“Um bom jornal, penso eu, é uma nação falando consigo mesma.” Arthur Miller

O Brasil é um país independente há 202 anos (o “aniversário” será setembro). Há quem postule que, com a chegada da Corte Portuguesa à Colônia, em 1808, nascia a nação patropi. Mas temos um jornal com 202 ou 216 anos? Nenhum.

Diz-se: o “Correio Braziliense”, de Hipólito da Costa, foi fundado, em Londres, em 1808. O jornal, com sede em Brasília, teria, portanto, 216 anos. Porém, o “Correio” de 1808 não é o mesmo que Assis Chateaubriand recriou e consolidou como um dos melhores jornais do país. É outro, bem outro.

Virgínia Fetter: dirigente do jornal “Diário Popular” | Foto: Reprodução

Dos grandes jornais vivos, o “Estadão” (“O Estado de S. Paulo”) é o decano, com 149 anos. A seguir, vêm o “Jornal do Brasil” — que perdeu o, digamos, charme —, que tem 133 anos.

A “Folha de S. Paulo” é centenária. São 103 anos. “O Globo” completa 100 anos em 29 de julho de 2025. O “Estado de Minas”, do grupo Diários Associados — o mesmo que edita o “Correio Braziliense” —, tem 96 anos.

O jornal não é um empreendimento tão lucrativo, ao contrário do que muitos pensam. Pode-se sugerir que confere mais poder aos seus proprietários do que dinheiro. Por isso, tantos jornais surgem e, em seguida, fecham as portas.

Com a internet, alguns jornais impressos se tornaram apenas digitais, com a finalidade, sobretudo, de reduzir cursos. Mesmo assim, não é nada fácil manter uma estrutura jornalística, sobretudo se conta com sede e funcionários contratados.

O fim do Diário Popular: 133 anos no mercado

Lucas Kurz: diretor de redação do “Diário Popular” | Foto: Facebook

Na quarta-feira, 12, o jornal “Diário Popular”, de Pelotas (Rio Grande do Sul), encerrou suas atividades. Portanto, uma lágrima viva para o “DP” — que estava no mercado havia 133 anos. Suas portas foram abertas três anos depois da Abolição da Escravatura. O que mostra o quão longevo era o jornal.

O chefe de redação do “Diário Popular”, Lucas Kurz, relata que o jornal não terá nem versão digital. Acabou mesmo.

A diretora-superintendente do “Diário Popular”, Virgínia Fetter, explica que a pandemia da Covid agravou a crise do jornal. A pá de cal foram as atuais enchentes do Rio Grande do Sul.

Virgínia Fetter diz que tentou manter o jornal funcionando, inclusive com obtenção de empréstimos, mas, a partir de certo momento, não deu mais. O “Diário Popular” havia se tornado inviável.

No comando do “Diário Popular” havia 28 anos, Virgínia Fetter sucedera o pai, Edmar Fetter. Este sucedera o pai, Adolfo Fetter.