Criado por Tarso de Castro e Jaguar, entre os outros, o jornal debochava de quase tudo, sobretudo da ditadura militar

O jornal “O Pasquim” fez sucesso por dois motivos. Primeiro, debochava da ditadura e de várias outras coisas. Se a crítica fosse apenas à ditadura, faria sucesso, é certo. Mas, ao acrescentar outros ingredientes, como entrevistas e textos notáveis, conquistou um público mais amplo, inclusive muitos jovens. Segundo, era divertido. Sua crítica não era rancorosa e sua linguagem era popular (e, ao mesmo tempo, modernista e finamente elaborada).

As ilustrações e caricaturas de Jaguar, Ziraldo, Henfil e Miguel Paiva, para citar os quatro mais importantes, eram (são) de ótima qualidade. E, claro, não se podia deixar de ler Millôr Fernandes, com seu humor afiado, Tarso de Castro, Paulo Francis, Luiz Carlos Maciel, Ivan Lessa, Sérgio Cabral, Martha Alencar e, entre outros, Sérgio Augusto. Era uma turma que, embora não tenha inventado o jornalismo literário, ajudou a reinventar o jornalismo crítico e bem-humorado, com acidez máxima. Consta que censores liam, às vezes não entendiam, mas riam de quase tudo.

A história de “O Pasquim” vem sendo contada ao longo do tempo. Tom Cardoso escreveu ótimo livro sobre Tarso de Castro, o subestimado criador do “Pasca”. Há uma patota que tenta “extirpar” Tarso de Castro — que foi uma das grandes paixões da atriz Candice Bergen — da história do “Pasquim” e sugerir que “tudo” era feito por Millôr, Jaguar, Ziraldo.

Agora chega um novo livro às livrarias: “Rato de Redação — Sig e a História do Pasquim” (Matrix, 192 páginas), de Márcio Pinheiro. “O Pasquim”, fundado em junho de 1969 (sob a ditadura mais feroz, a do AI-5 — o que prova a coragem de seus criadores), começou vendendo 28 mil e, no auge, vendia 250 mil exemplares. Em 1991, o jornal fechou as portas. Suas entrevistas, linguagem (rápida, cortante) e o vocabulário — com a criação de novas palavras, como “putzgrila” — eram excepcionais. Às vezes, as perguntas debochadas e/ou sutis eram mais interessantes dos que as respostas dos entrevistados.

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Tarso de Castro é o jornalista que criou o Pasquim e namorou a atriz americana Candice Bergen