Equívoco de Aécio Neves sobre o que é ser de esquerda… Lula é de esquerda
06 dezembro 2025 às 21h00

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Recentemente, na CNN Brasil, o deputado federal Aécio Neves, presidente do PSDB, cometeu um equívoco — encanecido clichê político — a respeito do presidente Lula da Silva. (Jornalistas não deveriam se tornar taquígrafos.)
De acordo com Aécio Neves, Lula da Silva, do PT, não é de esquerda. “Nunca foi um homem de esquerda.”
O PT e Lula da Silva seriam, na avaliação de Aécio Neves, de “centro-esquerda”. A inspiração do PT e do presidente seria a socialdemocracia europeia.
De fato, no poder, ao se moderar, o PT e Lula da Lula ficaram com a imagem de centro-esquerda. Porém, como há um centro relativamente forte no Brasil — para além do Centrão —, o PT e o presidente nunca foram de centro-esquerda.
Mais prudente e apropriado é sugerir que Lula da Silva e o PT permanecem no campo da esquerda. A esquerda democrática. Quer dizer: Lula da Silva é de esquerda, mas não é comunista. É um equívoco grave avaliar que, para ser de esquerda, é preciso, obrigatoriamente, ser comunista.

O poder deu a Lula da Silva lições de realismo político. O presidente sabe que, administrando um país capitalista, não há como adotar medidas socialistas. O pragmatismo político deu cinco vitórias do PT para a Presidência da República. Talvez porque os eleitores entenderam que, mesmo sendo de esquerda, o PT não planejava implantar medidas semelhantes às colocadas em prática na União Soviética, com resultados desastrosos.
A reforma agrária promovida pelo PT cria proprietários, quer dizer, sedimenta o capitalismo. A reforma agrária comunista coletivizou as terras, dando um papel central ao Estado — o que nunca se pensou fazer no Brasil de FHC e Lula da Silva.
O PSDB nasceu, como o próprio indica, como partido socialdemocrata. Da esquerda de centro. Porque, depois de Fernando Henrique Cardoso, sucumbiu?
Primeiro, porque seu espaço, no campo da esquerda moderada, acabou sendo ocupado pelo PT, que constituiu, não apenas um partido, mas movimentos de apoio permanente (o PSDB nunca teve militância ativa, exceto no campo intelectual).
Segundo, porque, sem Fernando Henrique Cardoso, além de outros intelectuais formativos do partido, o PSDB se tornou um partido comunzão, dominado por políticos pragmáticos e sem muitas luzes, como o próprio Aécio Neves.
Por certo, Aécio Neves pensa que, ao dizer que Lula da Silva nunca foi de esquerda, o prejudica eleitoralmente. O que é outro equívoco do político de Minas. Na verdade, se um adversário diz que o presidente não é comunista (ou melhor, de esquerda), isto o ajuda mais do que atrapalha.
Bons tempos em que Minas mandava para o país políticos da estirpe de Juscelino Kubitschek, Milton Campos e Tancredo Neves. Agora há, entre outros, Nikolas Ferreira (um bobinho espertinho), Romeu Zema (que nem sabe quem é a poeta Adélia Prado) e Aécio Neves. Tempos, mesmo com Neves, sombrios.
