A guerra entre Israel e Irã deixou vários “indicativos” tantos políticos e militares quanto jornalísticos.

Os Estados Unidos, se não conseguiram pôr fim à batalha entre a Ucrânia e a Rússia — afinal, o país de Vladimir Putin tem a bomba atômica, daí sua imensa força —, mostraram, no Oriente Médio, que ainda são o xerife do mundo.

O país de Theodore Roosevelt atacou o Irã, quase de maneira simbólica, no lugar onde o país persa — e não árabe — estaria se preparando para construir suas armas nucleares.

Ao que parece, o país dirigido por Donald Trump quis apenas dar recados.

Primeiro, para o Irã — que não teve usar a energia nuclear para fins de guerra, sobretudo para destruir Israel. Os xiitas sabem que o país de Benjamin Netanyahu está sob a proteção atenta dos americanos.

Segundo, há um recado para Israel: o país dos judeus precisa obedecer ao seu magno protetor.

Benjamin Netanyahu: primeiro-ministro de Israel clamou por socorro aos EUA | Foto: Reprodução

A respeito exclusivo da guerra, que Israel venceu, no geral, há um recado não muito positivo para o vitorioso. O Irã atingiu áreas antes não atacadas por nenhum outro país, como Tel Aviv, que costumam chamar, pelo alto grau de segurança, de “a bolha”.

Como se viu, bolha não há. Os ataques do Irã foram contundentes e só não deram resultados mais positivos por causa da tecnologia de Israel para se defender — contando, inclusive, com o apoio dos Estados Unidos.

O recado negativo é: Israel pode ser atacado. Porque o Irã está bem armado. Não é nenhuma galinha morta. Não é o Hamas. Não é o Hezbollah. Por ser um dos maiores produtores de petróleo, estocou armas de qualidade — compradas da Rússia e, quem sabe, da China — e pode comprar muito mais.

Fiquei com a impressão de que, a partir de certo momento, pintou um leve “desespero” em Israel — que clamou pelo apoio norte-americano.

Ali Khamenei: o racionalismo superou o fanatismo | Foto: Redes sociais

O Irã terá, um dia, armas nucleares? Se tiver, Israel estará, sem meias palavras, “frito”.

Então, o país persa não pode ter armas nucleares, nem mesmo para ter equilíbrio de forças — dissuasão — com Israel, que, assim, como Estados Unidos, Rússia, China, Índia e Paquistão, tem ogivas nucleares.

Há quem postule que os gestores iranianos-xiitas são “fanáticos”. No caso, ao aceitar imediatamente as regras determinadas pelos Estados Unidos, mostraram, ao contrário, que são racionalistas.

Entre morrer e assistir a derrocada do regime dos aiatolás, os homens de Estado do Irã recuaram e aceitaram colocar fim à guerra. O racionalismo, derivado do pragmatismo, prevaleceu.

Os iranianos também perceberam que, ante o poderio dos Estados Unidos, a Rússia de Vladimir Putin só pode ajudá-los com palavras — vãs palavras —, mas não com apoio direto, efetivo, na linha de frente dos combates.

Imprensa praticamente não cobriu a guerra

Danuza Mattiazzi
Danuza Mattiazzi, da GloboNews

Como avaliar a cobertura da imprensa brasileira e internacional? Retirando as análises, quase sempre tardias, a imprensa patropi e global cobriu malíssimo a guerra entre Israel e o Irã.

Por que a imprensa piorou? Não. Porque os governos, notadamente o do Irá — e, em parte, o de Israel —, mantiveram os jornalistas à distância.

Pode se falar em análises brilhantes, tanto da imprensa inglesa — “The Guardian” e “Economist” — quanto da imprensa americana — “New York Times” e “Washington Post”. A imprensa israelense publicou reportagens e análises de qualidade, com alto grau de objetividade.

Mas o que faltou mesmo, na cobertura desta guerra, foi a velha e necessária reportagem. Repórteres em campo, com grandes histórias — ou até histórias menores —, não aparecem nesta guerra. Dava uma tristeza ver repórteres da Globo e da GloboNews “reportando” a partir de ruas da Europa e dos Estados Unidos.

Danuza Mattiazzi, da GloboNews, mesmo com o rosto muito tenso e assustado, ainda tentou reportar, com certa distância (por motivo de segurança), o ambiente de Israel durante os ataques.

Com o fim da guerra — que persistirá como a guerra fria do Oriente Médio —, espera-se que a imprensa assuma seu papel e comece a contar as histórias que não pôde relatar durante as batalhas. Qual a real dimensão dos ataques do Irã em Israel e deste naquele? Cadê as histórias das pessoas — dos mortos e feridos? O que os indivíduos comuns têm a narrar?

Se as redes de televisão não foram muito bem, tanto as patropis quanto as estranjas, a imprensa de texto não investiu fortemente na cobertura factual, exceto nas obviedades divulgadas por todos.

Para resumir em poucas palavras, na cobertura da guerra entre Irã e Israel, a imprensa, toda ela, foi pega com as calças nas mãos. Desculpe-me o leitor o palavreado não refinado.

A batalha do Oriente Médio exibiu a imprensa como a barata tonta da hora — refém do oficialismo israelense, iraniano e americano.