João Cezar de Castro Rocha talvez esteja equivocado ao dizer que o bolsonarismo foi ferido de morte

19 julho 2025 às 21h01

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João Cezar de Castro Rocha, mais do que crítico literário e ensaísta, está se tornando um pensador tanto da cultura quanto da política patropi. Aprendi muito com este mestre informal, por meio de seus livros (por exemplo: “Bolsonarismo — Da Guerra Cultural ao Terrorismo Doméstico: Retórica do Ódio e Dissonância Cognitiva Coletiva”), a respeito de Machado de Assis e das guerras culturais das direitas, como a bolsonarista, que se tornou extrema direita.
A crítica refinada do (ao) bolsonarismo e suas guerras culturais — ou inculturais, digamos — surge, em larga medida, a partir das análises de João Cezar de Castro Rocha. Suas análises chegaram ao livro, mas também foram e são feitas em entrevistas, debates e postagens nas redes sociais.
Quando vejo um texto (ou entrevista) de João Cezar de Castro Rocha, sobretudo se longo, procuro imprimi-lo para ler cuidadosamente — uma ou mais vezes. Como editor do Jornal Opção, sugeri à redação entrevistá-lo várias vezes.

Pode-se sugerir que João Cezar de Castro Rocha se tornou-se um crítico militante do bolsonarismo, o que não me incomoda em nada. Porque o fato de ser militante — engajado, do contra — não equivale a ser primário, simplista. Com disse, o professor refinou a crítica ao pensamento e ações da extrema direita brasileira. Fez o seu retrato à perfeição.
Se fosse leitor — talvez não tenha lido nenhum livro em seus longos 70 anos —, o ex-presidente Jair Bolsonaro ficaria mesmerizado com as análises perspicazes de João Cezar de Castro Rocha. Certamente, diria: “Me biografou”.
É provável que Bolsonaro seja líder (e beneficiário) de um movimento — de uma guerra cultural — que sequer entende direito. A leitura dos livros de João Cezar de Castro Rocha poderia ajudá-lo a se entender.
Entretanto, na semana passada, li, nalgum lugar, um dito de João Cezar de Castro Rocha que não me parece preciso: “Bolsonaro e o bolsonarismo estão feridos de morte”.
Ao propor taxar, a partir de agosto, os produtos brasileiros em 50%, com o objetivo de prejudicar o país e o governo de Lula da Silva, do PT, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, decidiu “ajudar” a direita bolsonarista. Acabou dando com os burros n’água.

Porque, longe de beneficiar Jair Bolsonaro, o acenourado Trump jogou os brasileiros contra o bolsonarismo e os Estados Unidos. Os brios do país tropical abençoado por Deus ficaram, com razão, feridos.
Ante a possibilidade de fuga, com a provável ajuda da Embaixada americana, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, mandou a Polícia Federal colocar tornozeleira eletrônica em Jair Bolsonaro. Outras restrições sinalizam que, de alguma maneira, o ex-presidente está sob prisão domiciliar ou, por assim dizer, no sistema de semiaberto.
Mas já se pode assinar o atestado de óbito do bolsonarismo? Não. Ainda não. É preciso esperar um pouco mais.
A eleição de 2026 será o verdadeiro divisor de água. Se a direita bolsonarista for mal, perdendo de maneira acachapante, se poderá concluir que, de fato, foi “ferida de morte”.
Antes do pleito de 2026, é precipitado indicar que, dadas as circunstâncias desfavoráveis, o bolsonarismo está “morto” ou “morrendo”.
A morte do bolsonarismo seria positivo para o país porque poderia levar ao renascimento de uma direita civilizada e não golpista. Isto é possível? É. E é bom para a democracia que se tenha uma sólida direita democrática. Assim como uma forte esquerda democrática.
Com direita e esquerda dialogando, sem estabelecer a ideia de que uma deve destruir a outra — numa espécie de perversão sadomasoquista —, talvez seja possível firmar um centro pendular que puxe todos para a democracia.