Filósofa não aceita debater com líder do Movimento Brasil Livre, pois prefere discutir apenas com seus pares de esquerda

Marcia Tiburi: filósofa e escritora

Há alguns anos, ao ser flagrada por ter copiado um longo trecho de um livro do filósofo francês Claude Lefort, a filósofa Marilena Chauí atacou o sociólogo e ensaísta José Guilherme Merquior — na verdade, deve ser considerado filósofo, e dos mais qualificados —, acusando-o de ser funcionário do Estado (como se uma professora de uma universidade pública não o fosse; a crítica da mestre da USP tinha mais a ver com o fato de Merquior ser liberal, e não de esquerda). A especialista em Espinosa arregimentou defensores, como Roberto Romano e Maria Sylvia de Carvalho Franco. Tempos depois, o filósofo Roberto Romano, intelectual de primeira linha, admitiu que havia errado ao criticar Merquior, que, ao comentar o plágio, não havia cometido nenhum equívoco.

Kim Kataguiri, coordenador nacional do Movimento Brasil Livre

Recentemente, a revista “Piauí” abriu suas páginas para um debate cáustico mas civilizado entre o filósofo Ruy Fausto e o economista Samuel Pêssoa. Ambos expuseram suas ideias, apontando possíveis equívocos um do outro, mas sem os tradicionais xingamentos. Tudo indica que os reparos do liberal Samuel Pêssoa contribuíram para “reforçar” o pensamento do marxista Ruy Fausto — um crítico visceral, por sinal, de Marilena Chauí (que se tornou uma militante limitada do lulopetismo). Tanto que usou parte do publicou na revista num livro.

Pode-se não gostar das ideias da filósofa Marcia Angelita Tiburi, autora de livros provocantes — na linha do panfleto sofisticado —, mas não se pode sugerir que não tem formação intelectual. Há pouco, escreveu um livro, “Como Conversar com um Fascista”, que deve ter se tornado best seller, porque virou livro de cabeceira dos que, digamos, tem pouca “cabeça” e se comportam como militantes. Mas, pelo visto, na prática a teoria é outra. Na quarta-feira, 24, quando teve a chance de conversar com um liberal — o liberalismo é antifascista —, o jovem Kim Kataguiri, líder do Movimento Brasil Livre (MBL), que está em processo de formação e maturação, reagiu de maneira abrupta e antidemocrática.

Marcia Tiburi estava concedendo entrevista ao jornalista e ensaísta Juremir Machado da Silva, na Rádio Guaíba, de Porto Alegre, quando descobriu que Kim Kataguiri também havia sido convidado. A filósofa assustou-se, como se Juremir Machado — intelectual de esquerda, autor de livros polêmicos — não tivesse o direito de convidar pessoas que não são de esquerda. Autora do livro “O Ridículo Político”, Marcia Tiburi comportou-se, vá lá, de maneira ridícula: “Me avisa da próxima vez quem você convida ao seu programa”. E saiu correndo do estúdio da rádio. Ao que parece, a filósofa quer debater apenas com seus pares de esquerda — aqueles que são ideologicamente “confiáveis” e, portanto, não a confrontam.

A filósofa, entre assustada e apavorada, acrescentou: “Deus me livre. Que as deusas me livrem. Tenha vergonha de estar aqui. Gosto tanto de ti [de Juremir Machado, um par], mas não falo com pessoas que são indecentes, que são perigosas”. Marcia Tiburi não explicou o que é indecência nem por qual motivo considera Kim Kataguiri “perigoso”. Quem pensa diferente da filósofa e escritora é “perigoso”? É a sua mensagem? Será que debateria com Ruy Fausto, que, apesar de ser de esquerda, é um crítico “perigoso” de Paulo Arantes e Marilena Chauí? É provável que não.

Marcia Tiburi ficou com medo e o medo é paralisante… Mas por que, exatamente, uma filósofa tão qualificada ficou com receio de debater com um garoto, um Hans Castorp? Trata-se de uma intelectual insegura?

O que se depreende da reação de Marcia Tiburi — cuja formação intelectual é superior à de Kim Kataguari — é que quer aplausos e não discutir ideias. Seu espírito é o de confraria. Uma pena, porque a filósofa gaúcha (nasceu em Vacaria), de apenas 47 anos, é qualificada.