal.

O “Estadão” ressalta “o caráter absolutamente daninho do trumpismo e, por tabela, do bolsonarismo”.
Diante do descalabro do trumpismo e do bolsonarismo, posiciona-se o “Estadão”, “é absolutamente deplorável que ainda haja no Brasil quem defenda Trump, como recentemente fez o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que vestiu o boné do movimento de Trump, o Maga, e cumprimentou o presidente americano depois que este fez suas primeiras ameaças ao Brasil por causa do julgamento de Bolsonaro”.
Tarcísio de Freitas, visto como bolsonarista moderado, sai mal do editorial: “Vestir o boné de Trump, hoje, significa alinhar-se a um troglodita que pode causar imensos danos à economia brasileira. Caso Trump leve adiante sua ameaça, Tarcísio e outros políticos embevecidos com o presidente americano terão dificuldade para se explicar com os setores produtos afetados”.
Em seguida, o “Estadão” parte para cima do chefão da direita patropi: “Eis aí o mal que faz ao Brasil um irresponsável como Bolsonaro, com a ajuda de todos os lhe dão sustentação política com vista a herdar seu patrimônio eleitoral”.
No final, o “Estadão” fustiga: “Que o Brasil não se vergue diante dos arreganhos de Trump, de Bolsonaro e de seus associados liberticidas. E que aqueles que são verdadeiramente brasileiros, seja qual for o partido em que militam, não se permitam ser sabujos de um presidente americano que envergonha os ideais da democracia”.
Se pudesse reviver, é provável que o notável Alexis de Tocqueville, ao revisar seu clássico “A Democracia na América”, lhe daria novo título: “A Falta de Democracia na América”.