A Justiça condenou a Rede Record, do bispo Edir Macedo, e seu ex-diretor de recursos humanos Márcio Santos a pagarem 500 mil reais ao jornalista Elian Matte.

A condenação judicial decorre do assédio sexual que Elian Matte sofreu por Márcio Santos.

A sentença foi proferida pela juíza titular da 31ª Vara do Trabalho de São Paulo, Solange Aparecido Gallo. A magistrada, apesar de ter entendido que houve crime trabalhista, não aprovou o pedido dos advogados de Elian Matte de indenização de 3 milhões de reais. O jornalista, decidiu a Justiça, não será integrado aos quadros da Record.]

A juíza Solange Galle negou o pedido alegando que não havia clima na rede que pertence à Igreja Universal do Reino de Deus — leia-se Bispo Edir Macedo — para que Elian Matte retornasse à redação da Record.

A demissão de Elian Matte ocorreu em março do ano passado, após suas denúncias à polícia e ao Ministério Público de São. O jornalista relatou as investidas — de caráter sexual e de vigilância — do ex-diretor Márcio Santos.

O assédio de Márcio Santos começou em 2022, logo que Elian Matte foi transferido para o “Câmera Record”, ancorado por Roberto Cabrini, como editor-executivo.

A sala de Márcio Santos ficava próxima à redação na qual Roberto Cabrini e sua equipe trabalhavam. Com a entrada de Elian Matte para o time do repórter investigativo da Record, o ex-diretor de Recursos Humanos da emissora passou a convidá-lo para reuniões secretas em sua sala.

O relacionamento entre Elian Matte e Márcio Santos acabou “esquentando”. Os assuntos teriam ido além do profissional. Os dois passaram a conversar por WhatsApp.

De acordo com a denúncia do jornalista, Márcio Santos passou a ser mais incisivo na abordagem dentro da emissora, a ponto de controlar seus passos por todo complexo da Record por intermédio de câmeras de segurança. Os diretores têm acesso às imagens por meio de um aplicativo de celular.

Márcio Santos, de acordo com a denúncia de Elian Matte, checava principalmente quando ele ia ao banheiro. Segundo o jornalista, o executivo exigia, várias vezes, em tom de ameaça, que voltasse excitado ao deixar os sanitários para que pudesse ser filmado.

A revista “Piauí” revelou a história de maneira detalhada, o que mudou a configuração do caso.

Elian Matte tentou alertar seus chefes — de Roberto Cabrini ao vice-presidente de Jornalismo, Antônio Guerreiro — a respeito do que estava acontecendo.

Segundo a denúncia, tanto Roberto Cabrini quanto Antônio Guerreiro, informados por Elian Matte, se omitiram, possivelmente porque Márcio Santos, ligado à Igreja Universal, era um executivo poderoso dentro da história da Record.

Outros diretores da Record foram informados do assédio por Elian Matte. No entanto, também se omitiram.

Ante a falta de apoio, com todos lavando as mãos, Elian Matte registrou uma boletim de ocorrência na polícia contra o diretor de Recursos Humanos por assédio sexual.

Versão de Márcio Santos, o ex-executivo da Record

Mesmo ante as evidências — e a história era conhecida nos corredores e salas da Record — Márcio Santos contrapôs que a denúncia de Elian Matte não procedia. Alegou que tudo não passada de uma grande brincadeira. Ele teria sido vítima de “falsas alegações”.

A Record parece que não concordou com a explicação de Márcio Santos, tanto que o demitiu e, ao mesmo tempo, foi proibido de frequentar a Igreja Universal.

Conta-se, nos bastidores da Record, que Márcio Santos sentia-se orgulhoso por ter passado pelo sistema religioso de “cura gay” da Igreja Universal.

Elian Matte, que esperava ser “protegido” pela Record, também foi demitido.

As duas partes, a de Elian Matte, e a de Márcio Santos e da TV Record recorrer. O primeiro foi insistir num aumento da indenização. O executivo e a Record podem tentar uma redação da indenização.