Morre o jornalista Carlos Chagas, assessor de Costa e Silva, mestre da UnB e autor de obras históricas

26 abril 2017 às 16h10

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Ele escreveu livros de história, sobre os bastidores da ditadura, que são referências para pesquisadores do período

Como Carlos Chagas, que morreu na quarta-feira, 26, aos 79 anos, ficará na história? Como assessor de imprensa do general-presidente Costa e Silva? Como um grande repórter e articulista? Como professor de jornalismo? Como autor de ótimos relatos jornalísticos, que são verdadeiros livros de história? O esboço do perfil de um indivíduo depende da soma das partes. Mas, se uma pessoa deve ser avaliada pela média, e não pelos extremos — que só geram incompreensões e reduções —, é possível concluir que Carlos Chagas era, acima de tudo, um grande jornalista, dos mais bem informados, como indicam seus livros.
“Ele já andava tendo de um ano para cá alguns problemas circulatórios, teve isquemia sem sequelas. Hoje foi um mal súbito. Entrou na UTI e estourou um aneurisma de aorta. Com isso, sei que ele não sofreu”, conta Helena Chagas, sua filha. Ela o define como “maravilhoso” e “protetor”. Ele era mineiro de Três Pontas e morava em Brasília. Faria 80 em 20 de maio. “Amigos, meu pai, jornalista Carlos Chagas, acaba de falecer. Era a melhor pessoa que conheci nesse mundo”, afirma Helena Chagas.
Internado, Carlos Chagas chamou seus familiares para uma reunião. Era a “última”, embora ele não soubesse, frisa Helena Chagas. “Ele deu instruções: ‘Tem que pagar meu imposto de renda. O cheque está lá em cima da mesa’. São coisas que uma pessoa diz naturalmente.” A jornalista afirma que o pai era “muito lúcido e muito ativo. Ele foi um grande jornalista. Um exemplo de seriedade, de amor à notícia, de honestidade. Não só para mim, mas para muitos outros alunos dele da Universidade de Brasília. Sempre com amor à notícia, amor à verdade. Agora, falando como filha, posso dizer que meu coração está despedaçado. Ele foi um grande pai, um pai maravilhoso e protetor. Falando como filha, não tenho mais palavras.”
Depoimento de Otávio Lage sobre Costa e Silva
Carlos Chagas contou a alguns jornalistas, entre eles o goiano Hélio Rocha, articulista de “O Popular”, como havia acontecido o acidente vascular cerebral do presidente Costa e Silva. No livro “Inquilinos da Casa Verde”, Hélio Rocha entrevistou Otávio Lage, que foi governador de Goiás (eleito, por sinal). Trecho da entrevista, no qual Otávio Lage relata que, conversando com Costa e Silva, no Palácio do Planalto, percebeu que o presidente havia começado a passar mal: “Ele comentou, na ocasião estava aquele problema da Força Aérea Canadense, que eu tinha engordado, começamos conversar assim, ameno, conversa amena e ele brincando assim comigo, todo dia eu durmo 10, 15 minutos depois do almoço, porque se eu não dormir eu venho para cá e fico abrindo a boca. De repente ele começou a falar coisas que não se ligavam uma com a outra. Eu sabia que ele já tinha tido alguma coisa, realmente ele tinha dado uma rateada. Infelizmente, para Goiás, pode ser que o Brasil, ele não tenha feito tanta falta mas para Goiás fez, porque ele era amigo de Goiás mesmo”.