História não conseguiu apagar a sufragista, feminista e compositora negra Almerinda Gama
29 novembro 2025 às 21h00

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Em um misto de reportagem e resenha, sob o título de “Livro faz jus a Almerinda Gama, sufragista negra apagada pela história”, Angela Boldrini, da “Folha de S. Paulo”, conta a história de Almerinda Farias Gama (1889-1999 — viveu 99 anos).
O livro de Cibele Tenório, “Almerinda Gama — a Sufragista Negra”, da jornalista Cibele Tenório, saiu pela Editora Todavia, com 277 páginas.
A “Folha” diz que a alagoana Almerinda Gama foi sindicalista, jornalista e feminista. A Wikipédia amplia o currículo: foi advogada, poeta, pianista, compositora (de 90 músicas, 29 localizadas: valsa, baião, samba, coco), política, tradutora do espanhol, do inglês e do francês, atriz, professora.
Almerinda Gama foi dirigente do Partido Socialista Proletário do Brasil (PSPB). Em 1944, sua canção “Quem chora comigo” fez sucesso.

Em 1932, o presidente Getúlio Vargas — que havia chegado ao poder por meio de um golpe de Estado — concedeu, via decreto, o direito de as mulheres votarem e serem votadas.
Concedeu? Não é a palavra precisa. Porque havia uma luta da sociedade, notadamente das mulheres, pelo voto feminino. Getúlio Vargas cedeu às pressões populares e organizadas. Não deu um presente às mulheres brasileiras.
Entre as sufragistas estava, na linha de frente, a jornalista e feminista negra Almerinda Gama. Ela batalhou ao lado, de maneira firme, da presidente da Fundação Brasileira pelo Progresso Feminino, Bertha Luz, e de Carlota de Queiroz, a primeira deputada federal do Brasil.
Angela Boldrini diz que Almerinda Gama mereceu menção na “Folha de S. Paulo” apenas em 1987. Esquecida, só reapareceu em 1994 (volta ser citada em 2025 — 31 anos depois!). Uma crítica sutil da repórter, mostrando que o “apagamento” é generalizado, e não apenas “articulado” por forças reacionárias.

À diferença das feministas mais elitizadas, Almerinda Gama atribuía papel crucial à sua militância sindical.
Almerinda Gama defendia o divórcio
Se Bertha Lutz tangenciava a questão do divórcio, Almerinda Gama posicionava-se inteiramente a favor nos textos que escrevia para jornais. De certo modo, era mais avançada, moderna. A sufragista nordestina era viúva.
Uma pequena parte da arte da compositora Almerinda Gama — mulher de uma versatibilidade impressionante — pode ser conferida abaixo. A pianista Renata Cortez Silva executa duas músicas da sufragista: “Acalanto” e “Lamento”.
O livro de Cibele Tenório merece ser lido, pois recupera, para a história do Brasil e do mundo, uma mulher de fibra e de imenso talento — que felizmente não foi apagada pela história. Pelo contrário, brilhará cada vez mais.
Duas músicas de Almerinda Farias Gama
Acalanto por Renata Cortez Sica (https://www.youtube.com/watch?v=b_-a2BDx3g0)
Lamento por Renata Cortez Sica (https://www.youtube.com/watch?v=sCDnRWGPusI)
