Defensores de cachorros não devem exigir censura de artigo do jornalista André Forastieri

04 outubro 2014 às 09h20

COMPARTILHAR

O homem, mesmo quando não religioso, matou Deus e postou-se como centro do universo. Deus é apenas uma espécie de instrumento que lhe garante a superioridade e, mesmo, impunidade. Num mundo “humanocêntrico”, as demais espécies são descartáveis. “Salvar” a humanidade significa isto mesmo: “salvar” os homens. As demais espécies merecem um rodapé-obituário na história da ciência.
Uma discussão clássica de como e por quê o homem se tornou o deus da Terra pode ser encontrada no livro “Cachorros de Palha” (Record, 255 páginas), do filósofo inglês John Gray. Trata-se de um ensaio brilhante, sem uma gota de pieguice.
O escritor Jonathan Safran Foer escreveu um livro de não-ficção, “Comer Animais” (Rocco, 319 páginas, tradução de Adriana Lisboa), no qual mostra o que acontece nos frigoríficos e granjas. É difícil não usar a palavra “monstruoso”.
Diante de estudos sérios, como os de John Gray e Safran Foer, só resta dizer que o artigo “Seu cachorro é burro e você é porco”, de André Forastieri, é apenas uma diatribre com o objetivo de provocar polêmica. “O que desprezo é esse monte de donos dos cachorros folgados e porcalhões. Se você quer tratar seu bicho como gente, divirta-se na sua patetice. Quer impingir sua prepotência ao resto de nós, o animal é você”, afirma o jornalista, no artigo publicado no portal R-7.
Imediatamente, organizações que defendem os animais, notadamente cachorros, passaram a cobrar que o artigo fosse excluído do portal. O texto, de fato, é pobre, mas há mesmo proprietários de cachorros que são “folgados” e, admito, “porcalhões”. Ademais, trata-se da opinião do autor. Censurá-lo é de uma estultice das mais primárias. Vive-se numa democracia, no Brasil, mas quase sempre tem alguém sugerindo que o Estado porte-se como ditador.
Os que discordam de André Forastieri devem rebatê-lo, até duramente, mas não devem pedir ou exigir a supressão do artigo. “Minha Luta”, de Adolf Hitler, é um livro deplorável, mas, no lugar de proibir sua circulação, é mais saudável que seja lido e criticado. O mal não desaparece porque o Estado, por meio da censura, o “esconde”.