Duda Lima, marqueteiro de Bolsonaro em 2022, diz que direita erra demais e está perdida

04 outubro 2025 às 21h00

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Diferentemente da esquerda bolsonarista, Duda Lima — marqueteiro da campanha do ex-presidente Jair Bolsonaro em 2022 — não põe a ideologia como óculos para examinar os fatos. Pelo contrário, procura examiná-los cuidadosa e criticamente.
Numa entrevista para o e-book “Quem será o próximo presidente?”, de “O Globo”, Duda Lima diz coisas que são úteis tanto para as diretas quanto para a esquerda.
Jair Bolsonaro é de direita, mas não é “a” direita. Então, se a direita “perder” tempo com a defesa do ex-presidente — e de seus familiares, como Eduardo Bolsonaro —, corre o risco de não perceber o quadro real do país. O presidente Lula da Silva está se distanciando, tomando, para si, a expectativa de poder.
Ninguém é imbatível, mas, na conjuntura, Lula da Silva, do PT, está com a faca e o queijo nas mãos. Está se preparando para comê-lo. As direitas, pouco gulosas?, assistem, de longe, desatentas.
Duda Lima acerta quando frisa que a direita erra quando foca “em temas como a anistia” — para os golpistas de 8 de janeiro de 2021 — e não na avaliação do governo Lula da Silva. Urge ressalvar: os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado, do União Brasil, e de Minas Gerais, Romeu Zema, do Novo, articulam críticas a gestão do petista-chefe.

Por que Jair Bolsonaro perdeu a eleição para Lula da Silva, em 2022, estando no poder? Duda Lima aponta “eventos circunstanciais”, como o ex-deputado Roberto Jefferson “atacando policiais federais com granadas a uma semana do segundo turno” (nem citou Carla Zambelli, a deputada que sacou uma arma e ameaçou atirar num jornalista negro).
Quer dizer, a direita criou elementos que contribuíram para fortalecer a esquerda em 2022. Agora, em 2025, a direita, a bolsonarista, está, mais uma vez, entregando o ouro aos petistas.
O tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e a atuação anti-soberania do “ianque” Eduardo Bolsonaro — que prefere prejudicar o Brasil para tentar “salvar” o pai, Jair Bolsonaro — são as novas granadas nos pés dos opositores do PT. A eleição será disputada daqui a um ano.

“A direita errou demais. ‘Ah, se não tiver mais anistia, vai ter tarifaço’. Eu não concordo com isso. Por acaso o povo vai pagar essa conta? Tem gente da direita achando que é isso mesmo, o que confunde as pessoas. Elas se perguntam: ‘Então eu defendo o Donald Trump ou ataco?’ Fica uma confusão generalizada. A direita acabou se perdendo em um momento em que o governo é que estava perdido”.
Lula da Silva não estava “morto” politicamente, mas não sabia o que fazer. Tanto que trocou de secretário-ministro da Comunicação para tentar encontrar um caminho tanto para o governo quanto para revigorar a imagem de Lula da Silva.
Nada vinha dando muito certo, ainda que a comunicação do governo Lula da Silva tenha melhorado (antes, a rigor, nem havia, exceto um simulacro). Aí apareceram no telhado dois elefantes — Donald Trump e Eduardo Bolsonaro, equivalentes a Roberto Jefferson e Carla Zambelli em 2022.
De acordo com texto do repórter Thiago Prado, de “O Globo”, Duda Lima convenceu o PL a criticar “a ineficiência do governo” de Lula da Silva “no combate à inflação no primeiro semestre” de 2025. O marqueteiro também planejou críticas contundentes aos desvios no INSS e a roubalheira do dinheiro dos idosos-aposentados. O profissional diz que, inexplicavelmente, “a direita parou de apontar os erros do governo”.
“Não se fala mais dos problemas do governo. Quanto mais temas com o julgamento do Bolsonaro ou anistia se estenderem, pior para a oposição. Quem queria que o ex-presidente fosse condenado, já sabe em quem vai votar. Quem não queria, também. Há uma coluna do meio que deveria estar sendo impactada com os erros e acertos do governo. Se continuarmos nesses temas apenas, lá na frente não estaremos mais debatendo se o terceiro mandato de Lula foi bom ou ruim”, postula Duda Lima.