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Há quem acredite que, para comprovar o primado da objetividade, jornalismo é mera transcrição de declarações, que, publicadas, se tornam “fatos”.

Declarações podem conter muitas coisas, inclusive mentiras. Porém, publicadas em jornais sérios, se tornam “fatos”, quer dizer, “verdades”.

Há pouco tempo, Jonathan Dwigth Jones anunciou que estava se aposentando das lutas de MMA. Quem?

Sim, o peso-pesado Jon Jones, Bones (“Ossos”), um dos mais notáveis lutadores da história do UFC.

O poderoso chefão do UFC, o trumpiano Dana White, aceitou a “aposentadoria” de seu “funcionário” mais importante. Aquele que, a rigor, todos querem ver lutar. Até porque a atual safra whitiana, se não é fraca, não é das mais empolgantes.

Qual é o jogo real por trás da “aposentadoria”, revelada por Jon Jones, e da aceitação da aposentadoria, por parte de Dana White?

Simples: com o apoio da mídia, que aceita e publica tudo, os dois estavam — e estão — blefando.

Jon Jones, que fará 38 anos no dia 19 de julho, sabe que ainda é cedo para se aposentar. Milionário, se administrar bem a fortuna que amealhou (é farrista), poderá ficar sem trabalhar até o fim de seus dias.

Porém, se lutar por mais dois anos, até os 40 anos, poderá dobrar ou triplicar sua fortuna.

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Tom Aspinall: um lutador duro para Jon Jones | Foto: Reprodução

Mesmo relativamente velho, para os padrões das lutas de MMA, Jones Jones ainda não é “escada” para lutadores mais jovens, como o britânico Thomas Paul Aspinall — Tom Aspinall —, de 32 anos e 1,96. Trata-se de um lutador de ponta, que, quando entra no octógono, mobiliza milhões de telespectadores pelo mundo todo.

O que realmente quer Jon Jones? Mais dinheiro. O que quer Dana White? Gastar menos com o lutador.

Então, para conseguir um contrato mais favorável, Jon Jones precisa pressionar Dana White. Como? Deixando-o na mão, ao anunciar que se aposentou.

Pela leitura do material publicado pela mídia global, Dana White não aceitou a pressão de Jon Jones e se conformou com sua aposentadoria. É assim mesmo?

Nada disso. Dana White é um empresário atilado que entende tudo de lutas e negócios. Ninguém, no momento, pode render tanto dinheiro para o UFC quanto Jones Jones, um lutador carimástico e, na vida pessoal, cheio de altos e baixos — o que o torna complexo e, sim, interessante. Há drama na sua vida. Não é unidimensional.

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Dana White e Donald Trump: tratativas por luta de MMA na Casa Branca | Foto: Reprodução

O ardiloso Dana White sabe que Jon Jones quer mais dinheiro e Jonathan Dwigth Jones sabe que o ex-pugilista Dana Frederick White Jr., que fará 56 anos em 28 de julho, também quer mais dinheiro.

Então, tanto Jon Jones quanto Dana White estão “esticando” a corda. O resultado final é que haverá pelo menos mais duas lutas do astro negro, de 1,93m.

Jon Jones quer mesmo lutar contra a revelação Tom Aspinall? Claro, seria uma grande luta. Uma batalha sem favoritos. Porque ambos são excelentes lutadores. Mas a experiência de Bones, com seus cotovelos de aço, podem fazer a diferença.

Mas a guerra — sim, guerra — que todos esperam é outra. Os amantes de MMA cobram a presença de Jon Jones e do camaronês Francis Zavier Ngannou, de 1,93m, no octógono.

A luta que realmente faz sentido para Jon Jones, na altura do campeonato da vida, é com Francis Ngannou. O camaronês é mais forte e o americano é mais ágil e tem um repertório maior.

Tal luta é a que Dana White realmente quer. Empresários verdadeiros só têm raivas provisórias. Francis Ngannou hoje está na PFL, da qual se tornou campeão depois de derrotar o goiano Renan Problema, no primeiro round.

Siga o rastro do dinheiro: Bones versus White

O presidente dos Estados Unidos, Donald John Trump, de 79 anos, não quer morrer sem assistir uma luta na área da Casa Branca.

Em 2026, com bandeiras e fanfarras, os Estados Unidos vão comemorar os 250 anos de sua Independência. Lá, dos seus túmulos impecáveis, o que diriam, se pudessem, os primeiros presidentes — George Washington, John Adams, Thomas Jefferson, James Madison e James Monroe?

Bill Clinton e Barack Obama aconselhariam, por certo, espetáculos de jazz e música erudita. Donald Trump certamente avalia que Kafka é comida árabe ou persa.

Donald Trump quer comemorar os 250 anos de Independência — ocorrida em 4 de julho de 1776 — com lutas. Faz algum sentido. Afinal, os americanos do Norte tiveram de lutar, e muito, contra a Inglaterra para se tornarem autônomos.

A fala da D. J. Trump: “Alguém assiste ao UFC? O grande Dana White. Vamos fazer um evento do UFC nos jardins da Casa Branca. Temos muita terra aqui. Dana vai fazer, ele é ótimo, único. Vamos ter um evento do UFC, uma luta por cinturão, com 20, 25 mil pessoas. Isso também vai fazer parte das comemorações de 250 anos”.

Ao saber da proposta de Donald Trump, Jon Jones, de imediato, desaposentou-se. Quer lutar. Certamente, vai lutar. Contra quem? A previsão é Tom Aspinall. Mas no horizonte de Jon Jones e Dana White há outro nome mais certamente rentável: Francis Ngannou. Há contratos? Qual não pode ser rompido?

Aos fatos, então: Jon Jones nunca se aposentou, apesar das declarações. A “briga” toda com Dana White é por dinheiro. E quem tem razão? Bones, é claro. Porque é a grande estrela do UFC. Os demais são coadjuvantes.

“Siga o rastro do dinheiro” (“follow the Money”), recomendou Mark Felt, o Garganta Profunda, aos jornalistas que revelaram escândalo conhecido como Watergate, Bod Woodward e Carl Bernstein, e contribuíram para a renúncia do presidente Richard Nixon, em 1974. A mídia, porém, às vezes segue apenas o rastro das declarações, do oficialismo.