O indiozinho Katteca, o sapeca, morreu nesta sexta-feira, 8, aos 50 anos. Foi-se junto com seu criador, o cartunista Britvs, nascido João Luiz Brito Oliveira havia 71 anos, que não resistiu a um choque cardiogênico, como noticiou sua filha Lorena Brito.

Katteca nasceu em 1973, quando Britvs já tinha alguns anos de trabalho no jornal O Popular. Desde que foi criado, passou a se “intrometer” em todos os assuntos que estivessem em alta, na cidade, no Estado ou no País. Assim, extremamente crítico, recontava aos leitores de forma mais lúdica e irreverente, alguma das notícias que eram estampadas nas outras editorias.

Impossível não ter sido leitor de jornal em Goiás sem tê-lo conhecido. Não Britvs – de perfil bastante discreto, aliás – mas Katteca. A criatura era tão carismática que passou a se confundir com o criador: na redação, perguntavam “o Katteca já enviou a tirinha?”.

E por que dizer que Katteca morreu junto com seu criador? Porque não haverá outro que seguirá sua publicação. Mas também porque não há, nos jornais de hoje, espaço para o humor cáustico do personagem e dos contextos que eram criados em torno dele nas historinhas, que, de politicamente corretas não tinha nada.

Britvs/Katteca era um contundente crítico de duas instituições: a política e a igreja. Não tinha compaixão de padres e pastores nem absolvia presidentes, governadores, vereadores e prefeitos. Muitas vezes passava do limite do aceitável para o padrão sisudo do Grupo Jaime Câmara – a cuja linha editorial, na verdade, fazia uma espécie de contraponto.

Se as sátiras sempre eram malvistas pelos mais conservadores, nos últimos tempos por vezes atingia também questões polêmicas em relação a gênero, sexualidade, etnia, etarismo, entre outras. Vale ressaltar que a vestimenta do Katteca – uma tanga em listras pretas e brancas e um adorno com uma pena na cabeça – já seria, em si, politicamente incorreta nos dias atuais.

No início de 2020, Britvs recebeu um telefonema da redação de O Popular. Tinha sido demitido, mais uma vítima da contenção de gastos com pessoal promovida pela empresa. À época, queixou-se da falta de consideração de, ao menos, ter sido chamado pessoalmente para o comunicado.

Sem Katteca, a página de quadrinhos perdeu muito de seu brilho. Mas, sinal dos tempos, o jornal – não O Popular, especificamente – também já não é mais o mesmo. Em tempos de informações disponíveis em diversas plataformas, o papel vai ficando cada vez mais obsoleto, em um movimento contínuo que não dá o menor sinal de meia-volta.

Nos anais do jornalismo goiano, se algum dia fizerem um compêndio, certamente um verbete deverá ser dedicado a Britvs/Katteca, o cartunista que se fundiu a sua criatura.