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Nos tempos de Mario Sergio Conti, André Petry e Jerônimo Teixeira, a revista “Veja” era responsável por resenhas de qualidade. Além dos resenhistas internos, como Roberto Pompeu de Toledo e Jerônimo Teixeira, a publicação da Editora Abril convocava críticos externos, como Cristóvão Tezza, Miguel Sanches Neto e Astier Basílio (residente em Moscou).

Aos poucos, as resenhas foram desaparecendo. Aqui e ali, o editor publica um comentário sobre livros, em geral anódino, sem nenhuma relevância. Aparentemente, o objetivo é apenas divulgar a obra. Noutras palavras, a revista parece que está apenas cumprindo tabela.

Livros de alta qualidade, em geral de prosa, ganham um micro destaque na seção “Veja Recomenda”. Na coluna, são publicadas sínteses que, no geral, mal explicam o livro.

Na “Veja” que passou a circular na sexta-feira, 24, há um comentário de quase dez linhas sobre o romance “Dança dos Enganos” (Companhia das letras, 256 páginas), de Milton Hatoum.

Cotado para ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, Milton Hatoum é um dos mais importantes escritores universais — não apenas brasileiros. Portanto, merece mais do que meras nove linhas.

O comentário é tão curto que seu autor se contenta unicamente em resumir o enredo do romance. O leitor da revista não fica sabendo nada da arquitetura do livro. Se o autor inova, se se mantém escravo da tradição etc.

Veja resenha do livro de Milton Hatoum
A íntegra da micro resenha da revista Veja | Foto: Jornal Opção

Ressalve-se que, na mesma edição, há uma resenha maior sobre um livro do escritor italiano Primo Levi. A publicação está correta, claro, pois se trata de um escritor realmente crucial e com uma história pessoal extraordinária (sobreviveu a Auschwitz e, paradoxalmente, se suicidou, em 1987).

Entretanto, como Primo Levi morreu há 38 anos, a “Veja” poderia ter publicado primeiro uma resenha a respeito do livro de Milton Hatoum. Em seguida, publicaria o comentário sobre o escritor italiano, autor do notável “É Isto um Homem?”, sobre a vida (a sua) no campo de extermínio de Auschwitz.

A gestão de Maurício Lima, como diretor de redação-editorial da “Veja”, não tem sido positiva para as literaturas global e brasileira. As boas, claro. Porque Dan Brown, autor de best-sellers de segunda linha, ganhou até as influentes “Páginas Amarelas”.