Elon Musk e Steve Bannon acenam ao sistema totalitário nazifascista contra a democracia

22 fevereiro 2025 às 21h00

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Philip Roth (1933-2018) escreveu um romance, “Complô Contra a América” — trata-se de ficção, é necessário ressaltar —, no qual mostra que o presidente Franklin Delano Roosevelt foi “derrotado” por um candidato de direita, Charles Lindbergh (1902-1974), o piloto de avião mais famoso dos Estados Unidos entre as décadas de 1930 e 1940.
No poder, Charles Lindbergh, com ideias próximas às dos nazistas, firmou uma parceria com o chanceler da Alemanha, Adolf Hitler. Nos Estados Unidos, judeus “foram” espancados nas ruas. O presidente-piloto se tornou uma espécie de “representante” do nazismo na América do Norte.
A imaginação poderosa de Philip Roth, ao mostrar o que os Estados Unidos poderiam ter se tornado, no caso da ascensão de um político pró-nazista a presidente da República, é útil esclarecer sobretudo àqueles que acreditam que as sociedades só avançam, rumo ao melhor. Infelizmente, não é assim.

Como nota o filósofo britânico John Gray, a história é tão cheia de avanços quanto de recuos. O nazismo é um recuo histórico tremendo. O comunismo-stalinismo, que a esquerda apresentou como avanço, representou um retardo histórico — em termos de economia, liberdade de expressão, direitos humanos e democracia.
Entretanto, para o bem da democracia, Franklin D. Roosevelt não foi derrotado por Lindbergh, que nem mesmo o enfrentou. Mas o romance é um alerta sobre a possibilidade de a extrema direita, de matiz nazifascista, assumir o poder em países fortes, como os Estados Unidos e a Alemanha.
Os que brincam com a história, subestimando o potencial da extrema direita, acabam por contribuir para “queimar” a democracia. É a (triste) realidade.
Entre os fins da década de 1920 e início da década de 1930, os comunistas alemães atacaram os socialdemocratas — tachando-os de socialfascistas — e a incompreensão da história, dos fatos em cima da hora, contribuiu para fortalecer os nazistas.

No poder, Hitler perseguiu, de maneira implacável tanto comunistas quanto socialdemocratas, porque não aceitava nenhuma oposição, nem a mais leve e moderada. O regime nazista era totalitário, ou seja, excluía a participação de qualquer outra força política.
Nem toda direita é nazifascista. Por vezes, nem toda extrema direita é nazifascista. Há uma direita moderada, que ajuda no jogo de contrapesos da democracia. Porque não quer excluir a democracia. Direita e esquerda fortes podem, ao gerar equilíbrio, fortalecer o sistema democrático.
Já a extrema direita é, com frequência, uma espécie de abra-te sésamo para regimes totalitários, que planejam excluir as demais forças políticas e seus agentes.
Ao planejar matar — sim, assassinar — o presidente Lula da Silva, do PT, o vice-presidente Geraldo Alckmin, do PSD, e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, o bolsonarismo se comportou como estrutura paramilitar e totalitária, inteiramente avessa à democracia.
Saudável na democracia é a alternância de poder, com a direita ou a esquerda — ou o centro — vencendo os pleitos. Não importa quem vença. O que importa é que o resultado, se legal, não seja questionado.
O bolsonarismo, por não aceitar a vitória de Lula da Silva, em 2022, inventou a farsa da fraude eleitoral, de urnas fraudáveis, e, por fim, decidiu operar para arrancar o petista-chefe do governo, à força — inclusive articularam seu assassinato, que felizmente não ocorreu.
Donald Trump, Elon Musk e Steve Bannon

O reacionarismo está em voga não apenas no Brasil. Em dois dos países mais desenvolvidos do mundo a direita, nos Estados Unidos, e a extrema direita, na Alemanha, estão cada vez mais fortes.
Na posse do presidente Donald Trump — por enquanto, de direita, mas caminhando para a extrema direita —, o bilionário Elon Musk, dono da Tesla, da Space X e do X, fez um gesto semelhante (estendendo um braço) ao dos nazistas, que governaram a Alemanha de 1933 a 1945, com uma ditadura cruenta (mataram 6 milhões de judeus e gestaram uma guerra que ceifou a vida de 60 milhões de pessoas, ou até mais — fala-se em 80 milhões).
Os avós maternos de Elon Musk eram nazistas e francamente favoráveis ao regime do Apartheid na África do Sul. O rei das big techs tem, portanto, em que se inspirar, além de Hitler e Benito Mussolini.
Se Philip Roth, judeu, estivesse vivo certamente se assustaria com o que aconteceu num evento na quinta-feira, 20, na Conferência de Ação Política Conservadora (Cpac), em Washington. O personagem da hora é Steve Bannon, ex-estrategista de Donald Trump. Os dois chegaram a romper, mas o “marqueteiro” sempre foi uma figura inspiradora para o presidente republicano.

Ao terminar seu discurso na Cpac, Steve Bannon levantou o braço direito, estendeu-o, com a palma da mão virada para baixo. Por mais que se possa negar, trata-se de uma saudação nazista (também de agrado dos supremacistas brancos norte-americanos).
A política exige símbolos que unifiquem grupos e indivíduos. O gesto de Elon Musk e Steve Bannon é uma sugestão de que as direitas estão se unindo. Não demora, quem sabe, e Eduardo Bolsonaro, em alguma reunião pública, poderá acabar imitando os dois representantes da extrema direita conservadora. Parece que é um “sinal” global.
Steve Bannon disse que, daqui a quatro anos, Donald Trump deverá concorrer a um terceiro mandato. Constituição americana veda que um político seja presidente por mais de duas vezes. “Queremos Trump em 2028”, frisou o “marqueteiro”. O republicano terá 82 anos, mais do que Joe Biden em 2024, quando foi derrotado pelo rival direitista.
Como Donald Trump poderá ser presidente dos Estados Unidos três vezes se a lei não permite? Há dois caminhos. Primeiro, o legal, com a mudança da Constituição. Segundo, por meio de um golpe de Estado. Só que, neste caso, nem se teria eleição.
Franklin D. Roosevelt foi eleito quatro vezes consecutivas. Mas, na época, a lei permitia. Então, foram quatro vitórias democráticas e positivas para o país. Com o New Deal, o presidente democrata arrancou os Estados Unidos da depressão e recuperou a economia, fortalecendo o capitalismo no país.
Depois de Roosevelt, uma emenda mudou o jogo político, e para melhor, ou seja, um político só pode ser presidente duas vezes. O que evita a formação de oligarquias.
Steve Bannon acrescentou: “Nós tivemos uma grande vitória aqui [nos Estados Unidos] e estamos ganhando no mundo todo, certo? A próxima parada é a Alemanha. Posso pedir que a AFD (partido de direita alemão) se levante. Queremos saudá-los”. Com o braço levantado à Hitler, claro.
Políticos não “brincam” e falam sério mesmo quando contam piadas. Donald Trump — na sua versão (como) xerife global —, Elon Musk e Steve Bannon não estão brincando. O “ídolo” Hitler talvez esteja mesmo no horizonte do trio.
Mas oxalá a democracia acabe por vencer tanto nos Estados Unidos quanto na Alemanha. Aliás, em qualquer lugar.