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No material comemorativo dos 75 anos da Editora Abril, o príncipe da publicidade brasileira — Washington Olivetto é o rei —, o baiano Nizan Guanaes, de 67 anos, concedeu uma entrevista à repórter Ana Carolina Pereira, da revista “Veja”, publicada sob o título de “A revista impressa vai voltar com tudo”.

O estrategista de comunicação e CEO da N Ideias está certo: o impresso, notadamente as revistas, “vai” mesmo voltar com “tudo”?

Nizan Guanaes assinala: “Vou bancar a aposta de que a revista impressa vai voltar com tudo. As pessoas adoram falar que a revista acabou. Eu não conheço uma marca que não tenha a sua própria revista. Então, isso merece uma reflexão. Não, a revista não acabou”.

“O que talvez tenha acontecido foi uma mudança de modelo de negócio. E a presença da revista na mão das marcas mostra claramente que o consumidor gosta de ter essa revista na mão”, diz Nizan Guanaes.

O publicitário, um dos mais premiados, não menciona as revistas “Piauí” (ou “piauí”), espécie de “New Yorker” do país, a “451”, a “Cult”, a “Continental”, a “Pernambuco” — as quatro de cultura —, que, de alta qualidade, são impressas. A “Piauí” e a “451” têm milhares de assinantes e cada vez mais. Sim, nas versões impressas.

Mundo é de quem luta contra a maré

Nizan Guanaes diz algo verdadeiro: “Vá nas outras fontes, vá em outros lugares. Onde estiver todo mundo indo, não vá. O que estiver todo mundo pensando, duvide. Quando o mundo faz ‘zigue’, precisamos fazer ‘zague’”.

Em seguida, Nizan Guanaes sublinha: “Sejam confiantes de lutar contra a maré porque o mundo é de quem luta contra a maré”.

A tese de Nizan Guanaes é acertada? Em parte, sim. A revista impressa talvez siga o caminho do livro — no Brasil, o livro impresso continua como o formato favorito dos leitores —, quer dizer, deve sobreviver.

Marcão da Banca revista Piauí

Entretanto, com a força do digital, dificilmente a revista impressa vai “voltar com tudo”. Não vai. Há uma diferença entre o que se deseja e a realidade.

As revistas, as de grupos com estrutura, como a “Piauí”, a “451” e a “Veja”, e jornais, como “Valor Econômico” e “Estadão”, tendem a perdurar, mas com tiragens possivelmente menores. A tendência é que as demais publicações reforcem seu material digital.

Mas cá entre nós quem é que não gosta de ler uma boa reportagem e um bom artigo — fundamentando — num veículo impresso? Todos nós, é claro. Muitas pessoas chegam a imprimir textos mas alentados para ler, reler e, até, guardar.

Mas isto, insistamos, não é o mesmo que sugerir que o impresso vai retornar com força total. Não vai. Vai ser um negócio cada vez mais cult, para poucos. Para leitores mais qualificados. Para nichos.