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O jornalista e escritor italiano Roberto Saviano é perseguido pela Camorra, a máfia napolitana, desde que publicou o livro “Gomorra” (levado ao cinema com o mesmo título). A obra mostra a violência da organização criminosa na Itália, notadamente em Nápoles, e seus negócios escusos.

Giovanni Falcone e Paolo Borsellino juízes italianos
Giovani Falcone e Paolo Borsellimo: assassinados pela máfia italiana | Foto: Reprodução

Jurado de morte, Roberto Saviano vive escondido e sob proteção policial desde 2006. Não tem sossego e perdeu sua vida pública.

Na Itália diz-se que as máfias — são várias, umas maiores, outras menores — não perdem a memória. Sempre mantêm ativo o caderninho da vingança. Ao longo do tempo, tem atacado jornalistas e matado rivais e até magistrados, como Giovanni Falcone e Paolo Borsellino.

Roberto Saviano: sob ameaça permanente da Camorra, a máfia napolitana | Foto: Reprodução

O crime organizado é tão forte na Itália que há quem o veja como uma instituição. Está enraizado na sociedade. As máfias lidam com drogas e, entre outros, negócios imobiliários. O pé na ilegalidade sustenta o pé na legalidade e vice-versa. Quem atravessa seu caminho, seja jornalista ou juiz, corre o risco de ser assassinado.

“Estamos chegando perto” — é o recado

Na sexta-feira, 17, o crime organizado deu um “recado” para o jornalista investigativo Sigfrido Ranucci, da RAI, emissora de televisão pública.

Carro de Sigfrido Ranucci 1
O automóvel destruído de Sigfrido Ranucci | Foto: Reprodução

Uma bomba explodiu o automóvel de Sigfrido Ranucci, que não estava dentro do veículo. A fachada da casa do jornalista também foi atingida, assim como o carro de sua filha. O fato aconteceu a 20 quilômetros de Roma.

Sigfrido disse ao “Corriere della Sera” que, poucos minutos antes da explosão, sua filha havia passado perto do veículo. “Poderiam tê-la matado”, acrescentou.

“A potência da explosão foi tamanha que poderia ter matado alguém que estivesse passando ao lado no momento”, disse o “Report”.

Queriam matar Sigfrido Ranucci? É provável que querem matá-lo, mas o atentado atual talvez seja mais um aviso. Um alerta de que a morte avizinha-se, sobretudo que é possível. “Estamos chegando perto” — é o recado.

Giorgia Meloni: a primeira-ministra da Itália | Foto: Reprodução

Sigfrido Ranucci dirige o programa investigativo “Report”, na RAI, que denuncia o crime organizado e corruptos. Ele vive sob proteção policial. Mas, como mostrou o atentado, a proteção não tem sido suficiente.

A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, publicou uma declaração solidarizando-se com o jornalista. A política apontou o que chama de “grave ato de intimidação”.

“A liberdade e a independência da informação são valores da nossa democracia aos quais não podemos renunciar, e que continuaremos defendendo”, disse Giorgia Meloni.