COMPARTILHAR

Anne Applebaum, Simon Sebag Montefiore e Robert Service devem muito às publicações pioneiras do historiador britânico

coquest

Robert Conquest morreu no dia 3 de agosto, aos 98 anos, em Stanford, na Califórnia. Todos que estudam o stalinismo devem alguma coisa às pesquisas pioneiras do historiador inglês.

Hoje, numa visita às livrarias, os leitores vão encontrar livros muito bem pesquisados sobre o governo de Ióssif Stálin. Simon Sebag Monte­fiore, Martin Malia, Anne Apple­baum, Catherine Merridale, Dmitri Volkogonov, Moshe Lewin, Robert Service, Orlando Figes, Robert Tucker, Richard Pipes publicaram livros cruciais, com base nos arquivos que foram abertos depois da debacle do comunismo na União Soviética, sobre o stalinismo (que criou uma espécie de holocausto). Antes de 1991, havia muitos livros sobre a União Soviética, mas, dada à falta de documentos, baseavam-se em depoimentos e especulações. Mas Robert Conquest não se contentou com os dados divulgados até então e pôs-se a pesquisar.

Com o rigor típico dos pesquisadores ingleses, Robert Conquest escarafunchou os arquivos possíveis, ouviu pessoas e leu centenas de livros. Um dos resultados é o clássico “O Grande Terror — Os Expurgos de Stálin” (Expressão e Cultura, 600 páginas, tradução de Henrique Benevides). O livro, publicado em 1968 na Inglaterra e Estados Unidos e em 1970 no Brasil, é detalhado e revela a crueldade do stalinismo, mas de maneira meticulosa — tanto que livros posteriores, inclusive com a abertura dos arquivos, eventualmente, em alguns aspectos, não precisaram atualizar a pesquisa. Pelo contrário, confirmaram a pesquisa exaustiva de Robert Conquest. Há o que acrescentar — não o que desmentir.

Publicado na década na qual as ideias da esquerda eram hegemônicas, quando os jovens ainda estavam encantados com o comunismo, o livro de Robert Conquest provocou debates sérios e, alguns, disparatados. Chegaram a sugerir que se tratava de propaganda anticomunista. O tempo mostrou que, na verdade, era uma radiografia precisa do terror criado pelo stalinismo. O que se provou, mais tarde, é que o terror havia sido muito pior do que havia descrito o brilhante doutor por Oxford.

“O expurgo não foi uma surpresa repentina e total, pois tinha suas raízes no passado soviético. Em si mesma, ele foi uma forma de obrigar” a sociedade e o Partido Comunista “a uma mudança violenta”, anota Robert Conquest na introdução do livro.
Pode-se dizer que Robert Con­quest é o pai da moderna pesquisa — ancorada em fatos bem apurados e em interpretações críticas e objetivas — sobre a União Soviética.

Outros livros do historiador: “Poder e Política na URSS”, “Stalin and the Kirov Murder”, “Great Terror — A Reassessment” (revisão e atualização de seu clássico) e “Harvest Of Sorrow Soviet Collectivisation And The Terror-Famine”.