Os dois jornalistas, um de direita e o outro de esquerda, terão espaço para expressar suas opiniões, segundo a rede

Criou-se o mito de que jornalismo deve ser “isento” e “independente”. Não é uma coisa nem outra. Jornalismo pode até não ser partidário, mas não é isento. O que se deve prescrever ao bom jornalismo não é que seja “imparcial”, e sim que lute para ser o mais objetivo possível, abrindo espaço para a pluralidade das ideias e posições. De resto, frise-se que muitos dos que clamam por isenção são, no geral, os menos isentos e imparciais.

A CNN Brasil contratou dois jornalistas experimentados, Alexandre Garcia, de 79 anos (31 deles na TV Globo), e Sidney Rezende, de 61 anos (20 deles no Grupo Globo), para apresentar o quadro “CNN — Liberdade de Expressão”, nos telejornais “Novo Dia” (às 7 horas) e “Visão CNN” (às 13 horas), a partir de segunda-feira, 27. Os dois vão responder a perguntas dos âncoras.

Alexandre Garcia e Sidney Rezende: pluralidade na CNN Brasil | Foto: Reprodução

Segundo a CNN, Alexandre Garcia, apontado como de “direita”, e Sidney Rezende, mencionado como de “esquerda”, terão liberdade para expressar seus pontos de vista sobre política, economia, cultura, comportamento. O objetivo é compartilhar visões opostas aos telespectadores.

A CNN está certa ou equivocada? Não está equivocada. Talvez pela primeira uma rede de televisão escancara que é possível acolher pensamentos diferentes a respeito dos fatos. A rede está dizendo que é isenta? Não. Está tão-somente abrindo espaço para a divergência. Há quem acredite que, ao nuançar sua opinião, o objetivo seria mais acolher o pensamento do bolsonarismo. Pode até ser. Mas antes assim do que nada.

O Jornalismo da Globo e da GloboNews é de alta qualidade, mas deixa a impressão de que não abre espaço para uma visão nuançada do governo do presidente Jair Bolsonaro. Parece acolher, com certo prazer, todas as visões contrárias ao governante de direita. Parlamentares de esquerda, inclusive de sua porção radical, ganharam amplo espaço na rede da família Marinho depois que se tornou uma espécie de “adversária” número um do presidente. Fica uma pergunta: a Globo abriria espaço para um jornalista defender as ações de Jair Bolsonaro (e não se está falando de defesa de ditadura — que é um horror)?