Fotógrafo prefere tentar salvar criança a produzir uma foto talvez premiável

21 abril 2017 às 11h56

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Na Síria, um fotógrafo deixa a câmera de lado, carrega um menino e o leva até uma ambulância

Diante de um fato que está ocorrendo e pode ser modificado por sua ação, o que deve fazer um repórter ou um repórter fotográfico? Deve pensar unicamente como profissional, em busca de prêmios e ascensão profissional, ou pode e deve agir como cidadão, como um ser humano? Cobra-se que o jornalista, e o fotógrafo é um jornalista que “escreve” com sua câmera, seja frio, objetivo. Mas não se pode exigir que seja cruel e desconsidere a dor alheia única e exclusivamente para obter um furo, para produzir espetáculo sobre o sofrimento. Há quem diga, como Janet Malcolm, que a profissão de jornalista é indefensável. A frase é boa e eventualmente verdadeira, mas não sempre verdadeira.
No sábado, 15, em Aleppo, Síria, depois de um atentado suicida — 126 pessoas (68 crianças) morreram —, o fotógrafo sírio Abd Alkader Habak optou por deixar a câmera de lado e socorrer uma criança. O profissional levou-a até uma ambulância. “Olhei e vi que ele ainda estava respirando, o peguei em meus braços e saí correndo em direção à ambulância. Não sei se ele sobreviveu, eu fiz o que pude. Só sei que ele foi levado ao hospital.”As imagens de Abd Alkader Habak chorando e, em seguida, socorrendo o menino tornaram-se, como se costuma dizer, icônicas (são fortes, dolorosas e, devido ao gesto, belíssimas). Uma prova de que, mesmo sob uma guerra cruenta, que sacrifica mais inocentes do que não-inocentes, há um rastro de humanidade nos indivíduos. A crueldade excessiva (inclusive a praticada pelos Estados) no Oriente Médio naturaliza, por vezes, a violência — tornando-a, de tão óbvia e permanente, quase aceitável. Entretanto, como prova a ação do fotógrafo, nem todos perdem a sensibilidade.