A melhor Bienal do Livro de São Paulo são as livrarias Cultura, da Vila e Martins Fontes

01 setembro 2016 às 10h49

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A Bienal do Livro é como um garimpo. Com sorte e paciência, afastando a cassiterita, é possível encontrar algumas pepitas de ouro
A melhor Bienal do Livro de São Paulo são a Livraria Cultura, a Livraria da Vila e a Livraria Martins Fontes. Com a vantagem de que são permanentes e organizadas (em segundos, um funcionário diz se há um livro ou não e se é possível encomendá-lo). A Bienal do Livro não tem a variedade das melhores livrarias. Em algumas bancadas, há uma mistura de livros medianos, bons e ruins. Como ficam todos juntos, às vezes e com certo esforço, no meio das cassiteritas, é possível encontrar algumas pepitas de ouro.
Estive na Bienal do Livro, no Anhembi, no sábado, 27. Fiquei lá durante algumas horas e andei vários quilômetros, vasculhando stands, estantes e mesas. A Bienal do Livro não é uma Apple, mas também não é uma empresa chinesa que fabrica bugigangas.
Se a pessoa tiver paciência para escarafunchar as mesas e estantes — a competição é feroz, pois a quantidade de gente no Anhembi é formidável, sapeando e, por vezes, comprando livros —, se andar muito, em busca dos estoques mais qualitativos, pode ser que encontre algumas pepitas de ouro.
Num stand, todos os livros da Companhia das Letras estavam sendo vendidos a 7 reais, mas, como informou um vendedor, um homem, que ele acredita ser dono de sebo, pois andou falando sobre o site Estante Virtual, comprou a maioria, possivelmente para revender pelo triplo do preço. A 7 reais, comprei “O Castelo de Axel”, de Edmund Wilson, “Ada”, romance de Vladimir Nabokov, e “Origem”, de Thomas Bernhard. Adquiri também o livro “Pelo Amor ao Saber: Os Orientalistas e Seus Inimigos” (Editora Record), de Robert Irwin, que desmonta, com classe e competência, um das obras de Edward Said, “Orientalismo”; e um romance do gigante francês Louis-Ferdinand Céline (“Não sou um homem de idéias, sou um homem de estilo”), “De Castelo em Castelo”.
Noutro stand, qualquer livro sai a 10 reais. Com paciência e sorte, é possível encontrar livros de qualidade, como um ou outro de Michael Mann, o grande pesquisador inglês radicado nos Estados Unidos (autor de um livro seminal sobre o fascismo, que deveria ser lido pela esquerda patropi, para que possa entender o que é, de fato, fascismo).
Na Bienal do Livro, meca do espetáculo, o que atrai mesmo o público, o grande público, são as palestras de famosos e, sobretudo, escritoras jovens de best sellers, que são tratadas como celebridades. Atraído pela histeria, fui a um dos stands de uma celebridade instantânea. Peguei seu livro, folheei, li duas páginas e olhei para a garota. Concluí: é uma jovem bonita e, portanto, tem futuro, quem sabe, como modelo.
O stand do Sesc é espantoso, tanto pelos livros de qualidade, quanto pelos CDs, que são baratíssimos, na faixa de 2 reais (Gilberto Mendes) a 4 reais (Villa Lobos).
Num stand, Ary Toledo, que eu nem sabia que estava vivo, contava histórias e piadas. Estava cercado por alguns, digamos, saudosistas, mas os jovens mantinham-se afastados, mais preocupados com outras celebridades.