Morre Marceu Vieira, o jornalista que ajudou Ancelmo Gois, Marcelo Adnet e Pedro Bial a brilhar

30 setembro 2025 às 07h51

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Primeiro dia de aula com o professor Muniz Sodré. Todos tensos, possivelmente, quem sabe até o mestre. Era uma aula sobre o lide, aquele trecho inicial da reportagem, que explica o básico para o leitor. A eminência intelectual da Universidade Federal Fluminense pede que os estudantes de Jornalismo escrevam um texto de 30 linhas sobre Gênesis, um dos livros mais estupendos da Bíblia.
Todos escreveram, certamente estupefatos. Mas só um tirou nota 10. Tratava-se de Marceu Vieira, brilhante deste os tempos do curso de Jornalismo da UFF. O relato foi contado ao Globo pelo jornalista Aydano André Motta, colega de faculdade e de redação.
Mas cadê o lide deste texto? Talvez inspirado pelo obituário de “O Globo”, cujo lide só aparece no nono parágrafo, deixei o meu lide para o terceiro parágrafo; por sinal, com frases curtas, como está na moda no mundo telegráfico dos dias atuais. Pois bem: Marceu Vieira morreu aos 63 anos, na segunda-feira, 29, de complicações derivadas de um câncer no pulmão.
O programa “Conversa com Bial”, apresentado por Pedro Bial, perde um de seus principais colaboradores.
Não deixei de notar que a reportagem de “O Globo”, que uso para escrever este texto, publicou uma fotografia de Marceu Vieira retirada das redes sociais e até explicou que se trata de uma “reprodução”. Por que a notação? Porque o repórter trabalhou, durante muitos anos, nas publicações do Grupo Globo, como “O Globo” e “Época”. Não havia uma fotinha do notável jornalista nos arquivos do jornal da família Marinho?
Quem era Marceu Vieira, tão pranteado pelo grande Ancelmo Gois?
Marceu Vieira se dizia jornalista, compositor, ficcionista e roteirista. Ao currículo, já gordo, é preciso acrescentar: letrista e cantor. De acordo com “O Globo”, “era movido por múltiplos interesses, sempre pautados pelo humano e seus sentimentos mais nobres: ao mor, a generosidade, a alegria, o congraçamento, a amizade”.
Nascido em Nova Iguaçu e formado em Jornalismo em 1982, cedo Marceu Vieira caiu nas redações. Primeiro, na “Tribuna da Imprensa”, de Helio Fernandes, irmão de Millôr Fernandes. De lá marchou para outras redações, como “O Nacional”, “Veja”, “O Dia”, “Jornal do Brasil”, “Época” e “O Globo”. No último, começou como repórter e se tornou editor de “Esportes”. Trabalhou como repórter-redator da coluna de Ancelmo Gois.
“Ele foi meu irmão carioca, já que os outros nasceram em Sergipe. Eu o adotei como um irmão, com quem convivi desde meados dos anos 1980, ainda no ‘JB’. Em 2001, quando cheguei ao ‘Globo’, Marceu foi o primeiro jornalista que convidei para a coluna. Fizemos juntos mais de 70 mil notinhas, até que ele teve que sair para assumir a Editoria de Esportes. Foi Marceu quem ajudou a coluna a celebrar o Rio, mesmo com todas as suas mazelas”, relata Ancelmo Gois.
Marceu Vieira publicou livros, como “Betinho — No Fio da Navalha” (com Emir Sader, Franklin Martins, Suely Caldas e Fernando Molica), “Nada Não e Outras Crônicas” e “Bip Bip — Um Bar a Serviço da Alegria” (com Francisco Genu e Luiz Pimentel). O Bip Bip é um boteco de Copacabana que se tornou qg do samba e do qual o jornalista era habitué.
Filho de acordeonista, Marceu Vieira tinha música no sangue, pois. Lendo, observando, ouvindo muita música, sobretudo samba, o repórter atilado começou a escrever letras. “Fez mais de 120 canções” ao lado do parceiro Tuninho Galante. Juntos lançaram o CD “Edição do Autor”.
Entre os parceiros musicais de Marceu Vieira, na arte da composição, estavam Teresa Cristina, Nilze Carvalho, Luís Flávio Alcofra, Ney Conceição, Marquinhos de Oswaldo Cruz, Ernesto Pires, Lefê Almeida e Paulo Aragão. “O Globo” informa que “foi autor de sambas que animaram desfiles de blocos do Rio”.
O programa “Adnight”, de Marcelo Adnet, teve como um de seus criadores Marceu Vieira. Ele “escrevia quadros e compunha paródias” para o apresentador brilhar.