Jornal Opção, que Herbert de Moraes criou e Patrícia Moraes renova, segue forte como diário que inclui análise e factual
20 dezembro 2025 às 21h00

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1975. 22 de dezembro. Segunda-feira. Há 50 anos. Nascia o Jornal Opção, hoje pós-balzaquiano, portanto. Os pais? Sim, os pais: Herbert de Moraes Ribeiro e Nanci Guimarães de Melo Ribeiro. Um de seus filhos. O terceiro, depois de Ludmilla Ribeiro e Herbert Moraes Júnior. A quarta filha, Patrícia Moraes, nasceu em 1976.
A história já foi contada, em prosa mas ainda não em verso. Herbert era um leitor atento do que se publicava na imprensa dita nacional. Lia os jornais “Opinião”, fundado em 1972, e “Movimento”, criado em 1975 por dissidentes do primeiro. Era adicto também do “Estadão”, sobretudo, e de “O Globo. Li com interesse a “Gazeta Mercantil” e o “Valor Econômico” (mais tarde se formou em Economia pela PUC-Goiás).
Gestado por Fernando Gasparian — o dono da Editora Paz e Terra —, “Opinião” era um jornal de análise, crítico contundente da ditadura civil-militar.
“Opinião” era um jornal engajado, gestado para vergastar a ditadura. Herbert se inspirou no que o Opinião tinha de melhor, a capacidade de analisar os fatos criticamente. Por isso pensou e fez um jornal com pegada analítica, porém, em termos políticos, mais aberto às opiniões divergentes, sem engajamento ideológico (era defensor intransigente da democracia e um crítico acerbo de golpismos).
Certo dia, na minha presença, o repórter Léo Alves reclamou, de maneira acerba, da opinião de outro colega, José Maria e Silva. Herbert disse: “Transforme sua indignação em texto e, com argumentos, rebata a opinião dele. Não sou censor da opinião e da inteligência alheias”. Ele não tentava impedir a publicação daquilo que discordava — apenas exigia que os artigos fossem bem fundamentados. Tinha um apreço imenso pela divergência inteligente.
O jornalista de opinião precisa ter talento e coragem. Se tiver talento, mas faltar coragem, os artigos saem até bem-escritos mas flácidos. Se tiver coragem, mas faltar talento, os artigos frequentemente serão de má qualidade. — Herbert de Moraes Ribeiro
Pois bem: o país vivia, em 1975, sob a ditadura dos generais, que contavam com apoio de muitos civis — tanto políticos quanto empresários e, até, intelectuais (Roberto Campos, Delfim Netto, Mario Henrique Simonsen, João Paulo dos Reis Veloso, Golbery do Couto e Silva e Karlos Rischibieter. Este tradutor de Rilke).
Era a ditadura do general-presidente Ernesto Geisel — que, mesmo sendo mais moderada do que o “brutalismo das cavernas” dos generais-presidentes Costa e Silva e Emilio Garrastazu Médici, não era nada ditabranda.

No governo de Ernesto Geisel deram-se os massacres de membros de proa do PCB (por sinal, contrário à luta armada) e do PC do B (Angelo Arroyo e Pedro Pomar assassinados, e nem estavam armados) e os “suicídios programados” do jornalista Vladimir Herzog e do operário Manuel Fiel Filho. A liquidação final da Guerrilha do Araguaia ocorreu na gestão do general — que, de acordo com Elio Gaspari, “matou” a ditadura.
Sob o comando de Herbert e José Luiz Bittencourt (um editor notável, de uma perspicácia rara), o Jornal Opção acolheu profissionais de primeira linha, como Anatole Ramos, Carlos Alberto Sáfadi (pelo qual Herbert não nutria nenhuma simpatia, porque, quando Batista Custódio lançou o “Diário da Manhã”, ele cooptou alguns de seus jornalistas), Jayro Rodrigues, Marco Antônio da Silva Lemos (que sempre queria receber antecipado por seus textos. Dizia: “Dinheiro pra cá e artigo pra lá”. Herbert sempre ria dessa história), Haroldo de Britto, Hélverton Baiano e, entre outros, Valterli Guedes.
Goiás era governado por Irapuan Costa Junior — hoje, com mais de 80 anos, colaborador do jornal. O engenheiro fez um governo mais aberto do que imagina a vã ideologia de esquerda. Os excessos da Secretaria de Segurança Pública não estavam sob sua autoridade. Afinal, o secretário, um coronel do Exército, havia sido nomeado pelo governo de Ernesto Geisel. Ele não era, na prática, jurisdicionado à gestão estadual. (Há uma história a se contar: integrantes radicais da Arena tentaram derrubar Irapuan Costa Junior, mas o golpe foi contido por Ernesto Geisel.)
Uma voz da democracia na ditadura
O Jornal Opção nasceu ousado. Em 2025, a sociedade discute corredores exclusivos para ônibus e metrô de superfície na Avenida Anhanguera. Pois, na primeira edição do jornal, o assunto foi amplamente debatido. A redação enviou um repórter a Curitiba para conhecer o que havia então de mais moderno em termos de transporte coletivo. O arquiteto Jaime Lerner foi entrevistado.

O jornal abriu espaços amplos para os intelectuais e escritores escreverem artigos totalmente livres. Entre eles estavam os professores Sérgio Paulo Moreyra, Servito Menezes e Sidney Valadares Pimentel, intelectuais de altíssima qualidade da Universidade Federal de Goiás. José Asmar e Joaquim Rosa, de fora do circuito universitários, publicaram textos memoráveis. O segundo era corrosivo.
Quando alguns jornais do país moitavam o debate sobre a distensão, a Abertura e a Anistia, o Jornal Opção foi pioneiro em abrir o debate em Goiás — com espaço para João Divino Dornelles, entre outros, discutir as questões.
O jornalismo precisa pensar Goiás acima das ideologias e das questiúnculas partidários. A firmeza ao expor o ponto de vista torna o artigo mais substantivo. Já o radicalismo, à esquerda e à direita, empobrece a análise. Fujam do mito de ‘todo mundo está dizendo’. Porque, em geral, não é assim. O bom jornalista não cede ao rebanho. — Herbert de Moraes Ribeiro
Nascido na ditadura, o Jornal Opção sempre foi uma voz da democracia no Estado. Não à toa as melhores entrevistas de militantes e dirigentes de centro, da esquerda e da direita foram concedidas ao jornal. São os entrevistados que dizem isto. Vale perguntar para Aldo Arantes, Adriana Accorsi, Edward Madureira, Rubens Otoni. Nion Albernaz disse para mim, Herbert e Afonso Lopes, na presença de Jorge Taleb: “O que mais gosto é que sempre fico mais inteligente nas entrevistas do Jornal Opção”. O editor não mexia no conteúdo, mas organizava a forma das ideias do então prefeito de Goiânia.
Desde o início, o jornal publicava grandes entrevistas. Herbert e José Luiz Bittencourt conversaram longamente, para citar um exemplo, com Pedro Ludovico. A entrevista é uma delícia, tal inteligência e abrangência das perguntas e das respostas.
Iris Rezende, no ostracismo, deu uma entrevista notável ao jornal — inclusive contando como fazia para contratar trabalhadores braçais para a Prefeitura de Goiânia. Se tivessem calos, estavam contratados.

Durante algum tempo, por decisão editorial de Herbert, o jornal saiu de circulação. Pode-se sugerir que foram umas férias para repensá-lo. Afinal, jornalismo é um vício raro: uma vez experimentado não se larga mais. No caso, jornalismo, o do Jornal Opção, “circulava” pelo sangue de Herbert.
Ênfase total na qualidade analítica
Em 1991, o Jornal Opção voltou às bancas. De novo, com sua pegada analítica. Inicialmente, nos momentos de consolidação, Herbert e Nanci, num Opala preto, articulavam pessoalmente a distribuição do jornal.
Um pouco antes, em 1990, Herbert começou a escrever artigos no “Diário da Manhã”, sob convite de Batista Custódio. Lá nos conhecemos. Ele me contou que, em breve, relançaria o Jornal Opção. “Com o jornal consolidado, vou contratá-lo.”
Em agosto de 1993, há 32 anos, comecei a trabalhar no Jornal Opção como editor-chefe. Mas, desde 1991, eu colaborava com Herbert. Antes de assumir a editoria, criei a coluna Imprensa, que apontava erros da imprensa de Goiás e do Brasil e se tornou extremamente polêmica. Por um curto período e para disfarçar — afinal, eu ainda pertencia aos quadros do “Diário da Manhã” —, chegou a ser assinada pelo diagramador João Spada. Mas era escrita, integralmente, por mim. Nas minhas férias, por José Maria e Silva.

Em 1993, na redação, numa reunião privada, Herbert me disse: “Você tem carta branca para mudar o que quiser. Seja duro”. De cara, acabei com as colunas “Pescaria” — que era assinada por Afonso Lopes — e “Coisas do Além Túmulo”. Esta era assinada por um amigo — cujo apelido era Mãozinha — de Herbert. Então, eu disse: “O jornal está passando por uma reformulação e daqui a seis meses você volta”. O repórter do além concordou. Eu sabia que, seis meses depois, ele próprio já teria esquecido da coluna.
A coluna era muito lida — uma ascensorista do Centro Administrativo reclamou barbaridade de sua extinção. Mas não tinha o perfil do jornal que eu e Herbert queríamos fazer e fizemos. Por isso não hesitamos na “operação limpeza”.
Demos um fim à série de reportagens sensacionalistas com o título de “Crimes que abalaram Goiás”. Proibimos reportagens abusivas — do tipo: “Kajuru sequestrou o dono da Granja Saito e pediu de resgate um caminhão de pintos”. O grande narrador esportivo Antônio Porto e Jorge Kajuru eram “inimigos juramentados”. Então, tive de conter Antônio Porto, nosso colunista. O caso acabou na Justiça, sem ganhadores.
A coluna de política tinha o nome de Boatolândia (era editada por Isanulfo Cordeiro com o apoio de outros jornalistas de “O Popular”, sem assinatura, é claro). Então, para conferir a seriedade necessária, criamos a coluna Bastidores, que, ao longo do tempo, ficou como Herbert queria — menos notícias meramente factuais e mais análises do quadro político local e textos de antecipação jornalística.

Trabalhamos com firmeza no aumento da musculatura das análises do jornal, com mais pegada crítica e densidade intelectual. Nossos editoriais passaram a analisar, de maneira aguda, a política local e nacional.
Continuamos com as grandes entrevistas, incluindo personalidades de várias áreas: Iris Rezende, Maguito Vilela, Marconi Perillo, Ronaldo Caiado, Bernardo Élis (disse à notável repórter Britz Lopes que chegou a pensar em suicídio), Carmo Bernardes, José J. Veiga (cheguei a revisar suas crônicas, no “Diário da Manhã”, a acompanhá-lo nos dias que queria tomar, como dizia, “uma pinguinha”), Antônio Olinto (presidente da Academia Brasileira de Letras), Darcy Ribeiro, Jorge Amado (sua mulher, Zélia Gattai pensou que eu era comunista), José Asmar, José Sarney, Francisco de Britto, Consuelo Nasser (se tivéssemos publicado tudo o que disse, a República goiana cairia; ela mesma pediu cortes), Sebastião Nery, João Cezar de Castro Rocha, Luiz Costa Lima (talvez o principal crítico literário do Brasil), Linda Monteiro, Henrique Santillo, Raquel Teixeira, Nasr Chaul, Luís Estevam, José Wilson (que trabalhou com Leonel Brizola e Jango Goulart em 1964).
As reportagens do jornal eram, em geral, reescritas por mim e pelo redator-chefe José Maria e Silva — que era dono do melhor texto do jornal e um polemista nato. Claro, jornalistas como Rogério Lucas, José Luiz Bittencourt (que voltou à redação e era um craque da análise política, com o qual eu me dava muito bem) e Helvécio Cardoso não precisavam de “copidesque”.
O texto do jornal era impecável porque era revisado por Baltasar, Edna, Priscilla e Bruno Costa (que, mais tarde, se tornou editor da Hedra e da Ex Machina), entre outros, e reescrito pelo editor e pelo redator-chefe.
O suplemento de Cultura, Opção Cultural, que saía com oito páginas, era editado por Miguel Jorge (sob sua batuta, ganhou prêmio da Academia Brasileira de Letras pela qualidade da escrita), José Maria e Silva (sua coletânea de artigos, de alta qualidade, merece figurar em livro) e Carlos Willian Leite (hoje editor da “Revista Bula”, uma publicação de qualidade ímpar).

As reportagens do Jornal Opção se tornaram conhecidas em todo o país. No “Estadão” e, depois, na “Folha de S. Paulo”, Elio Gaspari mencionou nossas matérias ao menos três vezes. O jornal denunciou que as editoras Germinal e Martin Claret publicavam traduções de outras editoras com nomes de tradutores fictícios. O levantamento do jornal ganhou as páginas da “Folha de S. Paulo” (Luiz Fernando Vianna) e da revista “Piauí” (Luiz Maklouf de Carvalho). A tradutora Denise Bottmann, uma das mais qualificadas do país, repercutiu nosso material. A Martin Claret passou a publicar traduções respeitáveis.
Herbert vibrou quando Elio Gaspari (“A Ditadura Encurralada”) e Luiz Maklouf (“O Coronel Rompe o Silêncio”) citaram reportagens exclusivas do Jornal Opção sobre a Guerrilha do Araguaia. Entre outros fatos, o jornal revelou que o guerrilheiro Francisco Chaves (citado no livro “Memórias do Cárcere”, de Graciliano Ramos) foi morto por um cabo do Exército — goiano — durante um confronto. O coronel da Aeronáutica Pedro Cabral concedeu entrevista nomeando a cadeia de comando das Forças Armadas no combate à Guerrilha do Araguaia.
Ex-editor do “Fantástico”, Geneton Moraes Neto, um dos melhores entrevistadores brasileiros, escreveu sobre resenha do Jornal Opção: “Quero que saiba que foi o melhor registro feito na imprensa sobre o nosso livro ‘Dossiê Brasil’. Tive acesso ao artigo pela internet. Guardarei em meus ‘Arquivos Implacáveis’”.
O marinheiro que politizou o Cabo Anselmo, Antônio Duarte dos Santos, deu sua mais longa e consistente entrevista ao Jornal Opção. Então, morava na Suécia. Numa carta, apontou a precisão da transcrição de sua fala.

Conto a seguir uma história no mínimo curiosa. Eu e Herbert criamos a coluna “Sim” e “Não”. A partir de um determinado tema, convocávamos duas pessoas para debatê-lo, com posições contrárias. Descobrimos cedo que era difícil encontrar polemistas adequados para aquilo que havíamos planejado. Eis a revelação: a pedido do Herbert, eu escrevi, para várias pessoas, o “sim” e, às vezes, o “não”.” (optamos por acabar com a coluna). Na época, rindo, lembramos de Oto Lara Resende, que escrevia um artigo em “O Globo” atacando o “Diário Carioca” (ou “Diário da Noite”) e, em seguida, escrevia um artigo no “Diário Carioca” atacando “O Globo”. Ele trabalhava nos dois jornais.
Como me propus a contar histórias de bastidores, eis mais uma: Helvécio Cardoso e o motorista Walter foram para Anápolis fazer a cobertura de um evento público. Lá brigaram. Walter bateu a porta no repórter e quebrou seu nariz. Atordoado, o jornalista não pôde reagir. Walter pegou o carro e, em alta velocidade, capotou-o na rodovia entre Anápolis e Goiânia. Sobreviveu por milagre, digamos. Helvécio pegou um táxi e foi direto para o Hospital de Urgências. Depois, apareceu na redação com o nariz inchado e sangrando.
Nem tudo era pacífico na redação. Helvécio Cardoso e José Maria e Silva também brigaram duas vezes na redação. Felizmente, ninguém saiu machucado. Aliás, a briga se deu mais com palavras que se usa nos momentos de guerras verbais. As mais pesadas e, às vezes, até “simpáticas” (dada a “energia” que as envolviam).
Na chegada à redação, em 1993, perguntei a Herbert: “Há mesmo uma ‘lista negra’ de não-entrevistados?” Ele respondeu: “É folclore. A única restrição é: não entrevistem quem não tem nada acrescentar e só quer usar o jornal para aparecer”. Chequei: não havia nenhuma lista (sim, havia um único nome vetado, e de maneira incontornável). Nós, durante décadas, entrevistamos qualquer um que tivesse alguma coisa relevante a dizer. E continua assim.
Na década de 1990, fizemos a transição das máquinas de escrever para o computador. Eu e Nanci — nossa sempre eficiente e prestativa chefe-geral — retiramos as máquinas e computadores foram instalados. Dois repórteres chiaram. Mas um se adaptou rápido e se tornou um expert em computadores — depois migrando para o notebook. Sebastião Abreu, um senhor de idade, chegou a chorar. Então, permiti que continuasse com sua velha e simpática Olivetti. “Estou aliviado. Se tivesse de escrever neste monstro [o computador], eu teria de pedir demissão”. Rimos e ele continuou na redação.
A equipe de então era composta por (às vezes, em momentos diferentes): Afonso Lopes, Andréia Bahia, Britz Lopes, Clarissa Bezerra, Heloísa Amaral, Helton Lenine, José Luiz Bittencourt, José Maria e Silva, Léo Alves, Luiz Carlos Bordoni, Marcio Fernandes, Rogério Lucas, Sebastião Abreu, Sici Adriana, Wilson Silvestre (diagramador chefe e, depois, colunista). O suplemento de Esporte contava com Rodrigo Czepak (ótimo editor), Edivaldo Barbosa e Robson Macedo. O suplemento de Economia tinha na equipe Abadia Lima (editora competente), Rosane Louza e Enio Vieira (que, mais tarde, fez mestrado em Literatura na UnB e é um crítico literário gabaritado). Guillermo Rivera Botovchenco, que trabalhou como repórter, hoje é diplomata, baseado em Buenos Aires, depois de ter passado pela Colômbia e pelos Estados Unidos.
No grupo de apoio: Cilas Gontijo (motorista que, formado em jornalismo, se tornou excelente repórter), Andréia Rocha (com 30 anos no batente, cuida de todos nós da redação, como diretora financeira e administrativa, com atenção e carinho), Vilma Barbosa (nossa eterna secretária, com quase 30 anos de casa), Alain (que distribuía o jornal), João Spada (diagramador que era uma máquina para trabalhar), Cristina (diagramadora), Nilton Fernandes (diagramador — competente e mal-humorado). Durante anos, Nanci zelou por toda a redação, do micro ao macro, sempre de maneira gentil e eficiente.
A era Patrícia Moraes
Um jornal precisa de continuidade, ou seja, de pessoas novas para tocar o barco adiante. Certa feita, há mais de duas décadas, Patrícia Moraes, então bem jovem, me procurou e disse que queria ser jornalista. Herbert me chamou à sua sala e, com a cara fechada, perguntou: “Euler, me diga a verdade. É você que está influenciando a Patrícia a pensar em ser jornalista? Ele deve estudar medicina”.

Eu disse: “Não, Herbert. Eu não estou influenciando. Ela quer ser jornalista. É sua vocação”. Mesmo irritado, ficou calado, pensativo. Depois, me lembro até hoje, perguntou se eu havia lido a obra de José Carlos Mariátegui, intelectual peruano. Contei que havia lido a biografia que a Editora Brasiliense publicou na coleção Encanto Radical e conhecia um livro editado, salvo engano, pela Ática. Falamos de José Lezama Lima, o poeta e crítico cubano.
Patrícia Moraes escreveu algumas reportagens e percebi, de chofre, que havia um imenso talento nascendo. Bastava burilar.
Então, Patrícia Moraes foi para São Paulo cursar Jornalismo e, em seguida, fez um estágio no “El País”, o jornal mais importante da Espanha e um dos mais conceituados da Europa.
Quando voltou para Goiânia, Patrícia Moraes estava pronta para o exercício da profissão de jornalista. Escreveu reportagens e artigos. Apreciava entrevistar políticos, como Iris Rezende. Nascia, enfim, uma jornalista, com voz própria e poderosa.
Aos poucos, Herbert foi se afastando da redação e da empresa. Até para Patrícia Moraes se firmar como jornalista e dirigente do Jornal Opção. Ele queria que o mercado entendesse que a transição estava feita.
Patrícia Moraes chegou a editar a coluna Bastidores e o fazia muito bem, com informações privilegiadas.
A transição foi inteiramente pacífica? Nem sempre. Mas aconteceu, e foi sempre respeitosa. “Tenho orgulho da Patrícia”, me disse Herbert. “Ela se tornou jornalista e executiva competente. Estou feliz.” Salvo engano, uma lágrima furtiva caiu de um dos olhos, quiçá dos dois.

Considero que a transição de Herbert para Patrícia Moraes foi uma das mais bem-feitas dos empreendimentos de comunicação do país.
Na “Folha de S. Paulo”, Otavinho Frias Filho assumiu e fez mudanças substanciais na redação. Mas morreu com apenas 61 anos. Em “O Globo”, os três filhos de Roberto Marinho sabem escrever, mas optaram por colocar no comando jornalístico profissionais de fora da família.
No Grupo Jaime Câmara, o veterano Jaime Câmara Júnior, hoje com quase 80 anos, passou o bastão para o filho Cristiano Câmara. Depois de fazer ajustes importantes na empresa, Cristiano Câmara decidiu se afastar e o pai, com o apoio de profissionais, reassumiu. Ressalve-se que, se há vocação executiva, não há jornalística na família.
No Jornal Opção, deu-se aquilo que, num primeiro momento, nem esperávamos. Quer dizer: sabíamos da vocação jornalística, mas não da empreendedora, de Patrícia Moraes.
Aos poucos, e daí a sobrevivência longeva ao jornal — e sem traumas —, Patrícia assumiu a direção da empresa. Com pulso forte e organizado. Tornou-se uma administradora eficiente na prática, com o apoio de Andréia Rocha, sua fiel escudeira.
Igualmente importante é que, ao assumir o comando da empresa, Patrícia Moraes não descuidou-se, em nenhum momento, do jornalismo. Ela me lembra Roberto Marinho: está sempre em busca de informações e aprecia conversar com as fontes, às vezes pessoalmente. É uma checadora de primeira linha. Seu grau de exigência às vezes pode surpreender, mas é por isto que os leitores apreciam o Jornal Opção — seu rigor factual e analítico. Ela cobra muito? Não. Ela cobra, sem o advérbio. O que é crucial para manter a alta qualidade da publicação. Aprende e se aperfeiçoa quem segue suas recomendações. Errado é resistir àquilo que é certo.
A transformação do Jornal Opção de semanal para diário se deu sob sua batuta. A edição semanal persiste. Mas o jornal hoje é diário, combinando aquilo que poucos fazem, ao menos em Goiás, informação factual com análise rigorosa dos acontecimentos políticos, econômicos, culturais etc.
Jornais costumam falsear suas identidades, em nome de uma imparcialidade ficcional, mas o Jornal Opção admite que, sim, é um agente político. Assim como os outros. Só que assume o que é e o que faz.
Como gestora e jornalista, Patrícia Moraes é um case de sucesso para a UFG estudar. Trata-se de uma mulher que dirige um jornal extremamente bem-sucedido. Cadê os TCCs, moçada dos campi?
O Jornal Opção é um dos mais lidos de Goiás — superando, por exemplo, o jornal “O Popular”, que está no mercado jornalístico desde 1938. Sobretudo, é um jornal que inspira outros jornais.
Nos últimos anos, Patrícia Moraes criou dois filhos — autônomos — do Jornal Opção: o Jornal Opção Tocantins (equipe: Elâine Jardim, Júlia Carvalho, Rozeane Feitoza e Samir Leão) e o Jornal Opção Entorno do Distrito Federal (equipe básica: Graciliano Cândido e Francisco Neto). Todos com amplo acesso na internet e viáveis financeiramente.
Outro filho está nascendo, aos poucos, mas de maneira consistente: a TV Jornal Opção.
Hoje a redação conta com repórteres, editores e colaboradores: Abílio Wolney (colaborador), Adelto Gonçalves (colaborador), Ademir Luiz (colaborador), Amanda Costa, Andréia Rocha (diretora financeira), Astir Basílio (colaborador, de Moscou), Cilas Gontijo, Célio Galdino, Euler de França Belém, Fábio, Fabrício Vera, Giovanna Campos, Guilherme Alves (o craque da fotografia), Gustavo Soares, Halley Margon (colaborador), Helvérton Baiano (colaborador), Herbert Moraes (de volta a Goiás, depois de 18 anos em Israel cobrindo o Oriente Médio para a TV Record), Igor Ribeiro, Irapuan Costa Junior (colaborador), João Paulo Alexandre, João Reynol, Jô Sampaio (colaboradora), Jorge Jacob (colaborador), Júnior Kamenach, Luan Monteiro, Marco Túlio (motorista), Marina Canedo (colaboradora), Mariza Santana (colaboradora), Patrícia Moraes Machado, Raphael Bezerra, Raunner Vinicius Soares, Roberson Guimarães (colaborador), Salatiel Correia (colaborador), Selma (nossa faz-tudo), Tathyane Melo, Ton Paulo, Vilma Barbosa (secretária).
Quando março chegar, o doutor pela Universidade Federal de Goiás Nilson Jaime publicará a “biografia” do Jornal Opção, num volume alentado, que deve surpreender a todos, inclusive aqueles que o fazem no dia a dia. São 50 anos de história, de grandes histórias.
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