Mídia deve deixar de cobrir Bolsonaro no Palácio da Alvorada porque não é relevante

27 maio 2020 às 12h34

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Mídia deve deixar de “cobrir” Bolsonaro não apenas por temer a violência dos bolsonaristas, mas também porque lá não se diz nada que contribua pra melhorar o país

Leitores perguntam ao Jornal Opção: “A Globo age corretamente ao não enviar repórteres para a porta do Palácio da Alvorada para cobrir o presidente Jair Bolsonaro?”
Não verdade, além dos veículos do Grupo Globo, “Folha de S. Paulo”, Band, Metrópoles e “Correio Braziliense” também decidiram não enviar equipes de reportagem para o cercadinho do palácio, onde mora o presidente Jair Messias Bolsonaro.
De fato, se não há segurança para repórteres, fotógrafos e cinegrafistas, se há risco de alguém ser agredido — e, quem sabe, até morto —, os meios de comunicação têm o direito e até o dever de manter seus profissionais afastados.

Faço, porém, dois questionamentos.
Primeiro: deixar de cobrir um presidente talvez seja uma atitude anti-jornalística. Talvez seja o caso de pedir proteção policial aos profissionais. Nas guerras do Afeganistão e do Iraque, correndo risco de morte, os repórteres não deixaram de reportar os confrontos. Certamente que tomaram os devidos cuidados, mas não arredaram pé.
Segundo: o argumento para deixar de cobrir o “circo” do presidente Jair Bolsonaro, na porta do palácio, pode ser outro. Os meios de comunicação poderiam publicar reportagens mostrando que os encontros matinais são improdutivos. Poderiam, inclusive, dizer aos leitores e telespectadores quais, em tantos diálogos (monólogos) com a “mídia”, foram as informações realmente relevantes para o país. Ou só há ofensas contra a “mídia”?
A mídia deve deixar de cobrir o matraquear de Jair Bolsonaro não apenas por temer a violência dos bolsonaristas — sobre os quais o presidente parece ter ascendência —, e sim, sobretudo, porque lá, ao menos lá, não se diz nada que contribua para melhorar o país. As conversas, que geram atritos gratuitos, são absolutamente improdutivas. Talvez seja um argumento mais improdutivos para se bater em retirada.
Seria possível uma reportagem mostrando o que fazem as pessoas que frequentam a porta do palácio? Elas não trabalham?
Da Wikipédia
“O nome ‘Alvorada’ é uma homenagem do presidente Juscelino Kubitschek ao amigo e ministro Victor Nunes Leal, nascido no distrito de Alvorada, em Carangola, Minas Gerais.”