Fundado por Herbert de Moraes há 50 anos, o Jornal Opção supera O Popular em acesso
13 dezembro 2025 às 21h00

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Na década de 1990, possivelmente em 1998, Herbert de Moraes Ribeiro (1943-2016) convocou a redação e disse: “Precisamos colocar o Jornal Opção na internet, integral e gratuitamente. O futuro chegou e é inescapável. Sinto na pele, o ‘sangue’ do jornal corre nas minhas veias, que é preciso avançar”. Todos concordaram.
Herbert havia comprado livros de informática e os estudava com afinco (conversava, durante horas, com os dois editores, eu e José Maria e Silva, a respeito). Ao mesmo tempo observava com atenção os avanços da “Folha de S. Paulo”, de “O Globo” e do “Estadão”. “Não podemos ficar para trás”, alertou.

Aos poucos, com as leituras sobre tecnologia sedimentadas, Herbert começou a procurar apoio técnico para criar um site para o Jornal Opção. A internet do jornal e da casa de Herbert “caía” com certa frequência. Por isso, procurou assistência profissional na Net American, em 1998, em Goiânia.
Na Net American, foi atendido por um garoto de 27 anos. Era Willian Barbacena de Oliveira, que, além de técnico afiado da área de informática, era cantor sertanejo. Desde jovem, escondia a careca com um boné. Ficava irritado quando alguém passava e arrancava seu boné. “Deixe o menino em paz”, bronqueava Herbert.
Herbert começou a conversar com Willian sobre criar o site do Jornal Opção e informou que precisava comprar uma fonte exclusiva para as reportagens. Porque não era adicto de pirataria — que, na época, estava na moda.
Um dia, durante toda a tarde, Herbert e Willian examinaram os sites dos jornais do país. “A curiosidade, a paciência e a determinação de Herbert me impressionavam. Ele era, acima de tudo, um inovador.” (Willian lembra que, possivelmente em 2009, conversou com Herbert sobre bitcoins. “Se tivéssemos comprado, estaríamos ricos.”)
No dia 4 de maio de 1999, com o apoio de Willian, Herbert registrou o domínio do Jornal Opção (www.jornalopcao.com.br). Era o primeiro passo.
Willian apresentou outro garoto para Herbert, Adonai Andrade — que, aos 15 anos, já havia publicado um livro de poesia e, tal como o amigo, era um craque no campo da informática. Um expert autodidata. Em 1999, tinha 25 anos.
Herbert, Willian e Adonai começaram a conversar sobre a criação do site do Jornal Opção e outros aspectos da internet. “Lembro-me que Herbert estava muito interessado em trocar o Windows pelo Linux, que era gratuito”, sublinha Willian. (Assisti algumas reuniões: os três eram tão empolgados com tecnologia e conversavam tão vivamente sobre o assunto que até pareciam meninos discutindo sobre jogos.)

Nas conversas, o grupo discutia se a imprensa iria cobrar ou não pelo acesso de sua produção jornalística. Herbert insistia: “Precisa ser gratuito, livre”.
“Herbert estava na vanguarda. Tanto que insistia que, além de gratuito, todo o conteúdo do jornal impresso deveria ser disponibilizado na internet — com a possibilidade de ser renovado diariamente”, assinala Adonai.
O primeiro site do Jornal Opção foi desenvolvido por Adonai Andrade e André Roveri. Adonai informa que o primeiro layout do portal teria sido criado por Clayton Miranda. “Eu e André tínhamos experiência no assunto. No caso do jornal, trabalhamos como freelancers, não por uma empresa”, conta Adonai.
Em 1999, pouco depois de jornais de São Paulo e Rio de Janeiro, o Jornal Opção chegou à internet. De cara, foi um tremendo sucesso — com o aumento de contatos nacionais e internacionais. O jornal se tornou um dos mais lidos de Goiás. Era uma referência sobre o Estado para todo o país. Tanto que, logo depois, suas reportagens começaram a ser citadas em livros de pesquisadores importantes, como Elio Gaspari — “A Ditadura Encurralada” — e Luiz Maklouf, “O Coronel Rompe o Silêncio” (sobre a Guerrilha do Araguaia).

O Jornal Opção na internet não era outro jornal, mas era, por assim dizer, um renascimento. Porque, de alguma maneira, a internet contribuiu para reconfigurá-lo, para torná-lo mais forte, abrangente e, claro, muito mais lido. Não retirou sua “alma” — a opinião, a análise — e aumentou a força de seu “corpo” (mais material de qualidade para os leitores).
A dupla Adonai & André cuidou do site do Jornal Opção por quase dez anos. Os jovens atualizavam a programação, seguindo as renovações tecnológicas, e se responsabilizavam pela inserção do conteúdo no site. “Herbert não aceitava que a edição impressa saísse no domingo e a versão para internet na segunda-feira. Então, o site nasceu atualizado. Quando a edição impressa circulava nas bancas, a on-line já estava disponível aos leitores.”
Nos finais de semana, Adonai e André se revezavam na operação para colocar todo o jornal na rede. Eles recebiam o conteúdo em CD/DVD e postavam. “Com o avanço da tecnologia, passamos a receber os arquivos por meio do Messenger”, relata Adonai.

“Herbert não era um garoto, mas era tão moderno a atento às novidades quanto nós”, postula Willian. “Ela tinha uma formação teórica que poucos tinham. Mesmo pessoas da área de informática, se conversassem com ele, ficariam impressionadas com seu profundo conhecimento. E ele era insistente — queria saber e controlar todos os saberes da área. Sabia tanto que, se quisesse ser hacker, seria. Tinha uma capacidade extraordinária de armazenar informações e repassá-las adiante.”
Quando foi criado o suplemento “Informática”, Adonai e Willian eram seus redatores e editores. Eu e José Maria e Silva éramos responsáveis pelo crivo final, pela normatização, por assim dizer, do texto.
Formado em Economia, apaixonado por Filosofia, História e Informática, Herbert era um empresário e jornalista moderno. Por isso, não deixou o Jornal Opção ficar para trás. Hoje, o jornal que criou em 1975, há 50 anos, é mais acessado na internet do que “O Popular”, jornal criado em 1938, há 87 anos.
Dirigido por Patrícia Moraes Machado, filha de Herbert, o Jornal Opção continua na vanguarda do jornalismo, não apenas em Goiás, e sim no país — onde é muito lido. Aliás, é lido em vários países, como Estados Unidos, Inglaterra, China, Argentina, Alemanha, entre outros.
O Jornal Opção mantém a edição impressa, que circula aos domingos, mas é diário na arena digital.
