A Bienal do Livro é como um garimpo. Com sorte e paciência, afastando a cassiterita, é possível encontrar algumas pepitas de ouro

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A melhor Bienal do Livro de São Paulo são a Livraria Cultura, a Livraria da Vila e a Livraria Martins Fontes. Com a vantagem de que são permanentes e organizadas (em segundos, um funcionário diz se há um livro ou não e se é possível encomendá-lo). A Bienal do Livro não tem a variedade das melhores livrarias. Em algumas bancadas, há uma mistura de livros medianos, bons e ruins. Como ficam todos juntos, às vezes e com certo esforço, no meio das cassiteritas, é possível encontrar algumas pepitas de ouro.

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Estive na Bienal do Livro, no Anhembi, no sábado, 27. Fiquei lá durante algumas horas e andei vários quilômetros, vasculhando stands, estantes e mesas. A Bienal do Livro não é uma Apple, mas também não é uma empresa chinesa que fabrica bugigangas.

Se a pessoa tiver paciência para escarafunchar as mesas e estantes — a competição é feroz, pois a quantidade de gente no Anhembi é formidável, sapeando e, por vezes, comprando livros —, se andar muito, em busca dos estoques mais qualitativos, pode ser que encontre algumas pepitas de ouro.

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Num stand, todos os livros da Companhia das Letras estavam sendo vendidos a 7 reais, mas, como informou um vendedor, um homem, que ele acredita ser dono de sebo, pois andou falando sobre o site Estante Virtual, comprou a maioria, possivelmente para revender pelo triplo do preço. A 7 reais, comprei “O Castelo de Axel”, de Edmund Wilson, “Ada”, romance de Vladimir Nabokov, e “Origem”, de Thomas Bernhard. Adquiri também o livro “Pelo Amor ao Saber: Os Orientalistas e Seus Inimigos” (Editora Record), de Robert Irwin, que desmonta, com classe e competência, um das obras de Edward Said, “Orientalismo”; e um romance do gigante francês Louis-Ferdinand Céline (“Não sou um homem de idéias, sou um homem de estilo”), “De Castelo em Castelo”.

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Noutro stand, qualquer livro sai a 10 reais. Com paciência e sorte, é possível encontrar livros de qualidade, como um ou outro de Michael Mann, o grande pesquisador inglês radicado nos Estados Unidos (autor de um livro seminal sobre o fascismo, que deveria ser lido pela esquerda patropi, para que possa entender o que é, de fato, fascismo).

Na Bienal do Livro, meca do espetáculo, o que atrai mesmo o público, o grande público, são as palestras de famosos e, sobretudo, escritoras jovens de best sellers, que são tratadas como celebridades. Atraído pela histeria, fui a um dos stands de uma celebridade instantânea. Peguei seu livro, folheei, li duas páginas e olhei para a garota. Concluí: é uma jovem bonita e, portanto, tem futuro, quem sabe, como modelo.

O stand do Sesc é espantoso, tanto pelos livros de qualidade, quanto pelos CDs, que são baratíssimos, na faixa de 2 reais (Gilberto Mendes) a 4 reais (Villa Lobos).

Num stand, Ary Toledo, que eu nem sabia que estava vivo, contava histórias e piadas. Estava cercado por alguns, digamos, saudosistas, mas os jovens mantinham-se afastados, mais preocupados com outras celebridades.